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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 14



            Todos conhecemos gente que só vê o copo meio vazio. Todos nós somos um pouco assim, especialmente, quando a vida nos surpreende com duros golpes, difíceis de amparar e que nos deixam momentaneamente desorientados e perdidos. Sentimo-nos revoltados e então surge a ira e o rancor que, normalmente, não resolvem nada. Só quando deixamos de esmurrar o ar e ganhamos alguma serenidade, as coisas se vão arranjando. Muitas vezes, nada muda. A situação permanece intacta, mas a nossa visão apazigua-se e aceita a contrariedade. A Partir dessa altura, podemos traçar novos rumos, porque o discernimento fez amizade com a nossa alma.
            Quando o copo meio vazio cede lugar ao meio cheio, é porque nós aprendemos a gerir a crise em que nos encontrávamos e, sobretudo, encontrámo-nos connosco. O ruído que existe à nossa volta impede, muitas vezes, de nos ouvirmos. Cumprimos com as rotinas mecanicamente e, assim que esta é alterada, surge a estupefação, o medo e a raiva. Tornámo-nos incapazes de apreciar os aspetos positivos, porque não estamos bem connosco e assim nada nos agrada ou satisfaz. Acontece a todos, esporadicamente. No entanto, há quem viva nessa agonia constante, o que não é saudável. Não adianta tentar explicar que essa visão é pessimista, pois não se trata apenas de uma opinião, mas de uma forma de sentir e de estar. Na verdade, se não estivermos bem na nossa própria companhia, se nos sentirmos sós, desamparados ou injustiçados pela vida, iremos sempre encontrar defeitos onde outros veem virtudes.
            O bom das crises é que estas não são perenes e fazem-nos crescer, porque o que não nos mata, torna-nos mais fortes. Ensinam-nos a saber relativizar os acontecimentos e a perceber que há sempre quem esteja pior. Ensinam-nos a olharmos para dentro e a percebermos o que de facto é importante. Ninguém gosta de sofrer, obviamente, mas a tristeza também faz parte da vida e é fundamental para que saibamos dar valor ao que nos torna felizes!
            Não quero olhar para trás e pensar que era feliz e não sabia! Quero ser feliz e ter consciência dessa alegria, porque tudo é transitório e nada é garantido! Saibamos apreciar o que nos é dado a cada momento, a retirar o melhor dos nossos dias. Preservemos as perfeições dos nossos dias imperfeitos e sejamos felizes!
Nina M.

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