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sábado, 26 de setembro de 2020

Tristeza

 Carrego a tristeza do meu mundo

 Vejo-o sofrido e entristeço

 Pudesse com artes mágicas

Enfeitiçar os olhos do tempo

Enjeitar más previsões 

Conservá-lo quente no meu leito

Apertá-lo suavemente entre os braços

Sussurrar docemente bem baixinho

Trazer-lhe a paz que lhe foge a cada instante

E numa fé renovada e crescente

Dizer-lhe que o mundo não se esgota assim

Nem o amor na terra acaba de repente



 



Crónica de Maus Costumes 199

 

Parafraseando Manuel Machado: um vintém é um vintém e um cretino é um cretino

 

                Não consigo deixar de me indignar com certos acontecimentos do país e que vão sendo noticiados pelos meios de comunicação social. Não se trata de uma indisposição ligeira, mas de uma náusea feroz com revolução estomacal que me afeta e leva tempo a serenar. Não serenou.

            Irei repetir-me, porque ainda na semana passada abordei o assunto. Segundo notícia do expresso, o professor da Universidade Nova de Lisboa, Francisco Aguilar, julga que o feminismo é comparável ao nazismo e que, passo a citar, “deve-se encarar a advocacia dita ‘de género’ ou de ‘violência doméstica’ não como Direito mas como torto contra a família”. Ao que parece, a instituição em causa foi cúmplice destes desmandos, pois nunca colocou entrave aos dislates, tentando abafar o caso. A Associação Portuguesa de Mulheres Juristas já se pronunciou sobre o teor do programa em questão, considerando que “viola a Constituição da República e a Lei Internacional por atentar de forma direta e intensamente discriminatória contra os Direitos Humanos das Mulheres”. Este mesmo senhor está envolvido num processo, acusado de violência doméstica, por agressão verbal, por expulsar a companheira de casa a meio da noite sem explicação plausível, apenas porque a mulher usava vestidos justos ou máscara de pestanas. Apesar do despacho de acusação do Ministério Público sobre as agressões e sobre os insultos, a juíza não considerou que “tivesse existido abuso de poder nas condutas de Francisco Aguilar em relação à queixosa”, tendo, durante o julgamento, tranquilizado o réu com a garantia de que ela (juíza) não era feminista!

            Como não ferver perante isto? Só não posso verbalizar com toda a frontalidade o que penso destes dois senhores doutores da lei para não ser acusada de inflamar ódios e incitar vinganças, mas posso garantir que o que me passa pela cabeça e o que gostaria de lhes ver acontecer não é bonito. Ira! Pura ira! Um dos sete pecados capitais e eu pecadora me confesso. Ele é um homem jovem e instruído, deveria ter outra educação e outra formação assente em pilares promotores da justiça, da igualdade e da humanidade. Quanto à juíza, mulher, não a desculpo e não engulo tal sentença. Espero que a vítima consiga recorrer para outras instâncias. Quanto à sra. doutora, se pensa que o feminismo é dispensável, talvez seja melhor rodar os calcanhares e enfiar-se na cozinha, porque, afinal, segundo o machismo deplorável, esse é o lugar da mulher. O que faz ela numa sala de tribunal?! Como é possível uma mulher não ter empatia por outra que é vítima de maus tratos?! O que quer que seja que preside estas ações põe em causa séculos de luta! Representam um retrocesso inaceitável! Não seria caso de rever a capacitação da senhora juíza para o cargo que exerce?! Quem avalia os senhores juízes? Como confiar na justiça que protege os prevaricadores e escalpeliza a vítima, já de si fragilizada? E quem pensou nos interesses da criança, fruto deste relacionamento tóxico?!

            Quanto ao professor Francisco Aguilar, deixo-lhe um pequeno conselho para resolver os seus problemas de insegurança. O comportamento violento contra a companheira parece-me que só deixa a descoberto o ciúme doentio e o medo profundo de ser rejeitado. Antes que ela o fizesse, chegou a abrir-lhe a porta do carro para a deixar numa zona de prostituição, junto “das suas colegas”. Talvez não tenha reparado, mas tal observação fará de si um proxeneta! Talvez seja melhor que da próxima vez arranje uma mulher que aceite envergar uma burka para se mostrar apenas ao diligente marido! Veja lá se aprende o que consigna a Constituição Portuguesa, já que é do seu ofício e se aceita que a mulher é um ser humano absolutamente independente e nem o casamento a torna posse de alguém! Poderá ficar só e apenas enquanto quiser, assim como vestir-se como quiser, maquilhar-se como quiser e relacionar-se como e com quem quiser! Está no seu pleno direito, tal como o homem! O que é difícil compreender?! A psiquiatria talvez resolva.

