O Ronaldo foi pai. A mim, parece-me que
o título mais adequado aos tabloides para cumprir melhor com a sua função
sensacionalista seria: “Ronaldo compra gémeos!” A notícia seria verdadeira e
cumpriria com a regra de prender o possível leitor ao título.
Não tenho nada contra o Ronaldo e até
simpatizo com a figura, mas no que diz respeito à forma como encomendou os seus
três filhos, só posso ficar horrorizada. No meio de todo o processo, o jogador
tornou a mãe do filho descartável e reduziu a Mulher a uma incubadora, cujo
único fim é procriar. Ocorre-me perguntar-lhe se, nos tempos em que permaneceu
afastado da família, enquanto esteve na academia do Sporting, não sentiu a
falta de todos, mas especialmente da mãe e se quando estava triste e com
saudade não pedia que ligassem à mãe. Pois bem, foi esse direito que Ronaldo
sonegou ao filhos, quando decidiu ser pai através da reprodução independente.
Até a expressão “reprodução independente” me causa náuseas pelo oximoro que a
sustenta. Quer a natureza que a espécie se propague através da comunhão e da
partilha e não da independência! Também não aceito o argumento de que há muitas
crianças órfãs de mãe. É uma realidade, mas basta as que existem por motivos de
força maior, ainda assim muito injustamente, porque uma criança não deveria
nunca perder os seus progenitores!
O Ronaldo comprou os filhos como quem
vai a um supermercado e compra uma refeição já preparada e que basta aquecer no
forno. Mata igualmente a fome, mas é menos saborosa. Ele provavelmente não
acompanhou a gravidez. Não esteve presente na primeira ecografia para ouvir o
coração dos bebés galopar, não acompanhou a par e passo as várias etapas e o
desenvolvimento dos filhos. Não consolou a progenitora enquanto o desequilíbrio
hormonal a deixava instável; não lhe disse que continuava linda, mesmo mais
gorda e barriguda; não sentiu os pontapés nem viu como a barriga se molda e se
contorce na última fase da gravidez; não observou o esgar de dor da mulher que
sufoca, quando sente os pezitos nas suas costelas; não lhe segurou na mão
durante o parto nem cortou o cordão umbilical dos filhos, mas o Ronaldo é pai!
Não faltará nada a estas crianças! Só a
mãe! Resta saber se o Ronaldo também lhes comprará uma!
Sem querer condenar, não aceito que as
próprias mulheres contribuam para a desigualdade de géneros. Ao permitirem que
usem o seu corpo desta forma, aceitam que lhes faltem ao respeito. Talvez a
razão seja por carência económica, eu quero acreditar nessa possibilidade, para
tornar o sucedido menos hediondo a meus olhos, porque uma mulher que alberga um
ser dentro de si durante nove meses e que o sente, cuida e alimenta não deveria
ser capaz de o descartar com facilidade. Eu não seria, independentemente de ser
ou não meu filho biológico. O milagre da vida foi transformado em mercadoria
ambulante e o corpo da mulher vendido. As mulheres que o fazem, de facto não
são mães, porque estas protegem, seguram e são ciosas das suas crias.
Na realidade, o Ronaldo não foi pai,
tornou-se pai. Foi por amor às crianças, dirão muitos. Não. Foi por amor a si
próprio, para seu prazer e contentamento. Foi por egoísmo e o verdadeiro amor é
uma dádiva que coloca o interesse do outro antes do seu, neste caso, o supremo
interesse da criança antes de qualquer outro. Os verdadeiros pais
compreendem-no e as verdadeiras mães sabem-no.
Eu até gosto de ti, Ronaldo, mas ao
contrário de muitos que calam a indignação perante o direito que adquiriste com
o dinheiro que justamente ganhas, digo com toda a frontalidade que não está
correto e o que fizeste é, no mínimo, moralmente questionável.
A vida humana não se compra, porque não
tem preço. Se não aceitamos este princípio como válido, então, abrimos portas
ao tráfico de seres humanos, de órgãos e afins.
Para onde caminha a humanidade?
Nina M.
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