Há
situações que esfregam a nossa fragilidade diante dos olhos com um descaramento
cínico e impertinente que nos desconcerta. A morte repentina e precoce é uma
delas. Aparece de supetão para deixar os nossos projetos em suspense e não
admite reclamações. Depois, há gente afortunada que consegue dar-lhe um chuto e
afastar a ceifeira até que esta se lembre de voltar à carga, para nos arrancar
à vida terrestre e imperfeita. Será este o fim de todos, mas que todos querem
afastar o máximo possível, pelo menos enquanto tiverem qualidade de vida
suficiente que lhes permita viver com independência e dignidade.
Há,
no entanto, outras circunstâncias que, não sendo finitas, lembram-nos da nossa
finitude e enchem-nos de pavor e de incertezas. Assim acontece com o
diagnóstico de tumores e de carcinomas, que até há uns anos era tomado como uma
sentença de morte. Felizmente, a medicina evoluiu e ainda muito recentemente
surgiram notícias de um novo fármaco bastante eficaz no tratamento deste tipo
de doenças, com efeitos secundários reduzidos e controláveis. São estas
novidades que nos vão dando alento para prosseguirmos e pensarmos que enquanto
há vida, há esperança. É sabido que o otimismo é imprescindível para quem se
debate e luta com um problema destes, porém, com certeza, haverá momentos em
que o positivismo se esconde no céu nublado do coração e a alma se entristece.
Gostaria
que os que sofrem e pugnam para recuperarem a normalidade das suas vidas
(tantas vezes menosprezada por nós) sentissem que não estão sós. Há outros que
passam pelo mesmo e outros que, não estando em situação semelhante, se unem na
dor, na esperança, na luta, na oração e no desejo de recuperação. Talvez as
palavras não sejam suficientes, talvez nem confortem, mas querem ser portadoras
de boas vontades que se enchem de esperança num novo recomeço. Certamente, os
que passam por situações-limite apreciam a vida com mais sabor, mais calma,
sabem valorizar cada dia que nos é oferecido e distinguir o que é
verdadeiramente importante, esquecendo o acessório. Nós também o sabemos em
teoria, mas como tudo na vida, há uma larga distância entre o saber teórico e o
empírico. Quem finta a morte sabe, por experiência, que nada é garantido.
Aprendamos com eles e vivamos mais e melhor.
Depois
da tempestade, vem sempre a bonança. Seja ela qual for.
Nina M.
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