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sábado, 28 de março de 2020

Despedida

Assim tão súbita esta despedida
Sem tempo para a despedida
Apenas o silêncio 
De palavras que sempre ficam por dizer
O abraço que ficou por estreitar
O beijo que não adoçou o rosto
Ou os lábios de alguém quem sabe?
Ai de quem morre no desgosto
Da despedida não poder ter!
Mas se ela viesse mansa e lenta
Não seria menos grave ou dorida
Menos ausência sofrida
Continuaria assim... 
Uma despedida!







Crónica de Maus Costumes 174


O MEC e as suas diatribes

Gostaria muito de poder evitar este assunto, mas continua na ordem do dia e os disparates que vou ouvindo e lendo são tantos que a paciência esgota-se…
Sou frequentemente acusada, cá em casa, de não ter meio-termo. Ou tudo ou nada! Ou oito ou oitenta! Talvez nalguns assuntos assim seja, mas noutros vejo-me bastante ponderada e racional! É como a questão de ser faladora: depende dos dias, da companhia e da vontade, que não é sempre a mesma… Aliás, depois de muito observar, constato que afinal, nem sou tanto assim!...
Nestes dias, quem percorre as redes sociais assiste a dois tipos de neurose dos profissionais de educação, que é como quem diz professores: ou se desfazem em lamúrias devido à exaustão psicológica e emocional pela situação em que se encontram e quase nos parecem uns desvalidos sem sorte na vida ou colocam-se nos antípodas disto e vangloriam-se pela sua modernidade e facilidade de adaptação aos novos tempos e oportunidade para colocar em prática a tão desejada flexibilidade, apesar de ninguém saber muito bem como fazê-lo, principalmente nesta situação! Depois, vem a tutela, com a suas habituais mãos: a esquerda cheia de nada e a direita vazia!
Quanto ao primeiro caso, caros colegas, compreendo o vosso cansaço. Também gostaria de pisar a minha sala de aula (talvez haja uma que eu dispensasse, pensando bem…) mas de todas as outras tenho saudade! Gostaria imenso de poder abraçar e dar um beijinho e um abraço apertado a muitos dos meus colegas (escuso de vos referenciar… Sabeis muito bem quem sois!), também passo boa parte dos dias a escrever e-mails, enviar e-mails, preparar tarefas, corrigir tarefas, corrigir testes (tive tempo de dar os que estavam previstos), conferenciar com os alunos, com os colegas, enfim… fazer o trabalho o melhor que posso nesta fase difícil e completamente inesperada, tal como todos vós! Acresce que também sou mãe e também tenho de controlar os e-mails, que chegam até à exaustão, com fichas e tarefas!
_ Ó mãe, mãe, mãe, mãe! Como faço para enviar isto? E agora esta ficha… O que é para fazer nesta pergunta?!
_ Calma! Irra! Que me gastam o nome e eu sou só uma e também estou a trabalhar!
Continuo a ser inteiramente professora em casa e não consigo despir a farda! Cansa. Como cansa!… No entanto, não sou mulher de muitas lamúrias. Como ter a desfaçatez de me lamentar perante os milhares que têm que enfrentar o maldito vírus de frente, sempre preocupados com os que deixam em casa, com receio de lhes poder trazer a doença para dentro de portas?! Ah! Quase esquecia… Há alguém nessas condições em minha casa! Como lamentar-me sabendo das doze ou catorze horas que os profissionais de saúde fazem, muitos deles sem irem a casa para estarem com os seus?! Pensando nisto, a gritaria dos meus quase me parece melodia afinada!
