Se um abraço se oferece
E dois seres se enlaçam
Duas almas florescem
No brilho de um olhar
O mundo desaparece
Sobra o amor que anoitece
E acaricia o despertar
Na noite nua e pura
Ergue-se o sopro que dura
Chega a verdade vencida
Adivinhada num breve respirar
Simples e efémeros mortais
Sempre desejosos de mais
Querem o tempo parar
Ânsia divina e louca
Que teimam perpetuar
Desafiados deuses e demónios
Importa ao amor não falhar
Querem o seu por direito
Sem absolvição divina
Humano é o gesto e o peito
E a terra onde ele germina!
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sábado, 30 de março de 2019
Crónica de Maus Costumes 125
Imprevistos
Toda a nossa a vida é um grande imprevisto que
vamos escrevendo à medida que vamos existindo. A crónica de hoje é exemplo
disso mesmo. Não era para ser este o tema, mas outro que anotei num qualquer
pedaço de papel e que já não sei onde guardei. Talvez se pensar bem, me lembre,
mas também já não me faz falta nenhuma, porque a imprevisibilidade da vida faz
com que eu faça inversão de marcha e siga novo trilho.
A surpresa bateu à porta dos vizinhos. Não foi boa.
Tendemos a pressupor que as surpresas sejam agradáveis, mas nada mais errado.
Basta procurarmos o étimo da palavra. Surpresa vem do francês surprise, do verbo surprendre, que, por sua vez, tem origem no latim prehendere e que significa prender,
agarrar. O prefixo (sur) significa
sobre. Facilmente chegamos à total compreensão da palavra. Alguém é
“sobreprendido”, ou seja, um bandido que se prepara para assaltar alguém, mas
que é surpreendido e acaba ele preso pela vítima. Surpresa! Nada positiva. De
modo que a esperança que teima em acreditar que uma surpresa será sempre
positiva é infundada, para não dizer estúpida.
A surpresa que se abateu sobre estas pessoas foi
negativa e estúpida por ferir a natureza e o percurso natural das coisas. Perderam
um filho de vinte e nove anos, que tinha acabado de se levantar e se preparava
para tomar o pequeno-almoço. Caiu com grande estrondo. Com o barulho, pais e
irmão levantaram-se e viram o corpo caído, inanimado. Um jovem sem qualquer
problema de saúde. Obviamente, chamaram o INEM e o rapaz foi prontamente
socorrido por outra vizinha enfermeira que, apesar dos esforços, não conseguiu
segurar a vida, que sentiu escorrer-lhe por entre os dedos, enquanto fazia as
manobras de reanimação cardíaca, até que a equipa médica chegasse. Fulminante.
Talvez todos gostássemos de uma morte assim: limpa
e cirúrgica, mas não aos vinte e nove! A partir de muita idade e muita vida e
se as forças nos faltassem! Até lá, queremos sorver vida!
Hoje, acredito que metade da alma daqueles pais
morreu juntamente com o filho. Sobra outro, que não ocupa o vazio e a saudade e
a dor que ficam, mas que obriga a alguma reação e possibilitará, talvez, algum
conforto… Deveria ser terminantemente proibido um progenitor ver o seu filho
partir antes de si. É o absurdo da vida e tudo aquilo que nos ausenta de um
sentido fere e mata. Julgo não haver absurdo, angústia ou dor maior para
suportar. Por alguns testemunhos que já li, os pais em luto pela perda de um
filho (luto que é interminável) aprendem a lidar com a dor, aprendem a gerir a
dor que não se desvanece, mas que se aninha dentro deles e vai causando danos
mais suaves com a passagem do tempo. Porém, ninguém deveria ter que passar por
uma provação desta natureza.
