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sábado, 30 de março de 2019

Se um abraço se oferece

Se um abraço se oferece
E dois seres se enlaçam
Duas almas florescem
No brilho de um olhar
O mundo desaparece
Sobra o amor que anoitece
E acaricia o despertar
Na noite nua e pura
Ergue-se o sopro que dura
Chega a verdade vencida
Adivinhada num breve respirar
Simples e efémeros mortais
Sempre desejosos de mais
Querem o tempo parar
Ânsia divina e louca
Que teimam perpetuar
Desafiados deuses e demónios
Importa ao amor não falhar
Querem o seu por direito
Sem absolvição divina
Humano é o gesto e o peito
E a terra onde ele germina!

Crónica de Maus Costumes 125


Imprevistos

Toda a nossa a vida é um grande imprevisto que vamos escrevendo à medida que vamos existindo. A crónica de hoje é exemplo disso mesmo. Não era para ser este o tema, mas outro que anotei num qualquer pedaço de papel e que já não sei onde guardei. Talvez se pensar bem, me lembre, mas também já não me faz falta nenhuma, porque a imprevisibilidade da vida faz com que eu faça inversão de marcha e siga novo trilho.
A surpresa bateu à porta dos vizinhos. Não foi boa. Tendemos a pressupor que as surpresas sejam agradáveis, mas nada mais errado. Basta procurarmos o étimo da palavra. Surpresa vem do francês surprise, do verbo surprendre, que, por sua vez, tem origem no latim prehendere e que significa prender, agarrar. O prefixo (sur) significa sobre. Facilmente chegamos à total compreensão da palavra. Alguém é “sobreprendido”, ou seja, um bandido que se prepara para assaltar alguém, mas que é surpreendido e acaba ele preso pela vítima. Surpresa! Nada positiva. De modo que a esperança que teima em acreditar que uma surpresa será sempre positiva é infundada, para não dizer estúpida.
A surpresa que se abateu sobre estas pessoas foi negativa e estúpida por ferir a natureza e o percurso natural das coisas. Perderam um filho de vinte e nove anos, que tinha acabado de se levantar e se preparava para tomar o pequeno-almoço. Caiu com grande estrondo. Com o barulho, pais e irmão levantaram-se e viram o corpo caído, inanimado. Um jovem sem qualquer problema de saúde. Obviamente, chamaram o INEM e o rapaz foi prontamente socorrido por outra vizinha enfermeira que, apesar dos esforços, não conseguiu segurar a vida, que sentiu escorrer-lhe por entre os dedos, enquanto fazia as manobras de reanimação cardíaca, até que a equipa médica chegasse. Fulminante.
Talvez todos gostássemos de uma morte assim: limpa e cirúrgica, mas não aos vinte e nove! A partir de muita idade e muita vida e se as forças nos faltassem! Até lá, queremos sorver vida!
Hoje, acredito que metade da alma daqueles pais morreu juntamente com o filho. Sobra outro, que não ocupa o vazio e a saudade e a dor que ficam, mas que obriga a alguma reação e possibilitará, talvez, algum conforto… Deveria ser terminantemente proibido um progenitor ver o seu filho partir antes de si. É o absurdo da vida e tudo aquilo que nos ausenta de um sentido fere e mata. Julgo não haver absurdo, angústia ou dor maior para suportar. Por alguns testemunhos que já li, os pais em luto pela perda de um filho (luto que é interminável) aprendem a lidar com a dor, aprendem a gerir a dor que não se desvanece, mas que se aninha dentro deles e vai causando danos mais suaves com a passagem do tempo. Porém, ninguém deveria ter que passar por uma provação desta natureza.
Só me lembro da crónica de Lobo Antunes, feliz por lhe ter surgido nítida a ideia para a escrita do seu próximo livro e que, de repente, se lembra dos pais e lhe sai um “como gostaria que me houvessem dado colo! Às vezes sou tão pequeno!” E estas palavras de um velho gigante literário emocionam-me e penso: “ainda bem que dei colo, muito colo aos meus”! E continuo a dar sempre que mo pedem e até quando o rejeitam. E hoje, mais certamente sei que nenhum momento deve ser desperdiçado e faço o mea culpa por todas as vezes que resmungo, porque me obrigam a levantar da cama ao exigirem o beijo de boa-noite, antes de adormecerem. Faço-me sempre de difícil e de zangada, pois bem que os avisei que se se demorassem a arranjar para dormir, a mãe deitar-se-ia primeiro e não iria ao quarto. Acabo normalmente por ceder. Desconfio que preciso mais eu do beijo e do abraço do que eles. Ao ler Lobo Antunes, fico aliviada. Não quero que os meus filhos algum dia digam que a mãe não lhes deu colo e lhe sentiram a falta ou eu pensar que poderia não ter tido pruridos emocionais e ter-lhes dito vezes sem conta que os amava. Prolongarei os beijos ao adormecer, ao entardecer e ao amanhecer e multiplicarei os “amo-te mais que muito” por esta vida fora, porque nunca saberei quando será o meu último. Sei apenas que um dia o será. Espero mesmo que a despedida seja minha e que tenham eles de lidar com a perda da mãe, lá para os noventa e qualquer coisa…
Nina M.