Depois, penso no segundo grupo, que também me consegue encolerizar, os profissionais que adoram expor evidências, ufanos da sua competência, profissionalismo e modernidade!
- Ah! Os meus alunos estão a adorar esta modalidade!
Aqueles para quem o ensino à distância é a oitava maravilha e tecem rasgados elogios à potencialidade dos recursos tecnológicos como estratégia a utilizar no ensino! Para esses só me apetece gritar:
- Eu quero a minha sala de aula! Quero o relacionamento interpessoal e poder olhar os alunos nos olhos! Por boa que seja a ferramenta, nada substitui o calor humano! Pobres de espírito os que ainda não aprenderam nada com a covid-19! Vai para a sala e usa a tecnologia e então assim é que te vais sentir o máximo! Ufa!...
Finalmente, a tutela! Tanto tempo para esboçar um documento com diretrizes de ensino à distância?! Francamente, meus senhores, quase tudo o que escreveram, as escolas já estão a implementar sem a vossa colaboração! Na aflição, as escolas, na figura dos seus diretores e com a colaboração dos seus profissionais docentes e não docentes trataram de minimizar o impacto desta crise! A tutela assistiu de cadeira, soube enviar o recadinho de que ninguém estava de férias, observou e aplaudiu o empenho, que normalmente caracteriza a classe nestas ocasiões. Às vezes até há quem seja mais papista do que o Papa! Na verdade, o que nós precisamos de saber ainda não sabemos: como vai funcionar exatamente o terceiro período? Haverá seleção de matérias para os anos sujeitos a exames? Haverá prolongamento de datas para realização dos exames? O terceiro período será alargado? Garantem todas as condições de equidade para que os alunos possam acompanhar o ensino à distância?! Ah! Nem todos os meninos têm computador! Alguns nem Internet têm! O que diz a tutela? Resolva a escola, estabeleça parcerias com as autarquias, como quem diz, nós fazemos como Pilatos e lavamos as mãos (bem que é preciso esse cuidado de higiene nos dias que correm)! A maioria dos meninos tem telemóvel… Já se desenrasca e todos sabemos como o português é extremamente célere no desenrascanço e na boa vontade! Contudo, já agora… À tutela já lhe ocorreu estabelecer parcerias com os prestadores de serviço da Internet para que os alunos possam ter pacotes de acesso ilimitado, por exemplo?! Não?! Quem o deverá fazer? São também as escolas?! Talvez isso não interesse para nada e o fundamental seja criar mais uma equipa de monotorização e avaliação de boas práticas, que no final do ano letivo elabore mais um relatório, mais um papel, para que o MEC fique com a evidência de como correu tudo bem, apesar de alguns constrangimentos… Afinal, a tutela coordena extraordinariamente bem sem grande esforço, lá diz o ditado: “Vale mais um bom mandador do que um bom trabalhador!” Comprovadíssimo, meus caros senhores!
Finalmente, passada esta histeria coletiva ensandecida, que tenhamos a sorte de olhar à nossa volta, para os nossos lares, e podermos concluir que a tragédia da morte não nos atingiu! E assim, talvez todos os relatórios e preocupações desmesuradas com o que é importante, mas apenas secundário, possam fazer algum sentido! Há quem possa ter três ou quatro meses da vida suspensa e há os que podem perder a vida definitivamente…
Pela vossa saúde e dos outros, permaneçam em casa!
Nina M.



