Inesperadamente, num daqueles raríssimos
serões em que consegui sentar-me no sofá, já sem filhos, dada a hora algo tardia,
em frente ao televisor, num zapping descuidado, descobri um programa de
conversa, conduzido pelo Bruno Nogueira, que me agradou bastante.
Os convidados eram Miguel esteves Cardoso
(MEC) e o fadista Ricardo Ribeiro. A conversa fluiu em torno do ciúme nas
relações amorosas, dos seus benefícios, dos seus prejuízos e possíveis
estratégias para lidar com esta emoção que parece nascer de nós e
desenvolver-se num ápice, bem capaz devorar-nos as entranhas, a serenidade e o
perfeito juízo.
Dizia o MEC que este sentimento, em
abstrato, pode ser positivo, porquanto nos motiva a estimar e bem tratar o ser
com quem partilhamos a nossa vida. Não deixa de ser também uma manifestação de
poder e de orgulho, pois a emoção surge se nos sentimos inseguros relativamente
à importância do papel que assumimos na vida de outrem. Na realidade, a
insegurança é apenas nossa, mas transferimos a responsabilidade que é nossa à
ação do outro. Talvez sirva para nos alertar de que nada é um dado adquirido e de
que o relacionamento existe para ser cultivado.
Logicamente, há pessoas que concretizam
da pior forma a emoção, originando a bruteza passional desmedida, que tantas mortes
tem causado ou, com menor gravidade, vai custando esporadicamente alguns
comportamentos menos dignos de quem os apresenta e vexatórios para o
companheiro que os sofre em público. No entanto, se o ciumento conseguir
intelectualizar a emoção e geri-la com racionalidade, não causará grande mossa
e até pode erguer a autoestima do parceiro. Talvez todos devêssemos ser capazes
de sentir uma pontinha inócua, mas malandra, só para nos lembrarmos de que
poderemos não ser a última bolacha do pacote.
Não sendo especialmente ciumenta, talvez
porque não tenha motivos para tal, admito que não gostaria de ouvir do meu
marido enormíssimos louvores a outra mulher. Evidentemente que, ao longo do
nosso percurso, vamo-nos cruzando com gente interessantíssima e cheia de qualidades.
Todos temos essa consciência, mas não gostamos da corneta zombeteira que nos
fala da colega muito jeitosa, inteligente, culta, simpática e também generosa!
Pode ser verdade, mas não precisamos de o saber. Precisamos é de sentir que
somos admiradas pelo nosso parceiro, mais do que todas as outras, mesmo que estas
sejam quase imbatíveis! Ponto. Talvez seja orgulho, talvez manutenção de um
pequeno poder ou vaidade incongruente, mas as coisas são como são. Seria por
isso que o MEC perorava sobre as vantagens das pequenas omissões num casamento
e preferir não saber do colega de trabalho da esposa, detentor de uma ironia
fina e acutilante, para além de uma vastíssima cultura e de um sentido de humor
do outro mundo! Então… E a beleza e o porte físico? Questionarão alguns.
Passado o primeiro impacto, definitivamente, não são esses os predicados que
prendem uma grande mulher. Ao contrário dos homens, a mulher é mais auditiva do
que visual. Como diz alguém, se a mulher se encantasse com homem nu, as
revistas da especialidade não seriam vendidas essencialmente a homossexuais.
Eu consegui resolver bem o problema. Se
digo ao meu marido que trabalho com um colega interessantíssimo, o máximo que
me pode acontecer é ele responder-me: “eu também”! Não fosse o diabo tecê-las,
escolhi um marido que trabalha só com homens e sei, de fonte segura, que barbas
e pelos não fazem o seu género!
Nina M.
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