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sábado, 31 de outubro de 2020

Sentir-se uma alma velha

 Sentir-se uma alma velha 

 Não das que lastima a perda do fulgor da juventude

Mas antes se reconhece em cada sulco do seu rosto 

(Memórias cinzeladas pelo tempo)                                                                       

Onde em cada veia roxeada, rego profundo

Cavado à enxada pela vida,

Se desenha uma história desmedida

De desencontros e de encontros

Tão absolutamente perfeitos

Esses serão para sempre a duração

A alma e a essência mais pura do ser

Resguardado do ruído do mundo

O seu frontispício e o seu reverso

A síntese do seu tudo e do seu nada

Duração inexorável 

Memória e absolvição





Crónica de Maus Costumes 204

Uma mão cheia de tudo e outra cheia de nada

Nunca o Homem ocidental viveu tão bem. Efetivamente, apesar da pobreza que ainda há, vive-se na era do conforto, da tecnologia e da abundância. Uma opulência ambiciosa que não se satisfaz facilmente e coage o ser humano a ser estupidamente escravo em prol de uma vida burguesa tão farta quanto desnecessária.

A receita é antiga, mas continua na ordem do dia, num mundo onde o capitalismo selvagem vigora e onde se cria a falsa ilusão de necessitarmos do que, na verdade, não precisamos. Nunca foi tão fácil a comunicação e, no entanto, nunca interagimos pessoalmente tão pouco! Quase parece cinismo existir um vírus que impeça os abraços, as conversas e a atenção que, na verdade, já pouco existiam e que, subitamente, as pessoas valorizam. Talvez aconteça que alguns dos velhos atirados para o hospital, reféns da COVID, sem as visitas que os familiares reclamam sejam os mesmos que seriam lá deixados para a família poder ir de férias descansada… Demasiado desacreditada na humanidade e abalada pelo cinismo, porém, como acreditar na bonomia da sociedade se o simples exercício de usar uma máscara e evitar multidões parece inexequível para alguns, que não podem perder uns passeios em prol do bem comum e em prol dos seus?

Zygmunt Bauman tem razão. Tempo de uma modernidade líquida que me desgosta, em que tudo é efémero e passageiro como o telemóvel que se troca a cada surgir de modelo novo ou como o carro que se deve trocar ao fim de uns anos para ostentar uma saúde financeira e uma vaidade provinciana. Devo estar a ficar velha, já noto a pele sem a elasticidade dos vinte anos, mas também ainda não tenho o sorriso metido dentro de parênteses, para usar a metáfora fabulosa do Lobo Antunes e, no entanto, dou comigo a ter saudades do meu corsa comercial velhinho de início de carreira, que sempre subiu o Marão sem avarias ou reclamações. E continuo ligada a ele, que já não existe há dezasseis anos, pelas memórias e pelos sorrisos que me arranca. Era um pouco doida à época e a carripana conhecia as curvas de Vila Real a Vilarandelo e depois a Chaves de cor… E esta tendência exacerbada para me ligar às memórias passadas que me lembram de quem fui e me fazem ver o diferente que sou, ainda que muito permaneça idêntico, fazem-me gostar das coisas e desejar perpetuá-las. Gosto das coisas pelo seu valor e não pelo preço. Na verdade, não é exatamente das coisas, mas da afetividade delas. Sempre fui assim. Desfiz-me do corsa com o mesmo custo que me desfiz dos muitos papéis que tive colados nas paredes do quarto no tempo da faculdade com mensagens dos amigos, a família de quem está deslocado por terras alheias. Guardei por anos e religiosamente um envelope cheio de papéis com missivas engraçadas, outras lamechas, assinaturas e cartas (ainda recebi algumas cartas e sinto agora o cheiro a tinta velha…) e sabia que tinha de o fazer, de reciclar, porque não se pode acumular a tralha toda, sabendo também que um dia ao lembrar-me disso haveria de o lastimar. E lastimo… Depois, há outros registos mais recentes, porém, não tão recentes assim, dos quais ainda não me desfiz por falta de coragem. De maneira que sempre fui velha na alma, talvez, e a velhice já não me traga grande novidade…

E ao pensar nisto, lembro-me da mensagem do cardeal José Tolentino Mendonça e sei que não quero nem passo pelas coisas sem as habitar ou tão pouco falo com os outros sem os ouvir, não quero juntar informação sem a aprofundar (ainda que tenha uma mente dispersa e que gosta de voar por vários temas, para evitar o enfado… Talvez precise de envelhecer um pouco mais para corrigir esse prejuízo…). E não suporto a ideia de tudo “transitar num galope ruidoso, veemente e efémero”… Eu que coleciono almas e conversas e me esforço por guardar as que me merecem a memória, ainda que falhe tão mais do que gostaria… A memória não é má, mas não é infalível e é muito seletiva. Eu que gostaria de poder congelar momentos, carregar essa intensidade pela vida fora e fazer dela duração como no poema de Peter Handke (caramba! Que belo poema!). Não quero viver na velocidade, que na verdade nos impede de viver. Quero poder treinar a memória para guardar os poemas de tantos outros: o Neruda que escreveu os melhores poemas de amor, talvez sem saber o amor… E o verso de Safo que não sei de cor ou de Torga e da sua dureza e de Sophia e da sua melodia…