quinta-feira, 26 de março de 2020

A tragédia da existência

Esta angústia de existir
De ser alma alada
Emparedada 
Vive o silêncio
Vive no silêncio aberto para fora
Alheio a si olha as ruas vazias
Desertos da existência
Violento peso trágico
Necessário à sobrevivência
Sem máscaras 
Sem adornos 
Sem hipocrisias
Humanidade ofendida
no orgulho incauto da sabedoria
Conforto burguês e garantido
Arrancado
Liberdade cerceada
O vírus... o vírus purulento que mata
Os velhos estarrecidos pelo pavor
Enquanto jovens ostentam saúde
Os velhos teimosos que se julgam imortais
Ou que se sabem mortais e aguardam a foice...
Vidas em alvoroço nesta calmaria
Sem armas
Sem tecnologia
Sem destruição ambiental
Nova peste negra bafienta
Doença rançosa
Ó retrocesso!
Ó débil condição humana!
Ó tragédia da existência:
Ó morte!

sábado, 21 de março de 2020

Crónica de Maus Costumes 173



Heróis sem capa nem espada

Nas muitas viagens que faço dentro do meu ser, constantemente me deparo com o facto de ser apaixonada pelos anti-heróis dos livros.
Eu não gosto propriamente do super-homem ou do Batman nem do Rambo… Prefiro aquelas personagens recolhidas cheias de si num vazio solitário deprimente, mas que comovem.  Gente com boa índole, mas com defeitos e que fazem a vida aos tropeções. Talvez por isso as personagens de Dostoiévski sejam fascinantes. Carrego o deplorável Raskolnikov e a sua Sonja como duas sombras há anos. Será que o homem sobrevive ao crime que comete mesmo acreditando que este é moralmente correto? Inteligente, o estudante comete o crime perfeito (convencido de que todos os homens superiores cometeram assassinatos em nome de um bem maior para a humanidade), mas é corroído pelo remorso. Após o assassinato da senhoria que o atormentava com a sua dívida, ele fica em estado febril e em delírio. Embora se convença de que não sente culpa, a redenção, que surge após a confissão do crime, revela o oposto. Se a sua consciência lhe dita que agiu de forma correta, a sociedade condena-o e Raskolnikov vive o pânico de ser descoberto pela mãe e pela irmã. Eis que surge o conflito entre o “eu” e a sociedade e “Crime e Castigo” adquire, desta forma, a faceta de um ensaio filosófico sobre a relação do indivíduo com a sociedade que o cerca. A personagem está convencida de que agiu corretamente, mas o medo de que a sua mãe e a sua irmã possam descobrir o que considerariam um ato vil está presente. O romance comprova que a moral ou a ética (para quem preferir um conceito mais laico) por mais que seja do foro individual, correlaciona-se com a sociedade, principalmente com os círculos mais íntimos do indivíduo. Desta forma, a possibilidade de dececionar alguém que nos é querido, poderá ter enorme influência nas nossas escolhas. Teria Raskolnikov assassinado a velha senhoria se a mãe e a irmã estivessem com ele em S. Pitsburgo? Raskolnikov não evitou a sua natureza nem tergiversou na sua autenticidade, realizando o que o seu íntimo dizia ser o correto. Afinal, ele, destinado a grandes realizações, via-se impedido de triunfar por falta de dinheiro. A velha usurária não faria falta à sociedade, bem pelo contrário. Nesta certeza, a personagem agiu e assumiu as consequências do terrível ato: consumiu-se em culpa, apesar de a recusar, até à confissão do crime.
Há, na personagem, a atração pelo abismo de todos os anti-heróis. Percebe que o trajeto será sinuoso, mas algo o impele a trilhá-lo. No meio dos despojos, sobra sempre a enorme coragem de se confrontar a si mesmo com o pior de si e a consciência desoladora de não o poder evitar. Talvez fosse mais fácil, mas como também diz José Régio:

“Vem por aqui- dizem-me alguns com olhos doces,
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: “vem por aqui”!
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos meus olhos, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali…
            (…)
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos…”

            É esta coragem imensa e rara que me comove e espanta nestes heróis sem capa nem espada. O desígnio triste da fatalidade que sabem não poder evitar, mas com a consciência de que é tudo o que possuem e que todo o contrário é nada, pois apenas significaria perderem-se de si mesmos.