Só me lembro da crónica de Lobo Antunes, feliz por
lhe ter surgido nítida a ideia para a escrita do seu próximo livro e que, de
repente, se lembra dos pais e lhe sai um “como gostaria que me houvessem dado
colo! Às vezes sou tão pequeno!” E estas palavras de um velho gigante literário
emocionam-me e penso: “ainda bem que dei colo, muito colo aos meus”! E continuo
a dar sempre que mo pedem e até quando o rejeitam. E hoje, mais certamente sei
que nenhum momento deve ser desperdiçado e faço o mea culpa por todas as vezes que resmungo, porque me obrigam a
levantar da cama ao exigirem o beijo de boa-noite, antes de adormecerem. Faço-me
sempre de difícil e de zangada, pois bem que os avisei que se se demorassem a arranjar
para dormir, a mãe deitar-se-ia primeiro e não iria ao quarto. Acabo normalmente
por ceder. Desconfio que preciso mais eu do beijo e do abraço do que eles. Ao ler
Lobo Antunes, fico aliviada. Não quero que os meus filhos algum dia digam que a
mãe não lhes deu colo e lhe sentiram a falta ou eu pensar que poderia não ter tido
pruridos emocionais e ter-lhes dito vezes sem conta que os amava. Prolongarei os
beijos ao adormecer, ao entardecer e ao amanhecer e multiplicarei os “amo-te mais
que muito” por esta vida fora, porque nunca saberei quando será o meu último. Sei
apenas que um dia o será. Espero mesmo que a despedida seja minha e que tenham eles
de lidar com a perda da mãe, lá para os noventa e qualquer coisa…
Nina M.
sábado, 23 de março de 2019
Crónica de Maus Costumes 124
Silveirices e infortúnios
Fosse eu Ricardo Araújo Pereira e
teria matéria de sobra para fazer uma excelente rubrica para a Mixórdia de Temáticas.
Descobri por estes dias o verdadeiro
significado de pessoas tóxicas referenciadas, inúmeras vezes, em artigos
manhosos de psicologia e autoajuda. Porém, apesar de algum manifesto
preconceito, devo dar-lhes razão. Pessoas com esse traço distintivo de carácter
conseguem indispor quem está ao seu redor, apesar do esforço por manter a
bonomia e a boa-disposição.
Genericamente, veem problemas em
todo o lado e se fazemos questão de os solucionar, desencantam um ainda mais
difícil para resolver… São pessoas que em vez de procurarem soluções, procuram
problemas. Obviamente, a identificação do problema é necessária para a sua
resolução, mas pessoas tóxicas focam-se na dificuldade e ali se mantêm como um
disco riscado fiel à agulha. E se alguém lhes aponta uma saída, fazem questão
de recuar três passos, não vá a pessoa ter descoberto mesmo a solução! São
pessoas indispostas e pouco flexíveis. Não cedem um palmo com receio de que tal
comportamento lhes traga um problema irresolúvel. Destilam o fel da
indisposição e parecem furiosas com o mundo! Nem o melhor dos otimistas se
atreva a tentar minimizar a situação, porque o enfadonho problemático vai
escarnecer da positividade e num passo de mágico arranjar, repentinamente, mais
duas ou três dificuldades sobre as quais ainda ninguém tinha pensado! E
aguarda, ufano da sua proeza, o resultado, olhando nos olhos de quem insiste em
resolver assuntos, como quem diz “ tens a mania, então, resolve lá mais este…”
Quase se lhes consegue sentir o sabor doce do triunfo se o desenrascado se
enrasca e não lhe surge logo ali, de supetão, uma resposta firme e à altura da situação.
Triunfante, continua a debitar lixo que intoxica até que o seu interlocutor não
é mais capaz de acompanhar os seus histerismos e sai derrotado, não pelas dificuldades,
mas por quem tem prazer em provar que a vida é mesmo difícil e que talvez mais valesse
não ter nascido!
Sempre desconfiados, acreditam que o
universo se uniu e conspira contra a sua pobre alma, que nada fez para merecer tal!
É mais fácil acreditar nisso do que enfrentar os seus medos e admitir que a sua
vida é fruto das suas escolhas, apesar de as circunstâncias também ditarem muita
coisa. Não é fácil escolher e decidir em condições adversas, porém, é algo que cada
um de nós tem de fazer por si, se possível sem condenar o outro por ações que são
da sua responsabilidade, com ou sem atenuantes.
Há gente verdadeiramente difícil!