Viva a liberdade! Viva a igualdade de género!

 

Nina M.

 

 

 

 

 

 

 

 

domingo, 20 de setembro de 2020

Baloiço Amarelo

No baloiço amarelo ao fundo do quintal

Vigio os silêncios perdidos da infância

Escondidos na penumbra da luz crepuscular

Erguem-se vozes agudas às vezes gritos

E a miudagem corre desabridamente

Nessas brincadeiras inocentes que trazem vida

Vigio, agora, todos os silêncios da infância

E o cheiro a mosto do outono e das castanhas

Inebriam o ar e os sapatos gastos soltam os ouriços

Há frémito e danças sob o fraco sol em declínio

As primeiras chuvas empoçam a terra

Há saltos na água lamacenta suja e escura

Há risos estridentes e cheiro a terra molhada

Campeonatos alegremente inventados

De sorvedouro de águas paradas da chuva

Sobre o gradeamento verde do jardim

Sente-se o primeiro frio que eriça a pele

Vigio sentada no baloiço amarelo

Os silêncios inexistentes do passado

São todos de hoje e convergem-se para mim

sábado, 19 de setembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 198

 

Mulher

            Morreu Ruth Bader Ginsburg (RBG). Antes do seu falecimento, a juíza ainda teve tempo para manifestar a sua opinião relativamente à sua substituição no Supremo Tribunal norte-americano: só deverá ocorrer após as eleições, lembrando que o anterior Presidente Obama, noves meses antes das eleições, não substituiu um dos juízes. A menos de dois meses das presidenciais, veremos se Trump terá a mesma hombridade. Dignidade e caráter devem revelar-se sempre e não só quando dá jeito. Veremos se o ainda presidente resiste à tentação de nomear um juiz republicano para um cargo que é vitalício, por interesse partidário.

RBG foi escolhida pelo ex-presidente Clinton, mostrou-se uma indefectível defensora de causas nobres como a igualdade de género, os direitos das pessoas com deficiência, os direitos dos imigrantes, entre outras, sempre com inteireza e coragem. Os Estados Unidos da América ficaram empobrecidos, hoje. Todas as mulheres do mundo perderam um bocadinho de si também. A sua chegada a um cargo de enorme relevância num dos países mais influentes do mundo é um sinal positivo e um exemplo. A mulher pode e deve ter um papel igual aos dos homens, se essa for a sua vontade e se a sua competência e as suas qualidades assim o justificarem. Em pleno século XXI estamos longe de alcançar a igualdade de género. Continua a ser imprescindível lutar pela causa e desmistificar preconceitos, tantas vezes perpetuados pelas próprias mulheres, vítimas de fatores culturais e educacionais.

Desde sempre é assim, mas no mundo de progresso de hoje, onde prolifera o conhecimento, a ciência e a tecnologia, é vergonhoso. A luta não está ganha e não é uma luta de mulheres, mas de todos! Não podemos permitir que os homens que parimos, que albergamos nas entranhas e de quem cuidamos, nos olhem com superioridade. Sem a mulher, a sua existência não seria viável e o nosso papel é bem mais preponderante do que o de simples parideiras! Respeito, exige-se!

A condenação da fêmea começou cedo: Pandora, a devassa que libertou os males no mundo; Lilith, a primeira Eva que não se subjugava a adão e que foi expulsa do paraíso, a mãe de mil demónios; depois Eva, a que foi feita da mesma carne do companheiro, que se mostrou dócil, mas que instigou Adão à desobediência, convencendo-o a comer a maçã. Como se Adão não fosse capaz de decidir por si! Em última instância, atribui-se a Eva a responsabilidade do pecado original: a cobiça e a desobediência à vontade divina. Depois, houve Lot ou Ló, se preferirmos, e as suas duas filhas que o embriagaram e se deitaram com o próprio pai em nome da perpetuação da sua geração, de onde nasceria, mais tarde, o Messias. Na narração, minimiza-se o papel de Lot, que embriagado, não sabia o que fazia… Como disse Júlio Machado Vaz, no seu primeiro programa televisivo sobre sexualidade, se Lot não soubesse o que fazia, também não teria sido capaz de uma ereção. Tal ousadia, num país ainda tacanho e cheio de tabus, fez com o seu programa fosse relegado para a uma da manhã. Tal pena! Muito teria servido para a educação sexual dos portugueses. Quem sabe se parte deles e sobretudo delas não teriam tido uma vida íntima mais satisfatória e agradável.