Este tempo em que tudo é tecnologia só nos rouba sem compaixão o parco tempo que nos sobra. Se não estivermos atentos, entra-nos casa dentro e vai-nos matando lentamente, porque a cada falha, a cada recusa de verso em troca de um teclado é uma centelha de alma que se perde e se corre o risco de não recuperar. Sinto-me velha, porque vejo pessoas distantes e continuo a vê-las novas e sei que já são tão velhas quanto eu… Sinto-me velha, porque pelo caminho já deixei muita gente e sei que a perda maior ainda está por vir (felizmente) … Sinto-me velha, por ausência de capacidade ou sequer desejo de ir a uma discoteca até às seis da manhã, como tantas vezes! Sinto-me velha, porque o ruído é-me cada vez mais insuportável e o sossego do sofá com uma manta sobre os joelhos e um livro, uma tentação! Sinto-me velha, porque estou cada vez mais intolerante à papelada que me aborrece profundamente, porque não me acrescenta nada e agora deu-me para isto, de me irritar e de sentir as vísceras estremecerem de cada vez que me arrancam de dentro de mim para me lançarem às coisas das quais não quero saber! Ao terrível mundo pragmático onde só trabalho, porque para viver verdadeiramente ausento-me para outro só meu, tão protegido e tão inalcançável! E puxam-me e insistem para que desça e quase desejo reformar-me só para ter direito a esta alma velha com toda a tranquilidade.

E assim, tantas vezes, neste mundo cheio de coisas, descobrimos vazios inconsoláveis que não são colmatáveis nem pelo telemóvel, nem pelo carro, nem pelas joias ou acessórios caros ou silicones que preencham as rugas, mas que deixam a descoberto a nossas angústias. Não há tecnologias nem distrações que nos valham, pois o dia de cada um se confrontar há de chegar e a escolha entre olhar de frente a nossa verdade e as nossas fraquezas ou fugir cobardemente terá de ser feita, entre risos e lágrimas, com uma cheia de tudo e outra cheia de nada.

 

Nina M. 

 

domingo, 25 de outubro de 2020

Pedro e Inês

Tu, só tu, puro amor, com força crua

Te banhas nas lágrimas dos amantes
Recolhes do pranto, da dor que é sua
O engano de não serem distantes
Ledos, anseiam uma fusão pura
Quedam-se bem próximos nunca errantes
Apenas ilusões que pouco duram
Mas salvam os corações que as maturam

As lembranças que na alma lhes moravam,
Longamente passeadas na ausência
Mais firmemente do amor lhes mostravam
O que dele sobeja de carência
Tanta falta, tanta falha guardavam
Tudo suportavam com paciência
Era enorme o amor feito de saudade
Curva-se o ser perante essa verdade

O nome que no peito escrito tinhas
A ferro e a fogo na alma foi bordado
Quiseste ensiná-lo só às ervinhas
Já com o temor de vê-lo roubado
Ignorastes bem as vozes mesquinhas
Todos segredavam ao vosso lado
Indif'rentes ao desmando soez
Vivestes um dia de cada vez

Foi triste a sina dos puros amantes
Que tudo, enfim, tu, puro amor desprezas,
Julgas só as dores edificantes
E alheio às suas vozes e rezas
Quiseste ambos exilados, distantes:
Um no céu, um na terra d'estranhezas
Porquanto o amor feliz não faz a lenda
O amor contrariado há quem o venda!




sábado, 24 de outubro de 2020

Crónica de Maus Costumes 203

 

O imperativo da liberdade

            A França está de luto. Mais uma vez, o país europeu promotor dos valores democráticos por excelência foi ferido de morte. A Europa foi ferida de morte. Portugal foi ferido de morte. Eu fui ferida de morte! Liberdade, sempre!