Nina M.
segunda-feira, 18 de março de 2019
Prece
Não entristeças, meu bem
O adeus que passou na brisa morna
É somente um breve até amanhã
A cada nova aurora a natureza se transforma
Cada despedida é presença tua que retorna
Alma despida e plena de instantes duradouros
É memória, é tempo e universo
Fragmentos coligidos docemente
É amor conservado num só verso
Em mim guardado religiosamente
Intocável grande e imortal
Não sucumbe à tentação de ser
Permanece puro, em beleza sem igual
Para não haver risco de o perder
No absurdo existencial de que é feito
Coexistem tudo e nada, alfa e ómega
Não pode apertado laço ser desfeito
E nessa certeza a alma não cega
sábado, 16 de março de 2019
Crónica de Maus Costumes 122
O Sabor da Infância
O tema não é novo. Já o abordei mais
do que uma vez neste espaço. A infância tem, em mim, a mesma importância que o
sonho. Já me assumi saudosista e a infância deixa-me uma saudade boa, daquela
que nos faz parecer estúpidos, quando somos apanhados a rir sós, sem que os
outros percebam as nossas razões. Normalmente, não apetece explicar, porque o
pensamento já terá dado tantas voltas que conseguir explicar como se chegou ao
passado é complicado. Então, vale mais como resposta um encolher de ombros ao
jeito de quem diz : “rio-me por nada” e arruma-se o assunto.
A minha infância tem cheiros,
sabores e muitas pessoas. Algumas já não partilham esta dimensão e lembrá-la é
também recordar os que já desapareceram. Lembro-me, repentinamente, do senhor
Zé Corino que quando passava, a miudagem corria atrás dele. “Ó senhor Zé, faça lá
um verso!” E o poeta popular, mal-amanhado, pobremente vestido, de calças escuras
e largas, lá desencantava rapidamente uma quadra para gáudio dos cachopos! “ Faça
outra!” Pedíamos. Era assim até que se fartasse ou lhe faltasse a inspiração. Talvez
o meu gosto pelas rimas venha daí!...
Sabe a cristas de
silvas novas cortadas, descascadas e comidas sob um sol tórrido de verão, a
azedas de trevos que podiam ou não ser de quatro folhas (ninguém gostava deles,
mas todos os comiam!) e a água da chuva (destilada, portanto) com sabor a tinta
do gradeamento do jardim, nos famosos concursos de sorvedouro, a paparotos de
amoras no tempo quente de julho e a baloiços perigosos feitos com um rebo de
eucalipto e uma corda atado a um carvalho enorme. À luz do tempo, é perigoso.
Se a corda se desatasse, alguém poderia ter-se magoado seriamente, mas ao menino e ao borracho põe-lhe Deus a mão
por baixo e Ele quis que a ganapada se divertisse na sua absoluta
inconsciência e audácia, sem que nenhum mal viesse… A minha infância também
está povoada das vozes esganiçadas das mães que gritavam tão fortemente pelo
nome dos filhos que era audível a dois quilómetros de distância! Não havia
telemóveis nem eram necessários! Sempre alguém ouvia e avisava o parceiro que a
mãe estava a chamar. Corríamos que nem loucos, monte acima e monte abaixo
descobrindo minas de água, presas onde se colhiam os agriões para a salada e
madeira encastelada transformada em torre de castelo onde morava a Rapunzel…
A minha infância também sabe a fruta
roubada pelos mariolas que trepavam às árvores que nem macacos e traziam no
regaço o produto do imenso trabalho e também a castanhas retiradas dos ouriços
com os pés. Sabe ao vento frio do outono e do inverno que não era suficiente
para impedir as brincadeiras, mas o cheiro da terra quente do mês de julho, que
se sentia pela noite dentro e permitia as brincadeiras até às onze da noite,
era especial…
Hoje, já não há meses de julho assim
tão quentes… A saudade duplica pelo tempo vivido e pelo calor…
Há uma magia na infância, e aquela
de que falo durou até cerca dos 11 anos, que não mais desaparece da alma. As
sensações ficaram incrustadas e volta e meia surgem à superfície para me fazer
sorrir… Quando é que a realidade se tornou complicada? Parece-me que a partir
da adolescência. Não sinto a mesma nostalgia dessa fase. Não deixa grande
saudade. Parece haver um lapso temporal entre a infância e a faculdade, tempo
que recordo com prazer, de natureza diferente da pureza da meninice, mas ainda
assim com crescimento, desenvolvimento pessoal, muita alegria e algumas dores
também. O que está no meio não foi, com certeza, terrível, mas por algum motivo
não se destaca.