Nina M.









sexta-feira, 20 de março de 2020

Neste tempo suspenso

Neste tempo suspenso
De espera indesejada
Voo em sonho longínquo
Sem que dele espere nada
São moinhos de água corrente
Que lhe trazem poesia
São as suas mãos nas dela
Que lhe dão a alegria
Tão suave sussurrar
Conta-lhe um segredo ao ouvido
Eram as águas a correr
Era capaz de o jurar
Não o seu amor rendido
E a menina que foi outrora
Que julgou adormecer
Faz em si aparição 
É despertar de nova aurora
Treme toda de emoção
Que não deixa transparecer
Mas toda ela é luar
Sabe a arte do poeta
Tudo saber dizer
Mas sem nada revelar




terça-feira, 17 de março de 2020

Humanidade

Para acabar esta tristeza
Para debelar a solidão
É deixar que o vento
Entre corpo dentro
É deixar que o sol 
Aqueça o coração

Há que cultivar a nossa alma
Fazer do imprevisto uma lição
Enfrentar o dia com toda a calma
Não nos deixarmos abater pela aflição...

A saudade pode ser emoção terna
Aprender a dar valor ao garantido
Saber que nada na vida é eterno
Sem querer podemos mesmo ter perdido

Para acabar esta tristeza
Para debelar a solidão
É deixar que o vento
Entre corpo dentro
É deixar que o sol 
Aqueça o coração

Deixemos o amor ser o novo leme
Do navio de um mundo por achar
Seja o princípio não o fim da humanidade
Porque quando o homem quer pode salvar

Para acabar esta tristeza
Para debelar a solidão
É deixar que o vento
Entre corpo dentro
É deixar que o sol 
Aqueça o coração

domingo, 15 de março de 2020

Esperança

Aguardo a luz do sol poente
Como quem espera El- Rei!
Adormeço o meu olhar
Só para em ti mergulhar, ó mar!
São as ondas os braços que me embalam
E desmaiam no corpo meu
Leves, frescas, tão puras
Cubram-me bem que a saudade doeu!
Ó meu mar infinito!...
Ó sol que ilumina o meu olhar,
Incide os teus raios sobre mim e o mar!
Sonho, ilusão... Quimera talvez...
O mar é longe, será que não vês?!
Não o vejo beijar a areia
Nem a embalar os búzios nem estrelas-do-mar
Mas a hora há de chegar
Nele a alma irei banhar
E alegrar o coração
Ouvir todos os seus anseios
Como quem ouve uma canção
Responderei bem baixinho
Um segredo irei marulhar:
A minha alma é tua, ó mar!


