No seguimento da tragédia de Pedrógão
Grande, rios de tinta têm sido escritos a propósito e a despropósito. Irrita-me
solenemente a hipocrisia beata dos políticos que tentam colher os seus
dividendos, nem que seja através do comportamento soez de tentar aproveitar o
momento de luto do país e em especial dos que perderam familiares, amigos e
vizinhos. Ainda agora não consigo pensar serenamente no assunto, sem que seja
invadida pela comoção. O momento pede que todos os agentes políticos tenham a
dignidade de agir corretamente, lembrando-se dos que partiram, mas também dos
que ficaram e que precisam urgentemente que as suas vidas retomem a
normalidade.
Dou comigo a pensar que os senhores que têm o destino do
país e das nossas vidas nas mãos (governo e todos os deputados) têm a
arrogância necessária para julgar que nos podem fazer de tolos. Para além da
tragédia em si e da força da natureza que ninguém consegue vencer, há
responsabilidades que devem ser apuradas, primeiro, para evitar outro drama
semelhante, e em segundo, por uma questão de respeito para com os que partiram
e os que choram as suas perdas, tanto humanas quanto materiais. Tal parece-me
óbvio e incontornável! Tenho, porém, muita dificuldade em aceitar, para não
dizer nojo (tendo já dito) das jogadas políticas à volta do apuramento dessas
responsabilidades, quando quase todos os agentes políticos têm telhados de
vidro nessa matéria. Assim, nem a oposição deve levantar o dedo acusador e
persecutório nem o governo fazer-se de virgem ofendida, uma vez que desde que
vivemos em democracia, quer uns quer outros têm assumido as rédeas do país. O
problema com o SIRESP foi transversal a ambas as cores partidárias! É esta
dissimulação que eu não suporto na política e me faz rejeitar, à partida,
qualquer partido e desconfiar de uma grande maioria dos lacaios que lá gostam
de se inscrever! Ao invés de tentarem colher dividendos para o partido, será
que por uma vez poderiam, em nome da dignidade e do caráter, chegar a um
consenso sério sobre o assunto?! Estamos a falar de vidas! Talvez seja
importante relembrar, porque o número sessenta e quatro dito assim,
descontextualizado, parece ter deixado de causar arrepios. Neste momento, o
povo não quer saber quem teve mais culpa: se o governo ou os que estão na
oposição! O povo precisa que lhe garantam a sua segurança, dentro do possível,
obviamente. Se o melhor é haver mais castanheiros ou carvalhos em vez do
eucalipto ou se o melhor será continuar com a produção de eucalipto (por
questões económicas), mas de forma controlada, entrecortada por fileiras de
árvores de combustão lenta, compete aos técnicos decidir. Pelo amor de Deus,
ouçam os que sabem da matéria! Chamem os engenheiros florestais, façam-nos
reunir com as empresas interessadas na exploração das florestas, porque o
dinheiro é essencial para fixar as pessoas num interior cada vez mais
desertificado! Decidam todos a bem de uma nação e não a favor de um partido que
apenas alimenta alguns! Já agora, seria importante que o Estado fosse o
primeiro a dar o exemplo, mantendo limpo o que lhe compete. Apostar na
prevenção significa poupar na atuação, mais tarde!
Quando os vários elementos partidários forem capazes de
reunir e chegar a consensos para o bem comum, agindo de acordo com uma
consciência sadia, então começarão a merecer o respeito de um povo que lhes
reconhecerá a hombridade. Até lá, parece haver um longo caminho a percorrer…
Nina M.
Sem comentários:
Enviar um comentário