Tenho a minha
tia gravemente doente. A minha tia não tem nome, porque ela é intemporal e
única. Quando, cá por casa, se diz “a tia”, todos sabem quem é. A tia é a
matriarca que a todos serve de exemplo. Mulher destemida, determinada e
trabalhadora, que desde cedo aprendeu que a vida não se põe com
contemporizações. Nasceu no tempo da fome, nos anos trinta do século passado.
Atravessou a segunda grande guerra e, por isso, a tia sabe o verdadeiro
significado da palavra crise. Levantava-se com as galinhas para tecer
juntamente com a mãe, minha falecida avó.
A tia
casou e cedo enviuvou, tendo ficado com quatro filhos para criar. E assim fez,
pois nunca sucumbiu perante as adversidades. Sobreviveu a tudo com uma
tenacidade e coragem admiráveis!
Para mim, a tia
é tão forte que é imortal! A tia que me habituei a ver do alto dos seus oitenta
e três anos enxutos, sempre rija, bem-disposta na lida da casa e nada queixosa
é perene. Quando essa eternidade terrena é abalada, sinto-me incrédula e
impotente. Estremeço ao pensar que ela pode ser-nos levada, assim, repentinamente,
sem que possa protestar.
Não sei o tempo
que nos privilegiará com a sua companhia, mas sou incapaz de afastar a ideia de
que pode ser o princípio de um fim ao qual nenhum de nós pode fugir. De
repente, os seus oitenta e três anos ganham um peso imenso de que ninguém se
lembrou…
De qualquer
modo, haja o que houver, só quero que o resto do tempo seja ameno e que lhe
traga o sossego que merece, ainda que isso a enerve, porque gosta de bulir.
Estar sentada a descansar nunca foi o seu forte.
Fortes seremos
todos, para que não veja lágrimas, apenas sorrisos naqueles com quem estará
para sempre!
Nina M.
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