O Homem distingue-se dos animais pela
capacidade de pensar. É esta faculdade que permite todas as grandes realizações
do ser humano e que lhe possibilita apreciar e ser sensível à arte. Pode-se
estremecer perante um quadro, arrepiar com uma música, rir ou chorar com um
livro, sentir uma ternura infinita perante a Pietà… Falamos de emoções, dirão alguns. Certo, porém, os
sentimentos também são produções cerebrais, estimulados pelo que vemos, ouvimos
e lemos.
Todo o Homem é um ser pensante. Como
diria Pessoa, é tão natural ao ser racional pensar como uma flor florir. No
entanto, a profundidade do pensamento de cada um poderá ser discutível. Uma das
temáticas de Fernando Pessoa é a “dor de pensar”. Segundo ele, o Homem seria
tão mais feliz quanto mais sensação, mais espontâneo e inconsciente fosse.
Reconhece, no entanto, a inevitabilidade do pensamento e, portanto, a
incapacidade para ser feliz.
Talvez o segredo para a tranquilidade de
espírito esteja na capacidade de relativização dos factos ou na ausência de reflexão,
se é que isso é atingível. Se perante uma tragédia ou perante o mal
adormecermos o pensamento e nos distanciarmos, não sentiremos a dor. Provavelmente
a distância é também um imperativo para vivermos melhor. Somos imbuídos de
compaixão pelos pequenos dramas caseiros e indiferentes pelas grandes tragédias
da humanidade. Talvez a guerra na Síria nos cause menos calafrios do que a
doença maligna do senhor António que, por acaso, até é boa pessoa e meu
vizinho. Esta aceitação pacífica dos horrores que nos são distantes compactua com
a atrocidade feroz que se abate sobre a humanidade. Temo bem que o egoísmo e a
preocupação pela autopreservação em detrimento do coletivo conduzam o Homem às
zonas mais sombrias da sua existência.
Desconheço quantos deixam que estas
preocupações ocupem o seu pensamento ou até se valerá a pena, já que o cidadão
comum se sente impotente para mudar o que quer que seja e considera as suas
intenções, apesar da boa vontade, infrutíferas e meros resquícios de um aliviar
de consciência que ninguém quer saber se existe. Resta saber como cada um de
nós quer ou pode coabitar consigo mesmo, reconhecendo que o seu papel face aos
desvarios do outro deveria ser mais preponderante na defesa do bem comum.
Nina M.
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