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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 67



Inesperadamente, num daqueles raríssimos serões em que consegui sentar-me no sofá, já sem filhos, dada a hora algo tardia, em frente ao televisor, num zapping descuidado, descobri um programa de conversa, conduzido pelo Bruno Nogueira, que me agradou bastante.
Os convidados eram Miguel esteves Cardoso (MEC) e o fadista Ricardo Ribeiro. A conversa fluiu em torno do ciúme nas relações amorosas, dos seus benefícios, dos seus prejuízos e possíveis estratégias para lidar com esta emoção que parece nascer de nós e desenvolver-se num ápice, bem capaz devorar-nos as entranhas, a serenidade e o perfeito juízo.
Dizia o MEC que este sentimento, em abstrato, pode ser positivo, porquanto nos motiva a estimar e bem tratar o ser com quem partilhamos a nossa vida. Não deixa de ser também uma manifestação de poder e de orgulho, pois a emoção surge se nos sentimos inseguros relativamente à importância do papel que assumimos na vida de outrem. Na realidade, a insegurança é apenas nossa, mas transferimos a responsabilidade que é nossa à ação do outro. Talvez sirva para nos alertar de que nada é um dado adquirido e de que o relacionamento existe para ser cultivado.
Logicamente, há pessoas que concretizam da pior forma a emoção, originando a bruteza passional desmedida, que tantas mortes tem causado ou, com menor gravidade, vai custando esporadicamente alguns comportamentos menos dignos de quem os apresenta e vexatórios para o companheiro que os sofre em público. No entanto, se o ciumento conseguir intelectualizar a emoção e geri-la com racionalidade, não causará grande mossa e até pode erguer a autoestima do parceiro. Talvez todos devêssemos ser capazes de sentir uma pontinha inócua, mas malandra, só para nos lembrarmos de que poderemos não ser a última bolacha do pacote.
Não sendo especialmente ciumenta, talvez porque não tenha motivos para tal, admito que não gostaria de ouvir do meu marido enormíssimos louvores a outra mulher. Evidentemente que, ao longo do nosso percurso, vamo-nos cruzando com gente interessantíssima e cheia de qualidades. Todos temos essa consciência, mas não gostamos da corneta zombeteira que nos fala da colega muito jeitosa, inteligente, culta, simpática e também generosa! Pode ser verdade, mas não precisamos de o saber. Precisamos é de sentir que somos admiradas pelo nosso parceiro, mais do que todas as outras, mesmo que estas sejam quase imbatíveis! Ponto. Talvez seja orgulho, talvez manutenção de um pequeno poder ou vaidade incongruente, mas as coisas são como são. Seria por isso que o MEC perorava sobre as vantagens das pequenas omissões num casamento e preferir não saber do colega de trabalho da esposa, detentor de uma ironia fina e acutilante, para além de uma vastíssima cultura e de um sentido de humor do outro mundo! Então… E a beleza e o porte físico? Questionarão alguns. Passado o primeiro impacto, definitivamente, não são esses os predicados que prendem uma grande mulher. Ao contrário dos homens, a mulher é mais auditiva do que visual. Como diz alguém, se a mulher se encantasse com homem nu, as revistas da especialidade não seriam vendidas essencialmente a homossexuais.
Eu consegui resolver bem o problema. Se digo ao meu marido que trabalho com um colega interessantíssimo, o máximo que me pode acontecer é ele responder-me: “eu também”! Não fosse o diabo tecê-las, escolhi um marido que trabalha só com homens e sei, de fonte segura, que barbas e pelos não fazem o seu género!
Nina M.





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