            É com consternação que olho para esta Europa que, subitamente, se vê atacada no seu princípio irrevogável da liberdade. Não faço a apologia do ódio nem concedo interpretações demasiado fáceis e simplistas da situação. A França sangra. Neste caso, o ataque foi perpetrado por um imigrante checheno, mas há outros casos em que os ataques terroristas são preparados e executados por filhos desse país, que se afastam da pátria. Muita coisa deve estar a falhar: a família, em primeira instância, seguidamente, falha o Estado e falha toda a sociedade. A família porque não soube ou não quis incutir os valores e os princípios democráticos do país; a escola, representante do Estado e todas as instituições públicas que não conseguiram persuadir para o valor da liberdade, do respeito e da tolerância e a sociedade que não soube acolher. A França, que alberga uma nova geração de franceses, filhos de imigrantes das suas ex-colónias, não foi capaz de os tornar verdadeiramente franceses. A real integração e pacificação não existem e parece-me que o antigo colonialismo é ainda uma chaga aberta que é forçoso estancar. Os países colonizadores (Portugal inclusive) foram absolutamente cruéis com os povos que exploraram. Há que assumi-lo frontalmente e sem pruridos. O império português, como todos os impérios, foi assente na escravização, na exploração, na tortura e na barbárie. O mesmo se passou com os espanhóis, os franceses, os ingleses, os holandeses… A História não pode nem deve ser apagada ou reescrita. Se existe é para que a olhemos e não cometamos os mesmos enganos. No entanto, diz o aforismo que a “História se repete” e lastimo, porque só prova a infinita estupidez humana! No entanto, nem os ex-colonizadores podem viver eternamente subjugados pelo peso da culpa e da História, o que não significa não reconhecer ou apagar os seus erros, nem os colonizados se podem alimentar do ódio contra o colonizador. Para o bem ou para o mal, a França proporciona-lhes, ainda assim, uma qualidade de vida superior à que teriam em muitos dos seus países de que originam e as oportunidades, apesar da xenofobia e do racismo existente, surgem e vão sorrindo à gente de bem, mesmo com todos os condicionalismos e da desvantagem com que partem. Por outro lado, quem escolheu ficar deve ser capaz de se adaptar e de respeitar os valores da República. A maioria muçulmana não pode ser julgada por um gesto hediondo, mas também não o deve aceitar nem defender nem calar-se perante o crime. Não é todo um povo que está em causa, mas umas quantas células terroristas que pretendem disseminar o medo e condicionar os valores da República.

            A liberdade de expressão ensinada pelo professor é um dos direitos fundamentais consagrados na constituição dos países democráticos. Muita gente se bateu e morreu para a conseguir instituir não pode, de todo, ser posta em causa. Há palavras que ferem e são armas de arremesso, dirão uns. Concordo. Há palavras duras e provocatórias, mas na Europa, não são admissíveis as reações cruéis e de violência inominável! Também não deveria sê-lo em nenhuma parte do mundo! E o que dizer do professor, que apenas cumpria com a sua missão? Não foi ele o autor das imagens. Apenas exemplificava o direito à liberdade de expressão e foi barbaramente assassinado. Foi vilipendiado nas redes sociais e vendido por uns meros euros por um ou dois dos seus alunos! Lamentável! Seres humanos deploráveis! Poderiam não imaginar o que sucederia, mas só o facto de alguém pagar pela identidade de outrem já indicia algo de errado. Contudo, o profeta Maomé (sanguinário, por sinal) estava a ser ofendido e a blasfémia lava-se com sangue! Cristo pode ser ridicularizado. Buda pode ser ridicularizado. Eloim também. Maomé não pode. Porquê? Uma das imagens em questão mostrava os três livros sagrados (Bíblia, Corão e Torá) em rolos de papel higiénico, como quem fala de literatura de sanita. Ao ver a imagem, como cristã católica, atravessou-me um estremecimento. Compreendi a mensagem e estes comportamentos inaceitáveis, o assassinato planeado e executado de forma horripilante só dá razão aos autores dos desenhos! A verdade é que a religião, enquanto instituição organizada e vivida de forma fanática só gera ódio e violência, exatamente o oposto do que deveria ser. Os judeus fizeram-no com Jesus e fazem-no com os palestinianos; os católicos com as outras religiões e com a ciência. Como esquecer o Tribunal do Santo Ofício? Como esconder os desmandos do Vaticano? Os muçulmanos radicais fazem-no contra quem for, basta ofender Maomé! Será assim tão difícil separar a religiosidade ou a espiritualidade de cada um dos desmandos de cada religião? Será impossível haver sentido crítico? Será impossível compreender que a lei pela qual nos regemos deverá ser o código civil e a constituição de cada país, onde está consignada a liberdade religiosa e que, por esse motivo, o Estado é de todos e para todos, logo é laico?

            Parece que a França não está disposta a abdicar destes valores. Ainda bem. Toulouse e Montpellier, num sinal de força, projetaram as imagens tão ofensivas para os muçulmanos nas paredes da Câmara. Esperemos que não haja retaliações. Os que aí pretenderem residir têm, com toda a certeza, todo o direito a praticar a sua fé, mas não têm o direito de matar um semelhante, porque se entende que ofendeu o profeta! As palavras sarcásticas não dão o direito de retirar a vida a ninguém nem de os maltratar e quem vive na Europa ou aceita os seus valores ou então, por mim, poderá retirar-se que não fará falta.

