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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 22



Há situações que esfregam a nossa fragilidade diante dos olhos com um descaramento cínico e impertinente que nos desconcerta. A morte repentina e precoce é uma delas. Aparece de supetão para deixar os nossos projetos em suspense e não admite reclamações. Depois, há gente afortunada que consegue dar-lhe um chuto e afastar a ceifeira até que esta se lembre de voltar à carga, para nos arrancar à vida terrestre e imperfeita. Será este o fim de todos, mas que todos querem afastar o máximo possível, pelo menos enquanto tiverem qualidade de vida suficiente que lhes permita viver com independência e dignidade.
Há, no entanto, outras circunstâncias que, não sendo finitas, lembram-nos da nossa finitude e enchem-nos de pavor e de incertezas. Assim acontece com o diagnóstico de tumores e de carcinomas, que até há uns anos era tomado como uma sentença de morte. Felizmente, a medicina evoluiu e ainda muito recentemente surgiram notícias de um novo fármaco bastante eficaz no tratamento deste tipo de doenças, com efeitos secundários reduzidos e controláveis. São estas novidades que nos vão dando alento para prosseguirmos e pensarmos que enquanto há vida, há esperança. É sabido que o otimismo é imprescindível para quem se debate e luta com um problema destes, porém, com certeza, haverá momentos em que o positivismo se esconde no céu nublado do coração e a alma se entristece.
Gostaria que os que sofrem e pugnam para recuperarem a normalidade das suas vidas (tantas vezes menosprezada por nós) sentissem que não estão sós. Há outros que passam pelo mesmo e outros que, não estando em situação semelhante, se unem na dor, na esperança, na luta, na oração e no desejo de recuperação. Talvez as palavras não sejam suficientes, talvez nem confortem, mas querem ser portadoras de boas vontades que se enchem de esperança num novo recomeço. Certamente, os que passam por situações-limite apreciam a vida com mais sabor, mais calma, sabem valorizar cada dia que nos é oferecido e distinguir o que é verdadeiramente importante, esquecendo o acessório. Nós também o sabemos em teoria, mas como tudo na vida, há uma larga distância entre o saber teórico e o empírico. Quem finta a morte sabe, por experiência, que nada é garantido. Aprendamos com eles e vivamos mais e melhor.
Depois da tempestade, vem sempre a bonança. Seja ela qual for.
 Nina M.

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