 


sábado, 23 de março de 2019

Crónica de Maus Costumes 124


Silveirices e infortúnios

            Fosse eu Ricardo Araújo Pereira e teria matéria de sobra para fazer uma excelente rubrica para a Mixórdia de Temáticas.
            Descobri por estes dias o verdadeiro significado de pessoas tóxicas referenciadas, inúmeras vezes, em artigos manhosos de psicologia e autoajuda. Porém, apesar de algum manifesto preconceito, devo dar-lhes razão. Pessoas com esse traço distintivo de carácter conseguem indispor quem está ao seu redor, apesar do esforço por manter a bonomia e a boa-disposição.
            Genericamente, veem problemas em todo o lado e se fazemos questão de os solucionar, desencantam um ainda mais difícil para resolver… São pessoas que em vez de procurarem soluções, procuram problemas. Obviamente, a identificação do problema é necessária para a sua resolução, mas pessoas tóxicas focam-se na dificuldade e ali se mantêm como um disco riscado fiel à agulha. E se alguém lhes aponta uma saída, fazem questão de recuar três passos, não vá a pessoa ter descoberto mesmo a solução! São pessoas indispostas e pouco flexíveis. Não cedem um palmo com receio de que tal comportamento lhes traga um problema irresolúvel. Destilam o fel da indisposição e parecem furiosas com o mundo! Nem o melhor dos otimistas se atreva a tentar minimizar a situação, porque o enfadonho problemático vai escarnecer da positividade e num passo de mágico arranjar, repentinamente, mais duas ou três dificuldades sobre as quais ainda ninguém tinha pensado! E aguarda, ufano da sua proeza, o resultado, olhando nos olhos de quem insiste em resolver assuntos, como quem diz “ tens a mania, então, resolve lá mais este…” Quase se lhes consegue sentir o sabor doce do triunfo se o desenrascado se enrasca e não lhe surge logo ali, de supetão, uma resposta firme e à altura da situação. Triunfante, continua a debitar lixo que intoxica até que o seu interlocutor não é mais capaz de acompanhar os seus histerismos e sai derrotado, não pelas dificuldades, mas por quem tem prazer em provar que a vida é mesmo difícil e que talvez mais valesse não ter nascido!
            Sempre desconfiados, acreditam que o universo se uniu e conspira contra a sua pobre alma, que nada fez para merecer tal! É mais fácil acreditar nisso do que enfrentar os seus medos e admitir que a sua vida é fruto das suas escolhas, apesar de as circunstâncias também ditarem muita coisa. Não é fácil escolher e decidir em condições adversas, porém, é algo que cada um de nós tem de fazer por si, se possível sem condenar o outro por ações que são da sua responsabilidade, com ou sem atenuantes.
            Há gente verdadeiramente difícil!
Nina M.
           