sábado, 14 de março de 2020

Crónica de Maus Costumes 172


Coronavírus e responsabilidade social

            - Mãe, achas-me bonita? – Pergunta-me a Matilde.
            - Não acho. Tenho a certeza absoluta de que és bonita. – Respondo.
            Depois de um abraço apertado (não os consigo evitar em casa, confesso. São tão habituais e frequentes que nos esquecemos…), diz-me:
            - Tu também és.
            Para que haja a perpetuação deste tipo de diálogos nas famílias, principalmente, entre netos e avós, é necessário haver prevenção nos dias que correm. Custa-me compreender que, apesar do exemplo italiano e espanhol, Portugal continue mais a reagir do que a prevenir. Quem me conhece sabe que nem sou alarmista, prefiro o otimismo, mas há momentos em que a situação nos obriga ao realismo e a verdade é que nas próximas semanas o número de infetados aumentará exponencialmente! Também não estou em pânico, mas estou preocupada. Tenho filhos em casa (biológicos e uma adotada até ao final do ano, que também será sempre minha) e um marido que terá que estar na linha da frente, quando a isso for chamado. Tenho pais com a idade bonita de 82 e 75 anos! A única tia materna que me sobeja tem 78! Nada é linear. Sabemos disso. Há duas semanas perdemos um primo de 64 anos, de ataque cardíaco fulminante, sem que nada o fizesse prever. Era alguém saudável, praticante de exercício físico e que abandonou o famigerado vício do tabaco ao ver o pai morrer aos 55 anos, vítima de um carcinoma pulmonar. Vi-o a agonizar várias vezes por não conseguir respirar sem a ajuda de oxigénio… O meu tio Zé! Como gostávamos dele! Aparecia sempre por volta das dez, em casa da minha mãe, aos domingos. Era connosco que tomava invariavelmente a sua tigela de cevada com sopas de pão, depois de já ter tomado o cimbalino e ter bebido o seu mata-bicho. Também invariavelmente, a sua irmã, minha mãe, lhe moía o juízo por conta do bagaço matinal sem forro no estômago. Nessa altura, eu tinha dez anos. Anteriormente, em maio, tinha falecido a minha avó, de doença natural (cinco anos após o meu avô, que depois de uma poda, caiu redondo no chão, sem apelo nem agravo, no dia 30 de dezembro de 1980). Deve ter passado os genes ao neto, que agora faleceu do mesmo modo. Em novembro de 2016, faleceu a minha TIA. A que não tinha nome por ser demasiado grande para nele caber! Estou farta que me morra gente e nem fui ao lado do meu pai! Também sei que é inevitável não passarmos por estas situações, mas não temos que as antecipar, pois não?!
Ora, mediante o cenário que o país atravessa, custa muito as pessoas adotarem comportamentos cívicos e protegerem-se a si, os seus familiares e os outros? Não seria essa também a função de quem nos governa? Até quando vamos reagir em vez de prevenir? Há muito deveria haver controlo nos aeroportos e fronteiras. É agradável? Não, mas morrer ou contaminar outros também não me parece boa ideia. A partir do momento em que se tem a consciência clara da transmissibilidade rápida do vírus, deveriam tomar-se as medidas necessárias para circunscrever ao máximo a sua proliferação! Temos o exemplo de Macau, mas preferimos o italiano ou espanhol, que significa correr atrás do prejuízo. Dependendo do número de infetados em simultâneo, poderá não haver capacidade nos nossos hospitais para atender toda a gente! As entidades internacionais alertam e aconselham a irmos além do que nos dizem para fazer! O que esperamos? Uma hecatombe?
A crise económica será uma realidade. É uma questão de se escolher se a queremos tentar minimizar, encurtando o tempo de duração da epidemia e obrigar as pessoas a ficarem em casa ou deixar que a economia definhe e pereça lentamente. O resultado final será o mesmo, mas às pinguinhas. Há pessoas com negócios que preferiam assumir os prejuízos agora e fecharem por duas ou três semanas, numa ação concertada, do que viver neste impasse de manterem portas abertas com poucos clientes e todas as contas para pagar!...
Quanto aos inconscientes que se pavoneiam por cafés, restaurantes, bares e discotecas, só me apetece esbofeteá-los, porque a estupidez humana exaspera!
Já agora, há agrupamentos de escolas que também não devem ter compreendido a gravidade e a dimensão do problema, pois insistem em colocar os professores nas escolas a cumprir horário sem alunos, com tarefas que podem ser feitas a partir de casa. Tal comportamento é de uma insensatez inqualificável, para além de um insulto, porque é presumir que, a partir de casa, os professores não cumprem com o que lhes é solicitado! Desenganem-se, porque se no seio da classe há incompetentes, como em todo o lado, na larga maioria, temos profissionais dedicados e responsáveis. E depois, o que importa mais: a saúde de todos ou se os meninos têm tarefas escolares para cumprir? Que esquizofrenia é esta? Querem explicar isso aos pais da menina de dezassete anos internada no S. João, em estado muito debilitado? Andamos de boca cheia com os resultados da Finlândia, em que os alunos só têm 4 horas de aula por dia e agora há que não dar folga aos miúdos nem professores, porque ninguém está de férias?! Pois, muito bem. Passo a explicar: continuo a trabalhar à distância com os meus alunos com conta, peso e medida. De forma sensata e sem histerismos, até porque há outros colegas que lhes pedem o cumprimento de outras tarefas. Não adiantarei a matéria, antes farei consolidação e antecipação, porque há coisas que são feitas na sala de aula, com a certeza de que todos têm igualdade de oportunidades e de que todos assistem à aula. Se houver reposição de aulas, muito bem, se não houver, mas eu considerar necessário marcá-las a bem dos meus alunos, também o farei sem hesitar, sem precisar de qualquer normativo ou recado do senhor Ministro da Educação, que finalmente saiu de quarentena, mas apresentou um discurso tão mal formulado, tão ambíguo, com prejuízo de coesão e de coerência, que deu aso a interpretações insensatas de quem é mais papista do que o papa! Ainda bem que não sou eu a avaliá-lo na competência da oralidade!
Resta-me, por fim, reconhecer o bom trabalho a quem o faz. A Sra. Diretora da minha escola (que muitos de vós identificais perfeitamente) tem o corpo docente a trabalhar com os seus alunos à distância, sem trejeitos pidescos, que desagregam mais do que congregam. Bem-haja o seu bom senso e a sua sensibilidade tão necessária a quem lidera! Às vezes, não é o que se solicita, mas antes como se solicita! Alguns não sabem solicitar nem exigir!
Foquemo-nos todos no que verdadeiramente interessa: combater a epidemia!
Pelo bem de todos, fiquemos em casa!
Nina M.