            A França tem um dossiê muito sensível para manejar e se tem o dever de acolher bem, também não pode permitir que estes desmandos que causam terror ameacem a liberdade dos franceses. A Europa poderá aceitar quem vem por bem, mas não os que lhe querem mal! Esses têm de ser identificados e, por mim, delicadamente convidados a sair, como disse um presidente de câmara canadiano, a propósito da exigência de serem retirados pratos de carne de porco da ementa da cantina das escolas: “Se vieram por bem e aceitam e respeitam os nossos valores, a nossa cultura e as nossas tradições, o Canadá ficará feliz por receber-vos. Se não for esse caso, lembrem-se de que têm outros belos 57 países muçulmanos onde poderão viver.

Concordo plenamente.

 

Nina M.

segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Porto

Errando pelos becos íngremes, 

Sinuosos, sob a luz dourada

Que ilumina o espelho de água 

Aprende-se lentamente 

a escadaria da Verdade 

De onde se vislumbra a ponte férrea 

E a Muralha Fernandina...


Elevam-se sobre o casario

Branco, amarelo, vermelho

Cores outonais estendem-se até ao rio e

Sente-se o pulsar genuíno da cidade


Escondem-se os putos da Ribeira

Em sadia brincadeira

Urinam sem prurido do promontório 


Em tronco nu, galhofeiros,

Atiram gritos alegres aos comparsas 

E os turistas que atravessam as vielas

Sorriem aos petizes tagarelas...


Lá em baixo, o rio e a luz irmanados 

Aos pés do casario recuperado

Aguardam as piruetas corajosas

Dos que se atiram da ponte


Mergulham sem medo

Olhando a foz defronte

Respiram viço e alegria

Levados pela correnteza e fantasia


Assomam desgrenhados ao cais

Os barcos atracados à espera dos demais

Longas esplanadas, risos, canções e ar

Música para os transeuntes embalar


Imensidão de céu azul desempoeirado

Ao lado, a recordação do Infante

A aspirar a descoberta de mundo

Este é o Porto profundo


 Belo e estreito como um abraço

Mas há o da Foz e de mar 

Onde as gentes aos magotes

Passeiam burguesas os filhotes

E respiram a frescura da nortada

Junto à avenida comprida e larga


Porto...

Os Clérigos e São Bento 

A igreja de S. Francisco

A Lello e  as Galerias de Paris

Todo ele culmina na Sé

E é lá onde, ao fundo, o rio se diz!


domingo, 18 de outubro de 2020

Incógnita

 Para que serve a poesia

Se não alimenta a barriga vazia

Nem serve de leito

Aos que andam descalços ao frio

Sem lar ou cama de jeito?


Para quê a poesia

Se não cura o leproso

Nem traz esperança ao canceroso

Ou ventura ao sofredor

Que se abraça ao sonhador?


Porque se quer a poesia

Com cheiro a maresia

E sabor a manhã de sol

Quente sobre a pele

E nos cobre... Níveo lençol ?


Ânsia louca tortuosa

Mania de palavras 

Com cheiro a rosa

Cravo e jasmim

Quem te deu assim a mim?







sábado, 17 de outubro de 2020

Safo

Vem, bela poetisa,

Décima musa de Platão

Que o amor sáfico legou

Com a tradição rompeu

Mas com a poesia se engrandeceu

Na sua infinita liberdade

Que consigo nasceu

Amou as companheiras

Seres de alma feitos

Revelou a sua inteireza

Nos seus leitos desfeitos

Livre, autêntica e só

Ergue-se a bela filha de Lesbos

Cumpre-se na adversidade

Quer somente viver bem

 Na sua humana efemeridade



Crónica de Maus Costumes 202

 

Stayaway from me, maldito vírus !

                A app mais falada do momento está a dividir opiniões. Como toda a tecnologia, a app em si nem é boa nem é má, já o uso que dela se pode fazer será outra história.

            Assumo que não instalei nem instalarei a Stayaway covid. Mesmo que seja imperativo legal, o que não acredito que venha a acontecer, dada a inconstitucionalidade do propósito. O Governo cairia no ridículo e contrariaria todas as indicações da Comissão Europeia e do que até agora defendeu: o seu caráter voluntário. Um dos argumentos utilizados pelos defensores do uso da app é a parca privacidade que já temos pelo facto de sermos utilizadores da Internet, de múltiplas redes sociais e outras aplicações que guardam religiosamente todas as nossas informações. É verdade. O facebook sabe mais das minhas preferências e interesses do que qualquer familiar meu, incluindo os mais próximos. Devo dizer que, apesar de o saber, não gosto. Não me agrada. Não preciso que me sejam impingidas uma catadupa de páginas sobre um assunto, após ter pesquisado sobre o mesmo. Foi precisamente esse aspeto que me manteve afastada de redes sociais uma data de anos e de apenas ter aderido à moda em 2015, após insistência de algumas pessoas. Ao fazê-lo assumi as consequências, mas foi uma escolha ponderada e refletida (da qual já houve ocasiões em que me arrependi), porém, nada me foi despoticamente imposto! Eu tenho o direito e a liberdade de instalar ou não o que quiser no meu telemóvel, inteiramente pago por mim! E não me venham com o argumento bem-intencionado, mas absolutamente falacioso da sobreposição do bem comum ao bem individual. Quem me conhece saberá que também o defendo, mas não tão cegamente nem a qualquer preço! Vejamos: a app só me avisará de que estive na proximidade de alguém portador do vírus se essa pessoa decidir inserir o código, após saber que está contaminada. Se porventura tiver a “fica longe covid” instalada, mas não se der ao trabalho de avisar que está infetada, inserindo o seu código, a aplicação já não terá qualquer interesse. Na verdade, continuo, como agora, dependente do comportamento cívico de cada cidadão e essa é a melhor proteção que cada um de nós poderá ter! Quero lá saber que me avisem de que estive em contacto com alguém infetado no supermercado ou na rua! Por acaso a app também me dirá se essa pessoa estava de máscara ou se mexeu em alguma coisa em que eu também tenha tocado a posteriori?