           

segunda-feira, 18 de março de 2019

Prece


Não entristeças, meu bem
O adeus que passou na brisa morna
É somente um breve até amanhã
A cada nova aurora a natureza se transforma
Cada despedida é presença tua que retorna
Alma despida e plena de instantes duradouros
É memória, é tempo e universo
Fragmentos coligidos docemente
É amor conservado num só verso
Em mim guardado religiosamente
Intocável grande e imortal
Não sucumbe à tentação de ser
Permanece puro, em beleza sem igual
Para não haver risco de o perder
No absurdo existencial de que é feito
Coexistem tudo e nada, alfa e ómega
Não pode apertado laço ser desfeito
E nessa certeza a alma não cega

sábado, 16 de março de 2019

Crónica de Maus Costumes 122


O Sabor da Infância

            O tema não é novo. Já o abordei mais do que uma vez neste espaço. A infância tem, em mim, a mesma importância que o sonho. Já me assumi saudosista e a infância deixa-me uma saudade boa, daquela que nos faz parecer estúpidos, quando somos apanhados a rir sós, sem que os outros percebam as nossas razões. Normalmente, não apetece explicar, porque o pensamento já terá dado tantas voltas que conseguir explicar como se chegou ao passado é complicado. Então, vale mais como resposta um encolher de ombros ao jeito de quem diz : “rio-me por nada” e arruma-se o assunto.
            A minha infância tem cheiros, sabores e muitas pessoas. Algumas já não partilham esta dimensão e lembrá-la é também recordar os que já desapareceram. Lembro-me, repentinamente, do senhor Zé Corino que quando passava, a miudagem corria atrás dele. “Ó senhor Zé, faça lá um verso!” E o poeta popular, mal-amanhado, pobremente vestido, de calças escuras e largas, lá desencantava rapidamente uma quadra para gáudio dos cachopos! “ Faça outra!” Pedíamos. Era assim até que se fartasse ou lhe faltasse a inspiração. Talvez o meu gosto pelas rimas venha daí!...
Sabe a cristas de silvas novas cortadas, descascadas e comidas sob um sol tórrido de verão, a azedas de trevos que podiam ou não ser de quatro folhas (ninguém gostava deles, mas todos os comiam!) e a água da chuva (destilada, portanto) com sabor a tinta do gradeamento do jardim, nos famosos concursos de sorvedouro, a paparotos de amoras no tempo quente de julho e a baloiços perigosos feitos com um rebo de eucalipto e uma corda atado a um carvalho enorme. À luz do tempo, é perigoso. Se a corda se desatasse, alguém poderia ter-se magoado seriamente, mas ao menino e ao borracho põe-lhe Deus a mão por baixo e Ele quis que a ganapada se divertisse na sua absoluta inconsciência e audácia, sem que nenhum mal viesse… A minha infância também está povoada das vozes esganiçadas das mães que gritavam tão fortemente pelo nome dos filhos que era audível a dois quilómetros de distância! Não havia telemóveis nem eram necessários! Sempre alguém ouvia e avisava o parceiro que a mãe estava a chamar. Corríamos que nem loucos, monte acima e monte abaixo descobrindo minas de água, presas onde se colhiam os agriões para a salada e madeira encastelada transformada em torre de castelo onde morava a Rapunzel…
            A minha infância também sabe a fruta roubada pelos mariolas que trepavam às árvores que nem macacos e traziam no regaço o produto do imenso trabalho e também a castanhas retiradas dos ouriços com os pés. Sabe ao vento frio do outono e do inverno que não era suficiente para impedir as brincadeiras, mas o cheiro da terra quente do mês de julho, que se sentia pela noite dentro e permitia as brincadeiras até às onze da noite, era especial…
            Hoje, já não há meses de julho assim tão quentes… A saudade duplica pelo tempo vivido e pelo calor…
            Há uma magia na infância, e aquela de que falo durou até cerca dos 11 anos, que não mais desaparece da alma. As sensações ficaram incrustadas e volta e meia surgem à superfície para me fazer sorrir… Quando é que a realidade se tornou complicada? Parece-me que a partir da adolescência. Não sinto a mesma nostalgia dessa fase. Não deixa grande saudade. Parece haver um lapso temporal entre a infância e a faculdade, tempo que recordo com prazer, de natureza diferente da pureza da meninice, mas ainda assim com crescimento, desenvolvimento pessoal, muita alegria e algumas dores também. O que está no meio não foi, com certeza, terrível, mas por algum motivo não se destaca.
            Seja como for a infância, tempo mítico da felicidade plena, só encontra concorrente quando se sonha de olhos fechados, mas abertos e se deambula na imaginação, onde se recria novas vidas e experiências como se quer e deseja, sem que o peso do mundo possa interferir. É-se novamente criança e absolutamente, intrinsecamente e irremediavelmente feliz!
Nina M.