Seja como for a infância, tempo mítico
da felicidade plena, só encontra concorrente quando se sonha de olhos fechados,
mas abertos e se deambula na imaginação, onde se recria novas vidas e experiências
como se quer e deseja, sem que o peso do mundo possa interferir. É-se novamente
criança e absolutamente, intrinsecamente e irremediavelmente feliz!
Nina M.
quarta-feira, 13 de março de 2019
Manifesto
Não mais sucumbirei ao desalento
E a cada dificuldade
Acenarei com um sorriso
Perdi a tristeza toda
Lá no fundo de um tempo
Em que fui viúva de mim
Ressurgi forte e segura
Alegremente percorro os trilhos do ser
Sem queixume ou lamento
Apenas inquietação resiliente
Recuso bater-me com a vida
Ou esmurrar o ar em vão
Visto-me de maleabilidade
Evito as esquinas e as ruas escuras
Mantenho longe de mim as agruras
Olho e alcanço nuvens brancas
Céu azul e sol doirado
Ofertei ao Diabo as negruras
E nas asas do poeta me refugio
Anjo proscrito e protetor
Mundo de luz onde não cabe a dor!
E a cada dificuldade
Acenarei com um sorriso
Perdi a tristeza toda
Lá no fundo de um tempo
Em que fui viúva de mim
Ressurgi forte e segura
Alegremente percorro os trilhos do ser
Sem queixume ou lamento
Apenas inquietação resiliente
Recuso bater-me com a vida
Ou esmurrar o ar em vão
Visto-me de maleabilidade
Evito as esquinas e as ruas escuras
Mantenho longe de mim as agruras
Olho e alcanço nuvens brancas
Céu azul e sol doirado
Ofertei ao Diabo as negruras
E nas asas do poeta me refugio
Anjo proscrito e protetor
Mundo de luz onde não cabe a dor!
terça-feira, 12 de março de 2019
Queda
Talvez pudéssemos cair
Assim... Nos braços um do outro
Sem remorso nem arrependimento
Como quem toma o fruto maduro
Da colheita de si
Numa única redenção
Para depois viver a sua ausência
Furtarmo-nos uma vez à decência...
Talvez pudesse ser fácil
Simples e livre tal momento
Ou antes existências presas
Ao delírio da vontade
À saudade apetecida
Não quereríamos uma só vez
Mas infinitamente repetida
Num apelo sério de alma perdida
Assim... Nos braços um do outro
Sem remorso nem arrependimento
Como quem toma o fruto maduro
Da colheita de si
Numa única redenção
Para depois viver a sua ausência
Furtarmo-nos uma vez à decência...
Talvez pudesse ser fácil
Simples e livre tal momento
Ou antes existências presas
Ao delírio da vontade
À saudade apetecida
Não quereríamos uma só vez
Mas infinitamente repetida
Num apelo sério de alma perdida
Porque se me tiram a poesia
Porque se me tiram a poesia
Levam-me a brisa no rosto
O sol, o mar e as estrelas...
Porque se me roubam as palavras
Sonegam-me carícias e abraços
Beijos ardentes sob o luar de verão
Porque se me recusam os livros
Mutilam-me a alma
Impedem a cura de meus desesperos
Porque se me escondem as letras
Largam-se as mãos dadas num momento
Desfazem-se os dedos entrelaçados
Sem o som da palavra
Que ecoa sempre dentro de mim
Fica o ser abandonado à tristeza sem fim
Sombra de essência perdida
Sem novos mundos e sem vida
Levam-me a brisa no rosto
O sol, o mar e as estrelas...