Há muito por fazer ainda por esse mundo fora. A mulher tem de ser entendida como um ser com os mesmos direitos e os mesmos deveres de um homem! Não precisa da autorização de ninguém para viajar ou para conduzir, para estudar, para trabalhar ou seja para o que for e tem o mesmo direito ao prazer que o homem, logo a mutilação genital feminina e outras práticas hediondas são uma violência e uma crueldade que apenas manifestam a ignorância de quem as defende e de quem as pratica. Haja legislação que regulamente estes desmandos e haja educação para que se entenda, para que a própria mulher compreenda que ela também é gente!

 

Nina M.

               

               

 

 

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Ser às vezes sangra

 Ser às vezes sangra

Na voz de Lispector

E sangra as duas dores

A dor de ser e a dor do poeta

Trespassa os ossos

E Calcina a alma

Asfixia do real

Parido do Diabo

Ser às vezes sangra

Saber não fugir

À desdita com coragem

Saber acolhê-la 

Sem a deixar à margem

E no contínuo crescimento 

Tornar-se o ser exangue

Que recusa esmorecimento

Como todo o irmão de sangue

Ser às vezes sangra





segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Esperança

Não deixes, humano peito,

A dor ferir-te

Ou um espasmo de alma 

Deixar-te triste

Porque a cada anoitecer

Sucede uma nova aurora

Grávida de esperança 

E sem demora

Afasta tamanho luto

Se a ausência é possível

Também a saudade e o seu fruto:

O amor indivisível

Pleno belo e absoluto


domingo, 13 de setembro de 2020

Ocaso

Enquanto aguarda o ocaso

De um novo dia já feito

Olha o mar entristecido

O poeta, de coração desfeito

A estrela fulgente pousará

Docemente no mar de prata

Dizem, então, os amigos

Não te agastes, ó poeta, 

Olha que a dor não mata!

Que sabem eles das penas

Dos ocasos de uma existência

Se o sol se deita no mar

E amanhece já em terra

Mas quando a vida terminar

Não há quem a erga na serra

Sobrarão os versos perdidos

De todos os que não os leram

Dos poetas esquecidos

Dos leitores que não vieram

E assim tão triste e só

Absorto neste seu ofício

Compõe versos o poeta

Com amor e sacrifício

Arruma o coração e a pena

Olha o rubi que se afunda

Quando o seu ocaso surgir

Depositará sobre a patena

O poema que sentir

A dor que com outros comunga





Crónica de Maus Costumes 197

 

Sensibilidade e bom gosto

            Ao assistir ao filme “A Paixão de Van Gogh”, deparei-me com uma frase sua para caracterizar a relação que tinha com o seu irmão: “Duas cabeças e um só coração”.

Efetivamente, era este irmão quem sustentava Vincent, quem lhe encomendava as telas e as tintas, quem colocou o seu seio familiar em dificuldades económicas para permitir que o artista desse asas à criação. O pintor sabia-o e vivia atormentado com esse facto, que juntamente com a sua melancolia crónica o conduziram ao suicídio.

Estes génios das artes, dotados de uma invulgar sensibilidade, que os fratura com o mundo, não raras vezes resolvem a sua profunda tristeza e a sua dor com o suicídio. Os exemplos são variados: Antero de Quental, Camilo Castelo Branco, Mário de Sá-Carneiro, Cesare Pavese, Virgínia Woolf, Ernest Hemingway, só para citar alguns nomes da literatura… Não há como explicar a capacidade de produção de objetos artísticos que nos despertam emoções a não ser pela sensibilidade raríssima que permite ao artista o dom de criar transcendência e beleza, mas que os afasta inevitavelmente do vulgo e das mentes ordinárias, no sentido de comuns.