quarta-feira, 13 de março de 2019

Manifesto

Não mais sucumbirei ao desalento
E a cada dificuldade 
Acenarei com um sorriso
Perdi a tristeza toda
Lá no fundo de um tempo
Em que fui viúva de mim
Ressurgi forte e segura
Alegremente percorro os trilhos do ser
Sem queixume ou lamento
Apenas inquietação resiliente
Recuso bater-me com a vida
Ou esmurrar o ar em vão
Visto-me de maleabilidade
Evito as esquinas e as ruas escuras
Mantenho longe de mim as agruras
Olho e alcanço nuvens brancas
Céu azul e sol doirado
Ofertei ao Diabo as negruras
E nas asas do poeta me refugio
Anjo proscrito e protetor
Mundo de luz onde não cabe a dor!

terça-feira, 12 de março de 2019

Queda

Talvez pudéssemos cair
Assim... Nos braços um do outro
Sem remorso nem arrependimento
Como quem toma o fruto maduro
Da colheita de si
Numa única redenção
Para depois viver a sua ausência
Furtarmo-nos uma vez à decência...
Talvez pudesse ser fácil
Simples e livre tal momento
Ou antes existências presas
Ao delírio da vontade
À saudade apetecida
Não quereríamos uma só vez
Mas infinitamente repetida
Num apelo sério de alma perdida

Porque se me tiram a poesia

Porque se me tiram a poesia
Levam-me a brisa no rosto
O sol, o mar e as estrelas...

Porque se me roubam as palavras
Sonegam-me carícias e abraços
Beijos ardentes sob o luar de verão

Porque se me recusam os livros
Mutilam-me a alma
Impedem a cura de meus desesperos

Porque se me escondem as letras
Largam-se as mãos dadas num momento
Desfazem-se os dedos entrelaçados

Sem o som da palavra
Que ecoa sempre dentro de mim
Fica o ser abandonado à tristeza sem fim
Sombra de essência perdida
Sem novos mundos e sem vida

Abismo

Ergue-se o olhar ante o abismo
Na vertigem de um momento
Lança-se a alma bem aberta
à loucura gritada de outros
No salto dado plana o espírito
Leve e suave, flor de lótus sobre a água
Abre-se o ser a novas dimensões
Vida que se escreve novamente
Deixa-se a alma enredar nessas ilusões
Não sabe já qual a sua verdadeiramente
Todas e não apenas uma
Juntam-se na ânsia de tudo
E abraça com desespero o infinito
Caminha abraçada ao sonho
Que amanhã foi nuvem de algodão
Enquanto dura a esperança
Alheia à sensatez, apenas lúcida
Percorre com incúria de criança
De mãos estendidas os mistérios
Encerrados no ser, seu eremitério
Como jogo antigo arranca
Uma a uma as pétalas ao malmequer
Força-se a beijar o limite
Fio ténue que balança
Alegremente se equilibra numa dança

