Às vezes, só às vezes, sinto uma vergonha proporcional ao orgulho que se
destaca, felizmente maioritariamente, pela profissão que escolhi. O ser humano é
absolutamente vil na defesa dos seus próprios interesses, pois o seu olhar não
tem a capacidade de alcançar o mundo, quedando-se egoisticamente pelo seu tão
amado umbigo!
Como já não tenho idade para acreditar em ilusões e porque o tempo insiste
em tornar-nos menos ingénuos e muito mais desencantados com a raça humana, já
não me surpreende, porém, irrita-me sobremaneira!
Verdade Lapaliciana, com um laivozinho de Descartes: o professor é humano,
logo é vil!
Como surgiu esta constatação?! Basta seguir o blog do colega mais famoso do
país e que é exímio (ainda bem) na análise de dados e na estatística em tudo o
que se relaciona com concursos! Gabo-lhe a paciência, a dedicação e o serviço
público que presta aos seus colegas. Logicamente, o senhor não pode nem deve
fazê-lo, porquanto vivemos numa sociedade democrática, evitar a enxurreira
pútrida de alguns comentários que lá são postados. Ora, nada melhor do que a
época dos concursos para alguns debitarem insensatamente as suas alarvidades
para quem as quiser ler. Não obstante, se a democracia permite estas vociferações destemperadas e invejosas,
desde que dentro do limite do razoável e da boa educação na palavra, também
contempla o direito ao contraditório. Por estes dias, um colega que já está no
quadro reclamava impiedosamente dos contratados, sindicatos e Ministério contra
o concurso de vinculação extraordinária, uma vez que as vagas postas a concurso
serão ocupadas por colegas com menos tempo de serviço e que não vincularam,
porque não quiseram fazer um périplo pelo país. Assim, procedia a
generalizações fáceis e nada criteriosas. Interroguei-me, de imediato, se ele
teria a consciência de que há imensos contratados que não integram os quadros,
porque nunca lhes foi dada essa oportunidade. Provavelmente, alguns deles até
têm mais tempo de serviço. Tudo depende do grupo de recrutamento de cada um.
Até ao momento, os meus dezoito anos de serviço nunca foram suficientes para
entrar em quadro, porque nunca houve as vagas necessárias. E ainda que quem não
está em quadro, seja por mera opção, de repente, parece que o desejo de
permanecer na sua área de residência configura um crime! Eu compreendo o
sentimento de injustiça no que diz respeito às vagas criadas só para a
integração extraordinária, mas questiono se esse mesmo senhor também coloca em
causa o facto de no concurso à mobilidade passar à frente dos que estão em
quadro de escola e que têm, muito provavelmente, bem mais tempo de serviço!
Parece-me bem que nestes casos o sentido de justiça não é assim tão linear,
muito menos considerar que os sindicatos só se preocupam com os contratados!
Até ao momento, que eu me lembre, todas as greves feitas (e eu participei em
algumas, apenas nas que me pareceram justas) tinham como objetivo a defesa dos
direitos dos docentes de carreira!
Fico ainda mais consternada, quando me dizem que há colegas que irão tentar
contornar as regras do concurso e concorrerem ao quadro, quando não reúnem as
condições para tal, com a conivência de alguém que lhes validará o boletim!
Será que alguém vai ter essa desfaçatez?! No que me diz respeito, estarei muito atenta às listas provisórias,
comparando-as com as de anos anteriores e reclamarei, se houver razões para
tal! A ironia reside no facto de o profissional que tem a obrigação de
transmitir aos seus alunos princípios éticos, para além dos conteúdos da sua
disciplina, ser aquele que não os pratica! Já diz o aforismo: “Olha para o que
eu digo e não para o que eu faço!” É pena, pois a educação faz-se
essencialmente pelo exemplo e não pela palavra.
Custa-me imenso aceitar que uma classe profissional viva de azedume e de
pequenas invejas em relação a colegas do mesmo ofício. Não é desta forma que se
cria uma classe com poder de intervenção, capaz de ser um agente de mudança. O
lema deveria ser sempre o dos Mosqueteiros: “Um por todos e todos por um!”
Enquanto nos conseguirem desunir, a nossa voz não se fará ouvir!
Nina M.
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