sábado, 7 de março de 2020

Crónica de Maus Costumes 171


Crónica sem tema


O que se faz quando se está num dia em que pouco se tem para dizer e a inspiração parece não querer ajudar?
            Poderia falar do assunto da semana, do coronavírus e da dificuldade que ele teve para chegar até nós. Por fim chegou e os profetas da desgraça respiraram de alívio, não fosse o malvado libertar o pequeno país à beira-mar plantado da sua presença! No entanto, já toda a gente está cansada de ouvir falar do mesmo assunto e enquanto os distraídos habituais absorvem as informações sobre o coronavírus, não se lembram que foram injetados mais uns quantos milhões no BES, num país onde não há dinheiro para mais nada.
A polícia (instituição) há muito foi obrigada pelo tribunal a pagar aos seus agentes o dinheiro que lhes andou a sonegar durante vários anos. Fê-lo como seria suposto? Obviamente, não. Ainda negoceiam a forma e tentam pagar em “prestações” ao longo de quatro anos. O dinheiro, em vez de chegar todo junto e perfazer uma soma agradável, será distribuído por diversos meses, a lembrar os fantásticos aumentos salariais com que brindam a função pública. Há esquadras que parecem cemitérios de carros. Inúmeros carros da polícia encostados à espera de arranjo. Não andam porque não há dinheiro para arranjos simples de cinquenta ou sessenta euros. As instalações onde os homens se veem obrigados a ficar (há forças especiais que são obrigadas a pernoitar no serviço, dadas as especificidades das suas funções) são vergonhosas e inadmissíveis. Os professores veem o seu tempo de serviço roubado. No continente, porque, nas ilhas, está a ser restituído (e bem) a César o que é de César, o que amplia ainda mais a injustiça: apenas uma classe, mas dois pesos e duas medidas. Na saúde, a cada passo surgem notícias a dar conta da falta de medicamentos imprescindíveis por falha de pagamento aos fornecedores, baixos salários de enfermeiros, médicos e técnicos superiores, mas sobrecarga horária… A todos é imposto fazer mais com menos, por desconhecimento do aforismo de que “sem massa não se faz chouriços”…
Classes envelhecidas, cansadas, doentes, à beira da exaustão moral e física.
Na verdade, julgo que os sindicatos da função pública deveriam unir esforços e processar o Estado por assédio moral aos seus trabalhadores. Se o conceito se define por "exposição de alguém a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções", não tendo eu o mínimo conhecimento de jurisprudência, julgo haver qualquer enquadramento legal para o podermos fazer. Basta analisar os sucessivos episódios de violência a professores, polícias, médicos, entre outros que não são do domínio público… O silêncio dos ministros que tutelam as várias pastas, especialmente o da educação, que mais parece o Homem Invisível, ou as declarações absurdas e a ausência de medidas que protejam os representantes do Estado no exercício de suas funções deveriam ser suficientes para mover um processo. Quando leio os comportamentos que são tidos como assédio moral com menos dúvidas fico. Veja-se o que diz Dantas Rodrigues & Associados, no seu site:
Já o conceito de assédio laboral se encontra plasmado no art.º 29.º, n.º 2, do Código do Trabalho, reportando-se ao conjunto de atos ou comportamentos, quer de índole moral, quer de índole sexual, praticados por alguém que exerce funções numa mesma entidade empregadora que o assediado, e com o qual existe, as mais das vezes, uma relação de subordinação hierárquica. Tais comportamentos visam perturbar ou constranger o assediado, afetar a sua dignidade, criando um ambiente intimidatório, hostil, degradante, humilhante ou desestabilizador, o que levará, em última análise, ao abandono do posto de trabalho.