sábado, 9 de março de 2019

Crónica de Maus Costumes 121


 Mulher, Criatura Divina

Recentemente, celebrou-se o dia da mulher. Não gosto particularmente desses dias definidos para celebrar o que quer que seja, por ficar com a sensação de que se é necessário celebrar é porque ainda é esquecido algo que não deveria ser.
Ninguém é mulher, namorada ou mãe apenas num dia particular ! É-o todos os dias e, como tal, merece ser lembrada por esse facto diariamente, para não correr o risco de ser reconhecida apenas uma vez no ano !
As estatísticas corroboram esta ideia. Infelizmente, as agressões diárias a mulheres continuam a existir. Por serem mais frágeis, sofrem os abusos em silêncio, por pavor e como se os merecessem ! Talvez devesse iniciar o texto, começando por dizer que nada, mas absolutamente nada, justifica tal cobardia. A violência é sempre, sob todas as suas formas, condenável. Ponto. Torna-se pior, quando uma das partes se impõe pela força física, que a sua condição masculina atribui. É execrável, hediondo e homenzinho sem escrúpulos todo aquele que o faz. Parece-me bem que se sente tão diminuído e inferior em tantos outros outros domínios, que lhe sobra apenas a bruteza como forma de mostrar uma suposta superioridade que não existe !
Irrita-me sobremaneira que em pleno século XXI ainda haja mortes sucessivas por violência doméstica e que a justiça seja tão branda com o agressor, penalizando duplamente a mulher. Mesmo quando esta tem a coragem de quebrar com o ciclo de violência, normalmente, é ela quem sai de casa, quem leva os filhos à socapa e se esconde, ficando longe da própria família para não ser descoberta. Como se a mulher fosse um objeto que vem com título de propriedade ! Nem mesmo o matrimónio confere registo de possessão ou usucapião ! A mulher é livre de permanecer se assim o entender e desejar, uma vez que é um ser humano com vontade própria. Para quem gostar de citações bíblicas, a mulher terá sido feita da costela do homem para caminhar ao seu lado e não da mão ou do pé, para que este nem a subjugasse nem a pisasse !
Irrito-me mais ainda com algumas mulheres que pela postura e crença assumidas acabam por subscrever a sua suposta inferioridade ! Sei que as mudanças culturais são lentas, mas é necessário quebrar este ciclo com urgência !
 Mulher pode e deve trabalhar fora de casa, se quiser ; pode ter filhos apenas se quiser e não porque é o seu papel ; pode ser mecânica ou engenheira ou pedreira ou cozinheira ou costureira, e até doméstica, se essa for a sua vontade, mas apenas porque é a sua vontade e não uma imposição familiar ou social!
Choca-me que mulheres instruídas sejam capazes de dar tiros nos próprios pés e ponham em causa valores pelos quais outras lutam desde sempre !
Li um artigo de opinião da Dra. Joana Bento Rodrigues, médica de profissão, mebro do TEM (Tendência Esperança em Movimento), em que se definia como « anti-feminista » por estas rejeitarem o potencial feminino, matrimonial e maternal, tecendo um conjunto de argumentos de que a mulher é por natureza « talhada » para a decoração e o gosto pela organização e arrumação, incluindo de si mesma (potencial feminino) ; para o matrimónio, gostando de ficar muitas vezes na sombra, abdicando de uma carreira, cuidando de tudo, para que o marido possa dedicar-se em exclusivo à profissão e ter sucesso profissional. Chegou mesmo a dizer que as mulheres não se importam de receber menos pelo mesmo trabalho efetuado por um homem ! Por fim, naturalmente, a mulher não abdica do seu papel de mãe. Ora, as feministas, segundo a Dra. Joana Rodrigues contrariam todos estes pressupostos e, portanto, rejeitam a sua condição de mulheres !
A perplexidade e a indignação tomaram conta das minhas entranhas, que por acaso já acolheram dois seres e os expeliram para o mundo, mas apenas porque tive vontade de ser mãe ! Efetivamente, quis esse papel. Escolha que fiz, Doutora Joana, e não imposição social ! E onde vai buscar o gosto pela organização e arrumação e blá, blá, blá ?!... Pois sou mulher, não sou feminista, mas feminina, e detesto arrumações ! A minha condição feminina não me trouxe com qualquer apelo especial pelas tarefas domésticas, especialmente, as que obrigam precisamente a arrumar ! Irra, que nervos ! Até suo sem as executar ! Saiba que as faço. Faço de tudo em casa, porque não gosto de viver num pardieiro ! Não por gostar especialmente desse trabalho ! E faço-o, porque é necessário e tenho um companheiro de vida que é habitante da mesma casa e não um hóspede e, como tal, também tem duas mãos, pelo que não ajuda, porque a sua função não é ajudar é também fazer ! É da sua responsabilidade manter a casa onde habita limpa e organizada ! Tanto quanto minha, porque ambos trabalhamos ! Já agora, também nunca abdicaria do meu trabalho para apenas tomar conta dos filhos ou da casa, porque seria castrador ! Quem decide o que me preenche, satisfaz e me motiva sou eu e não papéis sociais estereotipados ! E olhe que mesmo assim consigo arranjar tempo para os meus filhos, ir buscá-los à escola (maioritariamente o pai) e evitar que permaneçam mais do que o necessário nos depósitos de crianças em que as escolas e ATL’s se transformaram. Sabe outra coisa, Dra. Joana ? Os meus filhos são crianças felizes, apesar de a mãe trabalhar bastante !
Já agora, gostaria de saber por que motivo não abdica da sua carreira ?! Ou será que abdicou dos filhos ? E como médica, trabalhando o mesmo que um colega homem de profissão, não se importaria de ganhar menos ?!
Não consigo entender como uma mulher de hoje pode ter este discurso e acreditar nele !
O útero com que viemos ao mundo é uma bênção ! Todos os homens vieram ao mundo pelas entranhas de uma mulher. É fabuloso que o suposto sexo fraco seja aquele que é capaz de parir ! Como disse, o útero é uma bênção e amor infinito, não deve ser castração de ninguém nem das suas vontades ! Respeito !
Nina M.