Porque se me roubam as palavras
Sonegam-me carícias e abraços
Beijos ardentes sob o luar de verão
Porque se me recusam os livros
Mutilam-me a alma
Impedem a cura de meus desesperos
Porque se me escondem as letras
Largam-se as mãos dadas num momento
Desfazem-se os dedos entrelaçados
Sem o som da palavra
Que ecoa sempre dentro de mim
Fica o ser abandonado à tristeza sem fim
Sombra de essência perdida
Sem novos mundos e sem vida
Abismo
Ergue-se o olhar ante o abismo
Na vertigem de um momento
Lança-se a alma bem aberta
à loucura gritada de outros
No salto dado plana o espírito
Leve e suave, flor de lótus sobre a água
Abre-se o ser a novas dimensões
Vida que se escreve novamente
Deixa-se a alma enredar nessas ilusões
Não sabe já qual a sua verdadeiramente
Todas e não apenas uma
Juntam-se na ânsia de tudo
E abraça com desespero o infinito
Caminha abraçada ao sonho
Que amanhã foi nuvem de algodão
Enquanto dura a esperança
Alheia à sensatez, apenas lúcida
Percorre com incúria de criança
De mãos estendidas os mistérios
Encerrados no ser, seu eremitério
Como jogo antigo arranca
Uma a uma as pétalas ao malmequer
Força-se a beijar o limite
Fio ténue que balança
Alegremente se equilibra numa dança
Na vertigem de um momento
Lança-se a alma bem aberta
à loucura gritada de outros
No salto dado plana o espírito
Leve e suave, flor de lótus sobre a água
Abre-se o ser a novas dimensões
Vida que se escreve novamente
Deixa-se a alma enredar nessas ilusões
Não sabe já qual a sua verdadeiramente
Todas e não apenas uma
Juntam-se na ânsia de tudo
E abraça com desespero o infinito
Caminha abraçada ao sonho
Que amanhã foi nuvem de algodão
Enquanto dura a esperança
Alheia à sensatez, apenas lúcida
Percorre com incúria de criança
De mãos estendidas os mistérios
Encerrados no ser, seu eremitério
Como jogo antigo arranca
Uma a uma as pétalas ao malmequer
Força-se a beijar o limite
Fio ténue que balança
Alegremente se equilibra numa dança
sábado, 9 de março de 2019
Crónica de Maus Costumes 121
Mulher, Criatura Divina
Recentemente, celebrou-se o dia da mulher. Não gosto
particularmente desses dias definidos para celebrar o que quer que seja, por
ficar com a sensação de que se é necessário celebrar é porque ainda é esquecido
algo que não deveria ser.
Ninguém é mulher, namorada ou mãe
apenas num dia particular ! É-o todos os dias e, como tal, merece ser
lembrada por esse facto diariamente, para não correr o risco de ser reconhecida
apenas uma vez no ano !
As estatísticas corroboram esta
ideia. Infelizmente, as agressões diárias a mulheres continuam a existir. Por
serem mais frágeis, sofrem os abusos em silêncio, por pavor e como se os
merecessem ! Talvez devesse iniciar o texto, começando por dizer que nada,
mas absolutamente nada, justifica tal cobardia. A violência é sempre, sob todas
as suas formas, condenável. Ponto. Torna-se pior, quando uma das partes se
impõe pela força física, que a sua condição masculina atribui. É execrável,
hediondo e homenzinho sem escrúpulos todo aquele que o faz. Parece-me bem que
se sente tão diminuído e inferior em tantos outros outros domínios, que lhe
sobra apenas a bruteza como forma de mostrar uma suposta superioridade que não
existe !
Irrita-me sobremaneira que em
pleno século XXI ainda haja mortes sucessivas por violência doméstica e que a
justiça seja tão branda com o agressor, penalizando duplamente a mulher. Mesmo
quando esta tem a coragem de quebrar com o ciclo de violência, normalmente, é
ela quem sai de casa, quem leva os filhos à socapa e se esconde, ficando longe
da própria família para não ser descoberta. Como se a mulher fosse um objeto
que vem com título de propriedade ! Nem mesmo o matrimónio confere registo
de possessão ou usucapião ! A mulher é livre de permanecer se assim o
entender e desejar, uma vez que é um ser humano com vontade própria. Para quem
gostar de citações bíblicas, a mulher terá sido feita da costela do homem para
caminhar ao seu lado e não da mão ou do pé, para que este nem a subjugasse nem
a pisasse !