Realmente gostaria muito que as pessoas se preocupassem mais com os seus comportamentos do que com a instalação de uma aplicação que não resolve coisa nenhuma. Se eu e a DGS soubermos que estive em contacto com alguém infetado por mais de quinze minutos, é condição suficiente para ser testada? Ou pretendem que em pânico e por imperativo de consciência vá fazer o teste e o pague a minhas expensas? É uma forma de testar sem despesa para o Estado, mas os meus impostos deveriam servir para isto e não para capitalizações sucessivas da banca! Não preciso de qualquer aplicação para saber que estou em contacto com gente portadora do vírus! Ser professora é condição suficiente para isso! Vivo assustada? Não. Na sala bato-me pelo cumprimento das regras de segurança e de higiene e seja o que Deus quiser! Desconfio bem que muitos dos que se apressaram a instalar a bendita aplicação não se coíbem de bater perna nos centros comerciais, ao domingo, sem necessidade, e de continuarem a frequentar cafés! Não estou a apelar para que deixem de ir ao café ou ao restaurante, porque as pessoas têm de viver, mas que tenham o civismo de entrarem com a máscara, de retirá-la apenas para comerem ou beberem e de voltarem a colocá-la o quanto antes e, preferencialmente, não façam sala em demasia!

São estes comportamentos que amenizarão o problema e não a milagrosa aplicação. Se o povo português tivesse esta decência, eu seria mais feliz. Parecem-me mais razoáveis o impedimento de ajuntamentos, por muito que nos custe! Separar agora para poder reunir mais tarde ou correremos o risco de não voltar a reunir com alguns. Desta forma, quando há um elevado número de gente a circular nas ruas, ao ar livre, a máscara deve ser de uso obrigatório, sim! Efetivamente, nesta situação, pelo bem de todos. E também não venham alegar que nos transportes e nas escolas o distanciamento não existe. É verdade. Não existe, mas também não há muito que se possa fazer, neste momento. Num país rico, haveria mais transpores públicos e mais salas e menos alunos por turma, nós cosemo-nos com as linhas que temos no momento, gostemos ou não. Expor-me nos transportes pode ser quase obrigatório, porque temos de trabalhar, mas expor-me por vontade própria e sem necessidade, só porque me apetece confraternizar à vontade e sem máscara é apenas parvoíce, egoísmo e falta de respeito para com o outro!

Não abdico, portanto, da minha liberdade quando não vislumbro nisso qualquer vantagem efetiva. Mais: não se pode comprometer assim os direitos democráticos consignados na constituição sob pena de um dia nos serem retirados de mansinho e sem aviso. Uma ditadura nunca surge de um momento para o outro e a melhor forma de a instituir é sempre através do medo. Quem leu George Orwell   sabe-o perfeitamente. Para os chineses é normal que o Estado saiba com quem estiveram, que conversas tiveram no telemóvel e com quem, se são partidários ou opositores do sistema vigente… Isto é apenas mais um grão de areia. Na Europa, é impensável, seria um atropelo às liberdades individuais que tanto custaram a conquistar!

Lembro que tal imposição, além de absolutamente idiota, é impossível de controlar por parte das forças de segurança. Ninguém é obrigado a mostrar o seu telemóvel e a polícia não o pode exigir! “Senhor condutor, os seus documentos e o seu telemóvel, por favor!” Deixem-me rir!

A suprema ironia reside no facto de serem precisamente os que enchem a boca para falar de abril, os que não se coibiram de fazer as celebrações de abril numa época complicada a proporem tamanho disparate!

Eu não aderi nem aderirei ao stayaway covid, mas comprometo-me com os meus concidadãos a manter um comportamento adequado aos tempos que vivemos e isto é tudo o que preciso de fazer para ficar de consciência tranquila. Façam o mesmo por mim e pelos outros e tudo será menos grave.