terça-feira, 5 de março de 2019

"Amo-te que nem louco!"

"Amo-te que nem louco!"
Dizes-me, meu bem,
Perco-me em tuas angústias
Encontro-me mais além...
Sempre que olho e me vejo
Observo alguma estranheza
Nova água nova fonte novo vento
Nunca nunca nunca repetido
Traz em si certo retorno fingido

"Amo-te que nem louco!"
Insistes
E na dor de te ver triste
Refaço o que ainda existe
Alento luar astros e estrelas
Visto-me com o brilho delas
Só para te alegrar...

Olhas-me com exaustão
Como quem quer abrir a mão
Por me sentir escorregar
Fecho-ta de mansinho
Num gesto de carinho
E assim descansar...

Pássaro azul fugidio
Sonha livre fulgor luzidio
Estica as asas num doce planar
Volteia, faz voo picado, abranda antes de pousar
Em teu ninho preparado
Todo bem arranjado
Que o pássaro quer guardar

"Amo-te que nem louco!", dizes.
E é sempre esse amor
Que acaba por ficar.



sábado, 2 de março de 2019

Sono

Que bom seria adormecer 
nos braços de um amor leve e doce
Pesado o suficiente para me amparar
Ver esse amor toda a noite
Antes de Morfeu me guiar
Por entre estrelas e luas
Sereias e fadas de encantar...
Com ele queria acordar
Pela aurora reluzente
Sugestão de dia claro e imponente
E então erguiam-se Orpheu e Calíope
Convocariam Nereidas e Musas
Acordariam Cupido ainda adormecido
E em conluio secreto e urgente
Despertariam em cada dia 
Amor transcendente!

