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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 45



            As férias avizinham-se e as minhas, este ano, serão mais tranquilas. Se é certo que ainda não sei em que escola vou ficar, sei, pelo menos, que fico colocada logo a partir de setembro e que pertenço ao quadro da região que me interessa. Também sei que vou sentir uma certa nostalgia pelos dias extra de férias, mas não da amargura que os acompanhavam. Os dias subsequentes à não colocação não são fáceis de enfrentar, porque nos vemos usurpados da nossa identidade. Em muitos lugares, na nossa vida civil, somos tratados por professor ou professora… Ora, não há professor sem alunos e assim parece que subitamente nos despem a pele e nos esvaziam de nós mesmos. Eu já conseguia gerir a situação com alguma tranquilidade, mas há colegas que ficam verdadeiramente ansiosos, nervosos e irritados, mesmo sabendo que vai surgir alguma coisa, pois sentem-se vilipendiados, expulsos do seu próprio ser. Eu sei o que é e como tal fico a desejar com todas as minhas entranhas que tenham a maior sorte do mundo. Sim, nem posso atestar com confiança que a competência de cada um será reconhecida, porque, de certa forma, estão entregues a uma espécie de jogo maquiavélico em que a sorte ou a falta dela ditará o futuro.
Sem querer ser mal interpretada (mas os que comigo privaram desses momentos compreenderão), terei saudades das gargalhadas saudáveis produzidas na sala onde aguardávamos, enquanto não chegava a nossa vez para tratar do pedido de subsídio de desemprego. Neste momento, esse brilhante grupo de alguns anos está desfeito, para benefício de muitos. Talvez o segurança responsável por assegurar a ordem na sala respire de alívio, pois certamente nunca terá visto um grupo de professores tão mal comportados, ruidosos e com o desplante de se rirem da sua própria desgraça! No ano transato, alguém atirou para o ar que mesmo que estivesse colocado, havia de lá ir, porque aqueles momentos eram inigualáveis! Eu até gostaria, mas não tenho tal atrevimento, por respeito a quem ainda não conseguiu o seu lugar ao sol tão merecido quanto o meu!
Tenho sido bastante felicitada e esta semana, para mim, foi feliz, pior do que um casamento cigano, pois a festa foi rija e longa, porém, o espinho da miséria permanece a lembrar que muitos que eu tão bem conheço ainda não têm a sua situação resolvida.
Vai correr bem, certamente. Quem me dera poder espargir-vos com o néctar da boa ventura!
Nina M.
           









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