Regresso
Chegou setembro e para mim, tal como para muitos
professores, sentimos este mês como o início do ano. É muito mais o início de
uma nova etapa cada primeiro de setembro do que o primeiro de janeiro. Por
isso, sempre que me remeto ao ano anterior, penso em função de ano letivo.
Desejo a toda a comunidade educativa um bom
recomeço, mas com a consciência de que nada será como antes. Muito se fala nos
perigos a que todos estaremos expostos e é visível o agastamento entre os
profissionais da classe (com razões para isso) perante o comportamento dos que
determinam os desígnios da nação. Eu também preferiria que houvesse as
condições necessárias para ficarmos apenas com doze ou quinze alunos por sala,
procedendo-se à contratação de mais professores e mais auxiliares da ação
educativa, mas todos sabemos que isso não irá acontecer e muitas escolas não
teriam tão pouco a capacidade física para poder funcionar dessa forma. Seria
muito bom que os sucessivos governos privilegiassem a educação no seu programa
político, mas, na verdade, não o fazem e quando mexem nesse dossiê, eu já tremo
por antecipação, por saber que vai implicar mais trabalho para o professor com
os mesmos ou menos recursos e pouco reconhecimento por parte da sociedade
civil. É o que temos.
Até há pouco, no funcionalismo público, de entre os
profissionais de saúde, os médicos ainda iam sendo tratados com algum respeito,
mas parece que até isso se perdeu. As palavras amargas, algo iradas e
profundamente injustas lançadas pelo senhor primeiro-ministro deveriam deixá-lo
envergonhado, mas isso é emoção que há muito o político deixou de sentir. De
modo que se nem os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, variados
técnicos, auxiliares e afins) têm as condições de segurança e de higiene que
deveriam, por estarem na linha da frente, o que fará os restantes! Neste
momento, nem os profissionais de saúde são testados com facilidade! Imaginem
que há um doente internado num qualquer hospital há três semanas e que por
motivos de uma cirurgia testou positivo. Os pacientes que com ele partilhavam
quarto são testados, mas os profissionais de saúde apenas são avaliados tendo
em conta os minutos que passaram com o doente e as circunstâncias em que se
encontravam, por exemplo, se usavam ambos máscara. Se o risco for considerado
alto, vai para quarentena sem teste, se for de baixo risco continua a trabalhar
normalmente. Pessoas que lidam com doentes todos os dias não são testadas,
mesmo correndo o risco de estarem contaminados e serem fonte de propagação da
doença! Perante estes factos, o que pensar?
O país não tem dinheiro para mandar cantar um cego!
A suposta recuperação económica desde a última intervenção do FMI não foi tão notória
quanto quiseram fazer crer e ao mínimo estremeção, a economia volta a abanar.
Sabemos que os desvios ilícitos e as negociatas ruinosas deitam o país a
perder, mas não há quem imponha ordem na casa e a Assembleia tornou-se um local
onde pouco se liga à população, mas onde se zela pelos próprios interesses e
onde as oligarquias partidárias perpetuam os seus poderes. A arte nobre que era
a política, na sua génese, transformou-se num lodaçal e quanto mais observo
mais me enojo e acabo a pensar que mesmo os que para lá foram com honestas
intenções ou se acabam por perder durante o caminho e fazem como todos os
outros ou se afastam em defesa da sua autenticidade e do seu caráter (poucos)
ou são afastados pela maioria, que não gosta que lhes coloque entraves nas suas
ambições. O mais curioso é que se este texto fosse lido por qualquer político,
seria apodado de discurso populista e fico a pensar que talvez seja mesmo, uma
vez que a honestidade parece uma qualidade importante e que se exige apenas ao
povo, já que na classe política existem os desmandos que sabemos…
Mediante este estado de alienação, não esperemos
grande coisa por parte de quem nos governa. Com o país à míngua, é imperioso
que a economia, já de si frágil, continue a mexer, pois não há fundo de maneio
para tanto apoio! Os pais têm mesmo que continuar a trabalhar, se quiserem pôr
o pão na mesa! Os filhos têm de ficar em algum lado e, por esse motivo de força
maior, as escolas têm mesmo de funcionar em pleno. A segunda razão, que deveria
ser a primeira pela ordem de importância, é que o ensino presencial é
essencial. Só em presença há verdadeira aprendizagem, principalmente nos grupos
etários mais baixos, e é esta ideia que os pais mais preocupados e que
acompanham as atividades escolares dos seus educandos me têm feito chegar.
Estão cobertos de razão. Neste cenário, nem tudo é absolutamente Dantesco. Para
nos tranquilizarmos um pouco, ao que parece, estudos recentes indicam que a
contaminação por contacto com superfícies é muitíssimo baixa. Assim sendo, o
que é verdadeiramente importante fazer? Usar as máscaras (ao contrário do que a
DGS dizia anteriormente). Todos! A máscara que eu uso protegerá o outro e a do outro
protege-me a mim. Desinfetar as mãos antes de a remover e lavá-las com
regularidade. É absolutamente necessário que toda a gente proceda deste modo.
Não é sensato haver aglomerados em cafés sem máscaras! Muita gente tem
ironizado com o faco de as pessoas revelarem medo, mas não se terem coibido de
ir para a praia. Convém lembrar que se trata de um espaço aberto e que era
perfeitamente possível manter o distanciamento físico de segurança e procurar lugares
menos frequentados. Eu assim fiz. Aliás, por idiossincrasia minha, detesto multidões,
pelo que não me obriga a qualquer medida extraordinária (abro exceção para os festejos
das grandes vitórias do FCP, antes da COVID-19).
O vírus continua por cá, não se irá embora tão cedo
e nós não podemos ficar com as nossas vidas em suspenso indefinidamente. Resta adaptarmo-nos
a uma nova realidade e viver bem com ela.
Um bom ano letivo para todos repleto de saúde.
Nina M.