“Duas cabeças e um só coração”. Frase absolutamente feliz e poética para falar de alguém a quem se encontrava profundamente e intimamente ligado. Apesar da solidão sentida, Vincent tinha o amor do irmão, a quem escrevia diariamente e que acabou por falecer pouco tempo depois da sua morte. Um só coração não vive pela metade. Nem o criador nem o seu patrono viveram o suficiente para saberem do sucesso de Van Gogh. Os quadros do pintor, acumulados por Théo, em sua casa (só tinha vendido um) seriam um enorme sucesso posteriormente. As dificuldades não impediram a crença no irmão, aquele que nos deixou um legado imenso, apesar da curta carreira artística. A falta de reconhecimento e a sua dependência económica ditaram-lhe o destino. Muitos génios criadores são almas poéticas condenadas a ver e a sentir mais além, os ultrassensíveis inadaptados ao mundo pouco tolerante que os engole e os destrói. Invariavelmente, o apreço chega demasiado tarde, sem que o autor consiga aplacar as suas ânsias e as suas dúvidas e saiba, com certeza, da qualidade da obra.

Esta consciência fere, pois apresenta-nos a inevitabilidade da injustiça e do cinismo. O artista ignorado ou maltratado pela ordem social deixa um legado, um espólio admirável a quem sempre o espezinhou. De louco e proscrito passa a idolatrado. Pena que não o tivesse sentido. Pena que não soubesse que a doação de si era compreendida.

Haverá maior generosidade do que entregar a alma aos seus semelhantes e ser capaz de o fazer com génio, brilho e emoção? Quanto lhes deve a humanidade por cada arrepio de pele, cada olhar embaciado pela emoção e pelo efeito de assoberbamento?

Quanto não vale a sinceridade e a honestidade de nos mostrar o que somos: ínfimos pontos na imensidão de um Universo?

Nina M.

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Sei

 Sei
Vejo os sinais ao longe
Repudio a ansiedade mártir
Fecho a concha sobre o meu mundo
Um vácuo de estômago
Expurga os silêncios amargos sepultados
Palavras roxas de frio e pálidas de morte
Silenciadas. Perderam o seu instante.
Porém, a memória, essa velha luxúria,
Sabe guardá-las e ao seu sabor...
Preenchem o tempo e validam-no
Fazem-no vida e sentido em mim
Ser de esperança desfeita
Átomo de ilusões puras
Longínquas e sós

sábado, 5 de setembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 196

 

Regresso

Chegou setembro e para mim, tal como para muitos professores, sentimos este mês como o início do ano. É muito mais o início de uma nova etapa cada primeiro de setembro do que o primeiro de janeiro. Por isso, sempre que me remeto ao ano anterior, penso em função de ano letivo.

Desejo a toda a comunidade educativa um bom recomeço, mas com a consciência de que nada será como antes. Muito se fala nos perigos a que todos estaremos expostos e é visível o agastamento entre os profissionais da classe (com razões para isso) perante o comportamento dos que determinam os desígnios da nação. Eu também preferiria que houvesse as condições necessárias para ficarmos apenas com doze ou quinze alunos por sala, procedendo-se à contratação de mais professores e mais auxiliares da ação educativa, mas todos sabemos que isso não irá acontecer e muitas escolas não teriam tão pouco a capacidade física para poder funcionar dessa forma. Seria muito bom que os sucessivos governos privilegiassem a educação no seu programa político, mas, na verdade, não o fazem e quando mexem nesse dossiê, eu já tremo por antecipação, por saber que vai implicar mais trabalho para o professor com os mesmos ou menos recursos e pouco reconhecimento por parte da sociedade civil. É o que temos.

Até há pouco, no funcionalismo público, de entre os profissionais de saúde, os médicos ainda iam sendo tratados com algum respeito, mas parece que até isso se perdeu. As palavras amargas, algo iradas e profundamente injustas lançadas pelo senhor primeiro-ministro deveriam deixá-lo envergonhado, mas isso é emoção que há muito o político deixou de sentir. De modo que se nem os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, variados técnicos, auxiliares e afins) têm as condições de segurança e de higiene que deveriam, por estarem na linha da frente, o que fará os restantes! Neste momento, nem os profissionais de saúde são testados com facilidade! Imaginem que há um doente internado num qualquer hospital há três semanas e que por motivos de uma cirurgia testou positivo. Os pacientes que com ele partilhavam quarto são testados, mas os profissionais de saúde apenas são avaliados tendo em conta os minutos que passaram com o doente e as circunstâncias em que se encontravam, por exemplo, se usavam ambos máscara. Se o risco for considerado alto, vai para quarentena sem teste, se for de baixo risco continua a trabalhar normalmente. Pessoas que lidam com doentes todos os dias não são testadas, mesmo correndo o risco de estarem contaminados e serem fonte de propagação da doença! Perante estes factos, o que pensar?