 

Nina M.

quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Pecado

"Tão bela que é pecado"

- Diz o povo voz de Deus

Na sua infinita sabedoria e graça

Vislumbra na beleza o divino gesto 

E o pecado manifesto

É a beleza pura roubada aos deuses

Tal como o fogo de Prometeu

Que o engenho à humanidade deu

Elegância de Eva que aspira ao divino

Se iguala na perfeição do alto

E assim se perde no caminho

Pela serpente posta em sobressalto

Traz canseira tal beleza, Eva, 

Não chegou cativar Adão

Quem se iguala ao divino 

Assina devagarinho a sua perdição

Deste a provar o fruto proibido

Ao incauto marido

Ser belo mas desobediente 

Como castigo permanente

Vestes séculos de escravidão







sábado, 10 de outubro de 2020

Crónica de Maus Costumes 201

 

Vaticínio

Vaticinaste, Lurdes Martins, e parece que hoje terás razão. “Não conseguirás deixar de escrever”. Efetivamente, deixar de escrever não está nos meus planos, mas vou escrevendo outras coisas para além da crónica. Umas conhecidas outras nem tanto… Porém, hoje, o apelo foi inevitável…

O país vive uma situação difícil. Estamos, hoje, pior do que em abril passado. É necessário o esforço de todos enquanto sociedade e o respeito cívico dos adultos saudáveis e dos jovens. É imperioso que assumam o compromisso individual de protegerem os mais idosos evitando comportamentos de risco. Uma situação que só poderá ser ultrapassada com a colaboração e a boa vontade de todos. Nesse sentido, aborrece-me ler determinados comentários nas páginas de alguns grupos de professores nas redes sociais.

Penso que em março passado, quando a pandemia chegou e ninguém sabia o que dela esperar nem como fazer, Portugal foi efetivamente um dos países mais prudentes ao fechar cedo vários setores de atividade. Os resultados foram positivos, no entanto, neste momento, já todos percebemos que o país nunca teve nem tem condições económicas para suportar um novo encerramento. Obrigar as pessoas a encerrar portas significa falência e miséria. Boa parte do emprego é gerada pelas pequenas ou médias empresas. Os seus donos não são grandes capitalistas milionários. Criaram os seus postos de emprego e ainda dão trabalho a mais alguns, o que significa que estes patrões ficam mensalmente, depois de pagarem todas as suas despesas a fornecedores, licenças, arrendamentos, segurança social dos funcionários e a sua própria e salários, com o seu próprio vencimento e, francamente, desejo que possa ser bastante digno. Estas pessoas constituem o tecido produtivo do país e durante os meses de encerramento, o apoio por parte do governo foi parco. Os funcionários tiveram direito a subsídios, mas os patrões, apesar de fechados, tiveram que continuar a pagar, por exemplo, a segurança social dos seus empregados e a sua própria segurança social, sem qualquer direito a subsídio de desemprego. Isto é de uma injustiça atroz, porque se tabela qualquer patrão pelo grupo SONAE ou Jerónimo Martins e estamos a falar de situações económicas muito diferenciadas. Estes empresários não aguentarão novo embate e o Estado não terá dinheiro suficiente para amparar todos. É bom que compreendamos que a fatura a pagar por novo encerramento será a ruína económica de muitos, incluindo a do próprio país. Se não se morre da doença, morre-se da cura. Sei que haverá gente, neste momento, a falar dos milhões desviados para os bancos e das negociatas ilícitas que desgraçam o país enquanto enchem a barriga de alguns, no entanto, a verdade é que num país que vive do turismo e de prestação de serviços, com um tecido empresarial débil e pouco proeminente, num mercado pequeno e extremamente dependente das exportações (em todas as épocas estudadas em História, o problema era o mesmo) a falência seria mais do que certa. Exportamos sapatos e roupas e importamos carros e maquinaria. Não temos indústria de ponta e, muitas vezes, a que existe agoniza também pela constante descapitalização levada a cabo pelos donos (acontece imenso) e pela carga fiscal tremenda, fazendo parecer que continuamos numa espécie de regime feudal em que o senhor, que é o Estado, esfola os seus súbditos, entenda-se, cidadãos. Perante este cenário, resta apenas arregaçarmos as mangas e cada um fazer o que lhe compete. Custa-me, portanto, ler e ouvir sucessivos lamentos de colegas pelas condições vividas nas escolas. Vamos lá ver… O desejável seria a redução de número de alunos por turmas, mas não haveria nem condições físicas nem dinheiro suficiente para pagar ao dobro dos professores, até porque tal situação não foi acautelada. Desta forma, faz-se o melhor que se pode. As escolas estão a fazer o seu melhor e, parece-me, genericamente, bem feito. Mais do que isto não é possível. Há que apelar ao bom senso de todos. Não adianta tanta desinfeção de mãos, tantas cautelas e obrigatoriedade com o uso das máscaras, se cada cidadão não for consciente no seu meio social e familiar. Desta forma, nós, professores, devemos ser um exemplo e estar à altura do desafio. Chega de lamentos relativamente ao facto de termos de ir para a escola e de sermos “carne para canhão”! Mais do que nós são os profissionais de saúde e, para quem se lamenta da falta de testes, aqueles também só são testados em caso de haver sintomatologia. É o desejável? Não. Porém, tanta lamúria começa a cheirar a pieguice e ridiculariza toda a classe. Médicos, enfermeiros, forças de segurança, camionistas, trabalhadores em geral continuam ao serviço, o mesmo se aplica aos professores, porque num regime democrático, não deve haver portugueses de primeira e de segunda. Parar a escola implica trabalhadores em casa por causa dos filhos. Nem as famílias nem o país suportariam tal. Os colegas e todos os trabalhadores que padecem de doenças de risco deveriam, efetivamente, poder ficar em casa sem perdas salariais, o que não acontece. Talvez um dia, se aprendermos a gerir o país de outra forma e se aprendermos que a mudança começa em cada um de nós, através de uma postura ética efetiva, sem tergiversar, possa acontecer. A responsabilidade não é apenas do político. Também é minha se não voto, se não manifesto o meu desagrado perante gestos de corrupção, se não exijo dos deputados democraticamente eleitos. Só alteraremos a crise económica endémica deste país quando percebermos que a transformação começa também por cada um de nós, desde logo, na penalização nos atos eleitorais das más gestões dos governos. Só assim romperemos com a cadeia da desigualdade que se tem vindo a acentuar. Devo ter consciência de que não posso exigir ao outro aquilo que não pratico, caso contrário incorro na hipocrisia, falha difícil de se ver ao espelho.

