As férias avizinham-se e
as minhas, este ano, serão mais tranquilas. Se é certo que ainda não sei em que
escola vou ficar, sei, pelo menos, que fico colocada logo a partir de setembro
e que pertenço ao quadro da região que me interessa. Também sei que vou sentir
uma certa nostalgia pelos dias extra de férias, mas não da amargura que os
acompanhavam. Os dias subsequentes à não colocação não são fáceis de enfrentar,
porque nos vemos usurpados da nossa identidade. Em muitos lugares, na nossa
vida civil, somos tratados por professor ou professora… Ora, não há professor
sem alunos e assim parece que subitamente nos despem a pele e nos esvaziam de
nós mesmos. Eu já conseguia gerir a situação com alguma tranquilidade, mas há
colegas que ficam verdadeiramente ansiosos, nervosos e irritados, mesmo sabendo
que vai surgir alguma coisa, pois sentem-se vilipendiados, expulsos do seu
próprio ser. Eu sei o que é e como tal fico a desejar com todas as minhas
entranhas que tenham a maior sorte do mundo. Sim, nem posso atestar com
confiança que a competência de cada um será reconhecida, porque, de certa
forma, estão entregues a uma espécie de jogo maquiavélico em que a sorte ou a
falta dela ditará o futuro.
Sem querer ser mal interpretada (mas os que comigo privaram desses momentos
compreenderão), terei saudades das gargalhadas saudáveis produzidas na sala
onde aguardávamos, enquanto não chegava a nossa vez para tratar do pedido de
subsídio de desemprego. Neste momento, esse brilhante grupo de alguns anos está
desfeito, para benefício de muitos. Talvez o segurança responsável por
assegurar a ordem na sala respire de alívio, pois certamente nunca terá visto
um grupo de professores tão mal comportados, ruidosos e com o desplante de se
rirem da sua própria desgraça! No ano transato, alguém atirou para o ar que mesmo
que estivesse colocado, havia de lá ir, porque aqueles momentos eram
inigualáveis! Eu até gostaria, mas não tenho tal atrevimento, por respeito a
quem ainda não conseguiu o seu lugar ao sol tão merecido quanto o meu!
Tenho sido bastante felicitada e esta semana, para mim, foi feliz, pior do que
um casamento cigano, pois a festa foi rija e longa, porém, o espinho da miséria
permanece a lembrar que muitos que eu tão bem conheço ainda não têm a sua
situação resolvida.
Vai correr bem, certamente. Quem me dera poder espargir-vos com o néctar da
boa ventura!
Nina M.
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