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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 48



Paris é uma mulher! Bela, sumptuosa, orgulhosa e que cala inúmeros segredos. Encandeia-nos com a sua luz junto ao Sena e sustém-nos o sopro numa admiração a que se habituou e não quer largar. Os seus súbditos veneram-na, rendidos à sua magnitude. Ela, ufana e imperial, do alto da sua torre e colina consente, num desdém de quem já se sabe desejada. Faz-nos sentir pequenos, humildes, servos fiéis a seus pés…
Toda ela é História antiga de glória. Congrega em si passado, presente e futuro. Revisitá-la não lhe retirou brilho, permitiu antes um olhar mais demorado e atento. Cosmopolita, não responde apenas a uma língua. Correm-lhe nas veias várias culturas e diferentes pátrias. O som da sua língua natural é, por vezes, distante. Nem a todos trata bem, apesar dos edifícios escolares ostentarem o ideal da revolução: “Liberté, fraternité, égalité”. Talvez para lembrar que o ideal acaba assim que cada indivíduo o dá por conseguido e que por isso cada homem deve cumpri-lo em cada dia e em cada gesto.
Toda a bela mulher imperial esconde segredos insalubres nos recantos da sua alma. Adivinham-se os gritos de todas as Marie Antoinette injustiçadas pela pátria que as acolheu. Há também uma Paris mais sombria que concorre com a das luzes: a dos vendedores ambulantes, dos empregados, na sua maioria negros e indianos, a Paris dos subúrbios do Norte, onde se sente um ambiente estranho e perigoso, talvez para onde terão sido empurrados os sem-abrigo que raramente se avistam no metro. É estranho. Parece que a Paris burguesa varre a poeira para debaixo do tapete para que só sejam vistas a imponência e a beleza. O que os olhos não veem, o coração não sente e a pobreza que o turista não vê, não existe.
Como toda a mulher, Paris tem os seus paradoxos, o que não a diminui nem lhe retira elegância!
Nina M.




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