Irrito-me mais ainda com algumas
mulheres que pela postura e crença assumidas acabam por subscrever a sua suposta
inferioridade ! Sei que as mudanças culturais são lentas, mas é necessário
quebrar este ciclo com urgência !
Mulher pode e deve trabalhar fora de casa, se
quiser ; pode ter filhos apenas se quiser e não porque é o seu
papel ; pode ser mecânica ou engenheira ou pedreira ou cozinheira ou
costureira, e até doméstica, se essa for a sua vontade, mas apenas porque é a
sua vontade e não uma imposição familiar ou social!
Choca-me que mulheres instruídas
sejam capazes de dar tiros nos próprios pés e ponham em causa valores
pelos quais outras lutam desde sempre !
Li um artigo de opinião da Dra.
Joana Bento Rodrigues, médica de profissão, mebro do TEM (Tendência Esperança
em Movimento), em que se definia como « anti-feminista » por estas
rejeitarem o potencial feminino, matrimonial e maternal, tecendo um conjunto de
argumentos de que a mulher é por natureza « talhada » para a
decoração e o gosto pela organização e arrumação, incluindo de si mesma
(potencial feminino) ; para o matrimónio, gostando de ficar muitas vezes
na sombra, abdicando de uma carreira, cuidando de tudo, para que o marido possa
dedicar-se em exclusivo à profissão e ter sucesso profissional. Chegou mesmo a
dizer que as mulheres não se importam de receber menos pelo mesmo trabalho
efetuado por um homem ! Por fim, naturalmente, a mulher não abdica do seu
papel de mãe. Ora, as feministas, segundo a Dra. Joana Rodrigues contrariam
todos estes pressupostos e, portanto, rejeitam a sua condição de
mulheres !
A perplexidade e a indignação
tomaram conta das minhas entranhas, que por acaso já acolheram dois seres e os
expeliram para o mundo, mas apenas porque tive vontade de ser mãe !
Efetivamente, quis esse papel. Escolha que fiz, Doutora Joana, e não imposição
social ! E onde vai buscar o gosto pela organização e arrumação e blá,
blá, blá ?!... Pois sou mulher, não sou feminista, mas feminina, e detesto
arrumações ! A minha condição feminina não me trouxe com qualquer apelo
especial pelas tarefas domésticas, especialmente, as que obrigam precisamente a
arrumar ! Irra, que nervos ! Até suo sem as executar ! Saiba que
as faço. Faço de tudo em casa, porque não gosto de viver num pardieiro !
Não por gostar especialmente desse trabalho ! E faço-o, porque é
necessário e tenho um companheiro de vida que é habitante da mesma casa e não
um hóspede e, como tal, também tem duas mãos, pelo que não ajuda, porque a sua
função não é ajudar é também fazer ! É da sua responsabilidade manter a
casa onde habita limpa e organizada ! Tanto quanto minha, porque ambos
trabalhamos ! Já agora, também nunca abdicaria do meu trabalho para apenas
tomar conta dos filhos ou da casa, porque seria castrador ! Quem decide o
que me preenche, satisfaz e me motiva sou eu e não papéis sociais
estereotipados ! E olhe que mesmo assim consigo arranjar tempo para os
meus filhos, ir buscá-los à escola (maioritariamente o pai) e evitar que
permaneçam mais do que o necessário nos depósitos de crianças em que as escolas
e ATL’s se transformaram. Sabe outra coisa, Dra. Joana ? Os meus filhos
são crianças felizes, apesar de a mãe trabalhar bastante !
Já agora, gostaria de saber por que
motivo não abdica da sua carreira ?! Ou será que abdicou dos filhos ?
E como médica, trabalhando o mesmo que um colega homem de profissão, não se importaria
de ganhar menos ?!