O país chama. Digo país e não classe política. Está na hora de dizer presente. Se fosse Pessoa, diria: É a hora! Valete fratres.

 

Nina M.

 

 

 

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Pusilanimidade

Que importa o mundo grande

Se o nosso pequeno mundo falece

Agoniza e se desfaz?

Quanto de nós damos

Se desfeitos choramos

Carpimos mágoas de além

Que importa o mundo grande

E os outros também

A humanidade intacta e pútrida

E nós vis de nossa vil condição

Alheios a ela à realidade podre

Porquanto o nosso pequeno mundo 

Não se ordene e se encante

Nos olhos permanece a desilusão

De nos perscrutarmos e vermos ruínas de ser

Que importa o mundo grande 

Se o mundo pequeno e a casa se desfaz

Que alma grande rejeita o egoísmo

E vê mais além

Débeis pusilânimes vergamos com o peso

E a hipocrisia como espelho fere de morte

Que importa o mundo grande e a sua humanidade

Se a nossa se perdeu...

sábado, 3 de outubro de 2020

Crónica de Maus Costumes 200

 

Fim de um ciclo

                Hoje é dia de número redondo. Novamente. Quando atingi o pleno (as primeiras 100 crónicas) houve quem desejasse o seguimento de outras tantas. Interiormente, eu duvidei da possibilidade, mas a existência delas confirma-a. Duzentas crónicas representam quatro anos de textos semanais, de forma quase ininterrupta, num compromisso tácito que assumi com quem me foi lendo e acompanhando e a quem voto um profundo respeito. Raros foram os fins de semana que ficaram sem crónica. O período de férias, sobretudo de verão, foi a exceção à regra. Muitos houve em que, mesmo estando fora de casa, elas surgiram. Ou acompanharam-me nas minhas saídas ou foram escritas por antecipação para serem publicadas como sempre foi hábito.

                Por via disto, há quem me considere alguém que gosta de rotinas ou que delas necessita. Não sei se será bem isso, porque a rotina enfada-me tremendamente. Há períodos em que a realização de determinadas tarefas é acompanhada de um nervoso miudinho, precisamente, porque essa rotina me agasta. Nunca foi o caso, mas também é verdade que houve sábados menos apetecidos e cansaços, mas o texto surgiu. Não foi por rotina, mas antes por comprometimento. Mais do que gostar de rotinas sou comprometida. Defeito de criação e de leituras, talvez… Torga e Kant têm a sua responsabilidade. Esse meu comprometimento para com os outros (não todos, obviamente, apenas os que sinto dignos dele) ou para com certas situações, permitem-me domesticar a minha rebeldia e desestruturação. Sempre foi esse comprometimento com a minha profissão e os meus alunos que me arrancou da cama às sete da manhã, sem nunca me apetecer, porque nunca tenho vontade de me levantar a essa hora, para ir trabalhar. Raramente faltei ou falto. Faço-o apenas por imperativos de razão superior. Sempre fui assim. Lembro-me ainda da reação, numa escola por onde passei, quando no dia doze de junho me despedi dos colegas e desejei umas boas férias, porque no dia seguinte não estaria. Tinha de parir. Estava marcado e o Rodrigo tinha de conhecer a mãe. É portanto mais por compromisso que levo os meus afazeres a sério do que gosto pela rotina. Há quem lhe chame determinação. Também poderá ser. No entanto, neste momento, não me comprometo com mais cem nem tão pouco com a regularidade que tem vindo a ser apanágio. Também não assino a extinção da rubrica, apenas me comprometo a escrevê-la quando a vontade me empurrar para a folha em branco e o tema a tratar surja com naturalidade, sem que tenha de o procurar. A maioria delas foi assim escrita, mas outras houve que tiveram de ser “cavadas”. É já muita palavra lavrada. Sinto que às vezes me repito. Sinal de coerência, mas incorro no perigo de vos cansar. Há que saber gerir os momentos…