Minha velha amiga,

Minha velha amiga,
Tardaste tanto!
Refúgio de saudade escondida!
Quis falar-te assim baixinho
Suavemente...devagarinho
Para o coração embalar
Fingi que nem estava triste
Talvez, por isso, não ouviste
O meu profundo respirar...
De onde vem a dor e a mágoa?
De tão longe chega a frágoa!
Não consigo imaginar...
Forja-a a martelo e a cinzel
Embeleza-a com tons pastel
Deixa que saiba a choro sob o luar...
Escuta a triste litania
Como bela melodia
Que acompanha o respirar
Nesse compasso terno e lento
O ser ganha novo alento
Para novo madrugar...
Angústia cristalina e pura
Só em ti me quedo segura
Queres-me bem. Não censuras.
Cumpres a tua missão
Dás-me papel e a mão
E num gesto absorto
Solfejas canto meio morto
Somente alma e expiação.

Crónica de Maus Costumes 121



Mau Tempo no Canal

            Não irei abordar criticamente a obra de Vitorino Nemésio, que originou o subtítulo da crónica. Aliás, hoje, estive prestes a declarar luto e a anunciar que a crónica suspendia funções e regressaria no próximo fim de semana. Impediu-me o respeito por quem me acompanha, até porque pertencem a variados setores clubísticos.
            Se já custa perder em qualquer circunstância, em casa, contra o rival mais “tinhoso” deste universo, custa muito mais. Eu já nem me lembrava de como era! E preferia ter permanecido amnésica, infelizmente, ditou a sorte (hoje maldita!) que assim não fosse…
            De maneira que à falta de vontade para fazer o que quer que seja, alia-se a má disposição que contamina tudo e impede que as coisas saiam perfeitas.
Felizmente, já tinha as moelas e as bifanas preparadas, caso contrário, os convivas de amanhã iriam estranhar a perda súbita de mão, e perguntar o que se tinha passado. Irão fazê-lo com a bola de carne que não é o que deveria ser… O melhor foi parar com os cozinhados e sentar-me ao computador.
Como se vê, também a crónica não será nada de especial nem apresentará qualquer reflexão de fundo. Apenas o dissabor de uma derrota possível, mas imprevista e que custará a engolir. Também se dispensam as piadas habituais da azia e do rennie, porque, para além de muito gastas, nem uma caixa inteira resolveria o problema… Há que dar tempo para se digerir o infortúnio…
Aos jogadores do meu imenso e sempre enorme Futebol Clube do Porto, grata pela entrega. Lembrar apenas que nessa casa engole-se a derrota e a frustração e nunca se deita a toalha ao chão, enquanto for matematicamente possível e houver pontos em disputa. Ficou muito mais difícil é certo, mas se fosse fácil, não seria tarefa para dragões! Há muito ainda pelo que trabalhar. Até ao fim, porque somos Porto!
Quanto aos adversários, parabéns pelos pontos conquistados, que foi a única coisa ganha até ao momento. Desejo um bom regresso ao local de origem e aguardo, naturalmente, que as coisas vos corram bem mal um dia destes. Nada pessoal, meramente questão de gosto. É que no futebol não consigo simpatizar com equipas que vestem de vermelho! É, na realidade, uma imagem Dantesca e a acreditar que o inferno possa existir, só me lembro que tenho de ser mesmo boa pessoa para que um dia não tenha que levar com o Belzebu e os seus acólitos avermelhados! Cruzes canhoto! Deus me livre! Também não insistam com o encarnado, porque cá em cima essa cor nem existe!
Depois disto, resta-me desopilar, arranjar algo que sirva de sedativo, porque amanhã será outro dia!
Saudações portistas.

Nina M.