Não consigo entender como uma mulher
de hoje pode ter este discurso e acreditar nele !
O útero com que viemos ao mundo é
uma bênção ! Todos os homens vieram ao mundo pelas entranhas de uma mulher.
É fabuloso que o suposto sexo fraco seja aquele que é capaz de parir ! Como
disse, o útero é uma bênção e amor infinito, não deve ser castração de ninguém nem
das suas vontades ! Respeito !
Nina M.
terça-feira, 5 de março de 2019
"Amo-te que nem louco!"
"Amo-te que nem louco!"
Dizes-me, meu bem,
Perco-me em tuas angústias
Encontro-me mais além...
Sempre que olho e me vejo
Observo alguma estranheza
Nova água nova fonte novo vento
Nunca nunca nunca repetido
Traz em si certo retorno fingido
"Amo-te que nem louco!"
Insistes
E na dor de te ver triste
Refaço o que ainda existe
Alento luar astros e estrelas
Visto-me com o brilho delas
Só para te alegrar...
Olhas-me com exaustão
Como quem quer abrir a mão
Por me sentir escorregar
Fecho-ta de mansinho
Num gesto de carinho
E assim descansar...
Pássaro azul fugidio
Sonha livre fulgor luzidio
Estica as asas num doce planar
Volteia, faz voo picado, abranda antes de pousar
Em teu ninho preparado
Todo bem arranjado
Que o pássaro quer guardar
"Amo-te que nem louco!", dizes.
E é sempre esse amor
Que acaba por ficar.
Dizes-me, meu bem,
Perco-me em tuas angústias
Encontro-me mais além...
Sempre que olho e me vejo
Observo alguma estranheza
Nova água nova fonte novo vento
Nunca nunca nunca repetido
Traz em si certo retorno fingido
"Amo-te que nem louco!"
Insistes
E na dor de te ver triste
Refaço o que ainda existe
Alento luar astros e estrelas
Visto-me com o brilho delas
Só para te alegrar...
Olhas-me com exaustão
Como quem quer abrir a mão
Por me sentir escorregar
Fecho-ta de mansinho
Num gesto de carinho
E assim descansar...
Pássaro azul fugidio
Sonha livre fulgor luzidio
Estica as asas num doce planar
Volteia, faz voo picado, abranda antes de pousar
Em teu ninho preparado
Todo bem arranjado
Que o pássaro quer guardar
"Amo-te que nem louco!", dizes.
E é sempre esse amor
Que acaba por ficar.
sábado, 2 de março de 2019
Sono
Que bom seria adormecer
nos braços de um amor leve e doce
Pesado o suficiente para me amparar
Ver esse amor toda a noite
Antes de Morfeu me guiar
Por entre estrelas e luas
Sereias e fadas de encantar...
Com ele queria acordar
Pela aurora reluzente
Sugestão de dia claro e imponente
E então erguiam-se Orpheu e Calíope
Convocariam Nereidas e Musas
Acordariam Cupido ainda adormecido
E em conluio secreto e urgente
Despertariam em cada dia
Amor transcendente!
nos braços de um amor leve e doce
Pesado o suficiente para me amparar
Ver esse amor toda a noite
Antes de Morfeu me guiar
Por entre estrelas e luas
Sereias e fadas de encantar...
Com ele queria acordar
Pela aurora reluzente
Sugestão de dia claro e imponente
E então erguiam-se Orpheu e Calíope
Convocariam Nereidas e Musas
Acordariam Cupido ainda adormecido
E em conluio secreto e urgente
Despertariam em cada dia
Amor transcendente!
Minha velha amiga,
Minha velha amiga,
Tardaste tanto!
Refúgio de saudade escondida!
Quis falar-te assim baixinho
Suavemente...devagarinho
Para o coração embalar
Fingi que nem estava triste
Talvez, por isso, não ouviste
O meu profundo respirar...
De onde vem a dor e a mágoa?
De tão longe chega a frágoa!
Não consigo imaginar...
Forja-a a martelo e a cinzel
Embeleza-a com tons pastel
Deixa que saiba a choro sob o luar...