Depois da declaração de descomprometimento, passo à reflexão de hoje. Numa das suas preleções, Karnal versava sobre a felicidade e sobre como a consciência nos torna cobardes, citando uma frase de Hamlet. Citava, como exemplo, o facto de aos 20 anos saltar para uma piscina subitamente e aos 50 entrar devagar… Eu costumo gostar de ouvir Leandro Karnal e, muitas vezes, até concordo com ele, mas não hoje, particularmente, neste aspeto. Considero o exemplo um pouco infantil e mal escolhido ou então foi a palavra cobardia mal usada. A consciência confere-nos peso, mas não nos torna obrigatoriamente cobardes (ou covardes, se preferirem. Existem as duas versões). O facto de entrar na água aos poucos, torna-o cauteloso ou um pouco mais temerário, porque entra devagar, pressentindo que o corpo vai notar a diferença de temperatura, mas não o impede de entrar. Depois, usar aqui a palavra cobardia parece-me exagero. A cobardia implica ausência de coragem ou deslealdade. Ora a consciência pode não obrigar forçosamente à cobardia. Se Karnal tivesse dado como exemplo um assalto em que a pessoa amedrontada e ameaçada não reage e colabora com o assaltante seria mais pertinente, mas ainda assim pode ser considerado cobardia?! Tratando-se da preservação da própria vida não será mais inteligente a atitude cautelosa? Ser corajoso não implica ausência de medo, logo, não implica inconsciência, mas antes senti-lo, sentir o seu peso e ser capaz de o enfrentar. O inverso, isto é, a ausência de medo é apenas sinal de estupidez, até porque este é o sensor para a nossa proteção. Esperava que de seguida ligasse a consciência à felicidade ou à infelicidade, o que acabou por acontecer, referindo que a consciência é a tomada de conhecimento do risco da vida e que a ignorância é uma bênção. Assim, quando há essa consciência a alegria torna-se difícil. Por exemplo, a consciência de que o problema de corrupção é estrutural na sociedade e não característica de um partido apenas, impede que haja felicidade quando surge um novo governo eleito. A consciência pesa. Neste aspeto, concordo com ele. A consciência dificulta a felicidade e pesa, poderá ser condição necessária à infelicidade, mas será condição suficiente? Quem não ouviu falar na dor de pensar de Pessoa que o leva ao refúgio na infância, lugar virtual de felicidade, onde reina a inconsciência, condição, segundo ele, necessária à felicidade. Acontece que o sujeito poético perde-se na dor e na cisão do eu ao desejar ser inconsciente e ter a consciência disso ou a querer resgatar e regressar a uma infância perdida (que nem existiu como é evocada, apenas fruto do seu intelecto!). Depara-se Pessoa com uma espécie de consciência infeliz hegeliana: a cisão em duas partes, uma que tem a sua essência residente no além e a outra parte de si mesma que vive no mutável, no aquém. Assim vive a consciência, a tentar fazer a síntese, sem saber que a universalidade absoluta que busca é também ela mesma. Desta forma, vive contraditória, sempre dolorida, num movimento contínuo de tentativa de libertar-se da dor que é ser portadora desta contrariedade: a vontade de ser o ser e o não-ser, o mutável e o imutável, o efémero e o eterno, o singular e o universal ou a parte e o absoluto. Será a inconsciência o segredo da felicidade? Não acredito. A felicidade deverá implicar a consciência e comportar todo o seu peso, porque a felicidade não exclui a dor. Ninguém passa pela vida incólume. As perdas acontecem e tem que haver superação. Antes de qualquer outra condição, a felicidade exigirá comprometimento com os nossos princípios e as nossas verdades, o que não pode existir sem consciência, não haverá felicidade sem a cura para as angústias inerentes à condição humana. Há que saber encontrá-la. Sempre de forma pessoal e intransmissível. Kierkegaard encontrou-a na religião, segundo Kafka, “A juventude é feliz porque tem capacidade de ver beleza. Qualquer um que tenha a capacidade de ver beleza nunca envelhece.”

Qual será a nossa cura?

Voltaremos, certamente, a encontrar-nos um dia destes.

 

Nina M.