O país não tem dinheiro para mandar cantar um cego! A suposta recuperação económica desde a última intervenção do FMI não foi tão notória quanto quiseram fazer crer e ao mínimo estremeção, a economia volta a abanar. Sabemos que os desvios ilícitos e as negociatas ruinosas deitam o país a perder, mas não há quem imponha ordem na casa e a Assembleia tornou-se um local onde pouco se liga à população, mas onde se zela pelos próprios interesses e onde as oligarquias partidárias perpetuam os seus poderes. A arte nobre que era a política, na sua génese, transformou-se num lodaçal e quanto mais observo mais me enojo e acabo a pensar que mesmo os que para lá foram com honestas intenções ou se acabam por perder durante o caminho e fazem como todos os outros ou se afastam em defesa da sua autenticidade e do seu caráter (poucos) ou são afastados pela maioria, que não gosta que lhes coloque entraves nas suas ambições. O mais curioso é que se este texto fosse lido por qualquer político, seria apodado de discurso populista e fico a pensar que talvez seja mesmo, uma vez que a honestidade parece uma qualidade importante e que se exige apenas ao povo, já que na classe política existem os desmandos que sabemos…

Mediante este estado de alienação, não esperemos grande coisa por parte de quem nos governa. Com o país à míngua, é imperioso que a economia, já de si frágil, continue a mexer, pois não há fundo de maneio para tanto apoio! Os pais têm mesmo que continuar a trabalhar, se quiserem pôr o pão na mesa! Os filhos têm de ficar em algum lado e, por esse motivo de força maior, as escolas têm mesmo de funcionar em pleno. A segunda razão, que deveria ser a primeira pela ordem de importância, é que o ensino presencial é essencial. Só em presença há verdadeira aprendizagem, principalmente nos grupos etários mais baixos, e é esta ideia que os pais mais preocupados e que acompanham as atividades escolares dos seus educandos me têm feito chegar. Estão cobertos de razão. Neste cenário, nem tudo é absolutamente Dantesco. Para nos tranquilizarmos um pouco, ao que parece, estudos recentes indicam que a contaminação por contacto com superfícies é muitíssimo baixa. Assim sendo, o que é verdadeiramente importante fazer? Usar as máscaras (ao contrário do que a DGS dizia anteriormente). Todos! A máscara que eu uso protegerá o outro e a do outro protege-me a mim. Desinfetar as mãos antes de a remover e lavá-las com regularidade. É absolutamente necessário que toda a gente proceda deste modo. Não é sensato haver aglomerados em cafés sem máscaras! Muita gente tem ironizado com o faco de as pessoas revelarem medo, mas não se terem coibido de ir para a praia. Convém lembrar que se trata de um espaço aberto e que era perfeitamente possível manter o distanciamento físico de segurança e procurar lugares menos frequentados. Eu assim fiz. Aliás, por idiossincrasia minha, detesto multidões, pelo que não me obriga a qualquer medida extraordinária (abro exceção para os festejos das grandes vitórias do FCP, antes da COVID-19).

O vírus continua por cá, não se irá embora tão cedo e nós não podemos ficar com as nossas vidas em suspenso indefinidamente. Resta adaptarmo-nos a uma nova realidade e viver bem com ela.

Um bom ano letivo para todos repleto de saúde.

 

Nina M.

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Fim

Se porventura, amor,
A vida me fugir cedo
(Sempre é cedo e inoportuno...)
Nada de mim guardes
O sorriso
O olhar
O meu alheamento
Tão pouco a saudade!
Os meus melhores versos somente...
Talvez os possas lançar à terra
E serem boa semente...
Se porventura, amor,
A senilidade vier bruta
Antes do fim da carcaça
Podre e engelhada
Sabe que não mais serei eu
Não me procures o olhar
Só encontrarás o vazio
Alma ausente dispersa e perdida
Sem alegria nem angústia
Sem felicidade nem dor
Só o exílio do Nada!
Então, saberás o meu fim.