Paris é uma mulher! Bela, sumptuosa,
orgulhosa e que cala inúmeros segredos. Encandeia-nos com a sua luz junto ao
Sena e sustém-nos o sopro numa admiração a que se habituou e não quer largar.
Os seus súbditos veneram-na, rendidos à sua magnitude. Ela, ufana e imperial,
do alto da sua torre e colina consente, num desdém de quem já se sabe desejada.
Faz-nos sentir pequenos, humildes, servos fiéis a seus pés…
Toda ela é História antiga de glória.
Congrega em si passado, presente e futuro. Revisitá-la não lhe retirou brilho,
permitiu antes um olhar mais demorado e atento. Cosmopolita, não responde
apenas a uma língua. Correm-lhe nas veias várias culturas e diferentes pátrias.
O som da sua língua natural é, por vezes, distante. Nem a todos trata bem,
apesar dos edifícios escolares ostentarem o ideal da revolução: “Liberté,
fraternité, égalité”. Talvez para lembrar que o ideal acaba assim que cada
indivíduo o dá por conseguido e que por isso cada homem deve cumpri-lo em cada
dia e em cada gesto.
Toda a bela mulher imperial esconde
segredos insalubres nos recantos da sua alma. Adivinham-se os gritos de todas
as Marie Antoinette injustiçadas pela pátria que as acolheu. Há também uma
Paris mais sombria que concorre com a das luzes: a dos vendedores ambulantes,
dos empregados, na sua maioria negros e indianos, a Paris dos subúrbios do
Norte, onde se sente um ambiente estranho e perigoso, talvez para onde terão
sido empurrados os sem-abrigo que raramente se avistam no metro. É estranho.
Parece que a Paris burguesa varre a poeira para debaixo do tapete para que só
sejam vistas a imponência e a beleza. O que os olhos não veem, o coração não
sente e a pobreza que o turista não vê, não existe.
Como toda a mulher, Paris tem os seus paradoxos, o que
não a diminui nem lhe retira elegância!
Nina M.
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