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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 5



Tenho a minha tia gravemente doente. A minha tia não tem nome, porque ela é intemporal e única. Quando, cá por casa, se diz “a tia”, todos sabem quem é. A tia é a matriarca que a todos serve de exemplo. Mulher destemida, determinada e trabalhadora, que desde cedo aprendeu que a vida não se põe com contemporizações. Nasceu no tempo da fome, nos anos trinta do século passado. Atravessou a segunda grande guerra e, por isso, a tia sabe o verdadeiro significado da palavra crise. Levantava-se com as galinhas para tecer juntamente com a mãe, minha falecida avó.
A tia casou e cedo enviuvou, tendo ficado com quatro filhos para criar. E assim fez, pois nunca sucumbiu perante as adversidades. Sobreviveu a tudo com uma tenacidade e coragem admiráveis!
Para mim, a tia é tão forte que é imortal! A tia que me habituei a ver do alto dos seus oitenta e três anos enxutos, sempre rija, bem-disposta na lida da casa e nada queixosa é perene. Quando essa eternidade terrena é abalada, sinto-me incrédula e impotente. Estremeço ao pensar que ela pode ser-nos levada, assim, repentinamente, sem que possa protestar.
Não sei o tempo que nos privilegiará com a sua companhia, mas sou incapaz de afastar a ideia de que pode ser o princípio de um fim ao qual nenhum de nós pode fugir. De repente, os seus oitenta e três anos ganham um peso imenso de que ninguém se lembrou…
De qualquer modo, haja o que houver, só quero que o resto do tempo seja ameno e que lhe traga o sossego que merece, ainda que isso a enerve, porque gosta de bulir. Estar sentada a descansar nunca foi o seu forte.
Fortes seremos todos, para que não veja lágrimas, apenas sorrisos naqueles com quem estará para sempre!

 Nina M.




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