Escuta a triste litania
Como bela melodia
Que acompanha o respirar
Nesse compasso terno e lento
O ser ganha novo alento
Para novo madrugar...
Angústia cristalina e pura
Só em ti me quedo segura
Queres-me bem. Não censuras.
Cumpres a tua missão
Dás-me papel e a mão
E num gesto absorto
Solfejas canto meio morto
Somente alma e expiação.
Tardaste tanto!
Refúgio de saudade escondida!
Quis falar-te assim baixinho
Suavemente...devagarinho
Para o coração embalar
Fingi que nem estava triste
Talvez, por isso, não ouviste
O meu profundo respirar...
De onde vem a dor e a mágoa?
De tão longe chega a frágoa!
Não consigo imaginar...
Forja-a a martelo e a cinzel
Embeleza-a com tons pastel
Deixa que saiba a choro sob o luar...
Escuta a triste litania
Como bela melodia
Que acompanha o respirar
Nesse compasso terno e lento
O ser ganha novo alento
Para novo madrugar...
Angústia cristalina e pura
Só em ti me quedo segura
Queres-me bem. Não censuras.
Cumpres a tua missão
Dás-me papel e a mão
E num gesto absorto
Solfejas canto meio morto
Somente alma e expiação.
Crónica de Maus Costumes 121
Mau Tempo no Canal
Não irei abordar criticamente a obra
de Vitorino Nemésio, que originou o subtítulo da crónica. Aliás, hoje, estive
prestes a declarar luto e a anunciar que a crónica suspendia funções e
regressaria no próximo fim de semana. Impediu-me o respeito por quem me
acompanha, até porque pertencem a variados setores clubísticos.
Se já custa perder em qualquer
circunstância, em casa, contra o rival mais “tinhoso” deste universo, custa
muito mais. Eu já nem me lembrava de como era! E preferia ter permanecido
amnésica, infelizmente, ditou a sorte (hoje maldita!) que assim não fosse…
De maneira que à falta de vontade
para fazer o que quer que seja, alia-se a má disposição que contamina tudo e
impede que as coisas saiam perfeitas.
Felizmente,
já tinha as moelas e as bifanas preparadas, caso contrário, os convivas de
amanhã iriam estranhar a perda súbita de mão, e perguntar o que se tinha
passado. Irão fazê-lo com a bola de carne que não é o que deveria ser… O melhor
foi parar com os cozinhados e sentar-me ao computador.
Como
se vê, também a crónica não será nada de especial nem apresentará qualquer
reflexão de fundo. Apenas o dissabor de uma derrota possível, mas imprevista e
que custará a engolir. Também se dispensam as piadas habituais da azia e do
rennie, porque, para além de muito gastas, nem uma caixa inteira resolveria o problema…
Há que dar tempo para se digerir o infortúnio…
Aos
jogadores do meu imenso e sempre enorme Futebol Clube do Porto, grata pela
entrega. Lembrar apenas que nessa casa engole-se a derrota e a frustração e nunca
se deita a toalha ao chão, enquanto for matematicamente possível e houver
pontos em disputa. Ficou muito mais difícil é certo, mas se fosse fácil, não
seria tarefa para dragões! Há muito ainda pelo que trabalhar. Até ao fim,
porque somos Porto!
Quanto
aos adversários, parabéns pelos pontos conquistados, que foi a única coisa
ganha até ao momento. Desejo um bom regresso ao local de origem e aguardo,
naturalmente, que as coisas vos corram bem mal um dia destes. Nada pessoal, meramente
questão de gosto. É que no futebol não consigo simpatizar com equipas que vestem
de vermelho! É, na realidade, uma imagem Dantesca e a acreditar que o inferno possa
existir, só me lembro que tenho de ser mesmo boa pessoa para que um dia não tenha
que levar com o Belzebu e os seus acólitos avermelhados! Cruzes canhoto! Deus me
livre! Também não insistam com o encarnado, porque cá em cima essa cor nem existe!
Depois
disto, resta-me desopilar, arranjar algo que sirva de sedativo, porque amanhã será
outro dia!
Saudações
portistas.
Nina
M.
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