Ora, o que têm feito os sucessivos Governos da nação aos professores senão uma campanha abusiva da sua dignidade, uma campanha humilhante e desestabilizadora? O que foram as contínuas ações da DGAE e as suas notas informativas, na última grande greve de professores às reuniões de avaliação senão a construção de um ambiente intimidatório e hostil, com o objetivo de pressionar os órgãos de gestão das escolas e os seus professores?! E Conseguiram. Num país onde a mansa paz podre vigora e o medo dos cidadãos perante as classes dirigentes impera, mesmo que já tenha sido feito abril, a tirania acaba por vencer. Eles sabem-no. Os portugueses é que parecem desconhecer…
Desta forma ostensiva, o medo corrompe e apodrece tudo o que atinge. Aqueles que têm medo de perder o poder oprimem e corrompem e os oprimidos, com medo dos que executam o poder, perpetuam as tiranias e as corrupções. É preciso um enorme esforço pessoal de integridade para o superar. Está, assim, na mão do cidadão a iniciativa de se transformar para poder influenciar a mudança de paradigma na sociedade. Quantos casos de assédio moral ficarão por relatar neste país por medo? Medo do descrédito, do julgamento, da perda de emprego, medo de que a corda se rompa sempre pelo lado do mais fraco… São os exemplos que nos chegam… Medo de que a injustiça se alimente a si mesma e não haja nada que a possa contrariar, medo de que as histórias afinal não acabem como os contos que líamos na infância, onde o bem sempre valia a pena e era capaz de derrotar o mal…
É preciso restaurar o crédito na justiça, na integridade e na verdade para que o medo atávico seja definitivamente banido e se alcance uma sociedade mais humanizada!
Nina M.


sexta-feira, 6 de março de 2020

Identidade

O que fui não sou mais nem serei...
Uma linha do tempo
Todas as circunstâncias em mim inscritas
E os vãos momentos ácidos e caídos
Tempo cristalizado
Duração perplexa revisitada
Memória poética das coisas e dos seres
Momentos efémeros esquecidos...  Tão vaporosos
Não lembrados. Definitivamente enclausurados
Na alma que já não é.
Ser que foi
E não deixou o legado da saudade a cumprir
Ser que é
De amor, poesia e saudade
Duração, congelamento do essencial e eternidade
O ser do porvir...
Talvez sempre sede de absoluto...
Sede de infinito numa vida finita...
Peso aéreo da leveza exata
Concha ausente de ruído
Só alma!...


terça-feira, 3 de março de 2020

Se toda a alma que chora

Se toda a alma que chora
Por no mundo viver só
Encontrasse uma nova aurora
Que de si tivesse dó...

Se a tristeza que vem baixinho
Sem ninguém a chamar
Fosse abrigada com carinho
Um dia haveria de passar

Neste estranho desconcerto
De quem se olha e se sabe
De esperança vã deserto

A dor que no peito não cabe
Sem remédio e sem fim certo
É placebo pra que a alma não desabe