Escrevo só entre a gente, porque não me
foi possível de outra maneira. Quando a solidão não é imposta é boa. Sendo uma
escolha, permite ganhar o fôlego, retemperar as energias necessárias para
enfrentar o quotidiano tantas vezes tão avassalador.
Às vezes, por um impulso egoísta ou de
individualidade, apetecia-me refugiar-me de tudo e de todos, mas a
responsabilidade e o amor não deixam. Passamos os dias em corridas frenéticas
sem tempo para nos olharmos e vermos por dentro, tentando chegar a todo o lado
em simultâneo. Precisaríamos de dias de quarenta e oito horas para cumprir
escrupulosamente a agenda. Como só têm vinte e quatro, há sempre algo por
cumprir e fica-se com um amargo de alma por não completar a planificação.
Muitas vezes, falta cumprir o mais essencial, que vamos adiando, empurrando com
a barriga, sem pressa, para outro dia, aquilo que deveria estar no topo da
lista. Falo da família, obviamente, que com o excesso de trabalho é sempre quem
sofre a negligência.
Em épocas assim, o silêncio e a solidão
assumem uma preponderância vital, mesmo que seja por breves instantes, pois
permite-nos manter a sanidade.
O tempo agracia-nos com a serenidade,
paciência e anseios de solitude. Nem sempre foi assim, porque sempre fui uma
pessoa de pessoas. Gosto genuinamente de pessoas, com os defeitos e virtudes
que tal implica. Há vinte anos, os momentos a sós eram aborrecidos,
entediavam-me. A roda de amigos era mais atraente e imprescindível. Hoje, há
momentos em que tudo o que se deseja, entre as múltiplas tarefas que se
desempenha, é um breve instante de solidão. Daquela que sabemos ininterrupta e
que nos limpa o coração. Não é fácil e torna-se invariavelmente o último dos
nossos afazeres e apenas se for possível.
Pela sua raridade, esta experiência é-me
cada vez mais gratificante e cara. O que se faz com ela depende do estado de
espírito e do gosto de cada um. Quanto ao que me cabe, não gosto de ficar a
olhar para o vazio. Prefiro a solidão ocupada. Pode ser com leitura ou escrita
ou corrida ou um filme ou apenas com memórias e reflexões. Bem vistas as
coisas, nem sei se chega a ser solidão, mas por isso é que é boa.
Nina M.
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