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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 55



         Nojo! É a palavra que me ocorre para descrever o que sinto, pela sua dupla vertente: luto por todos os que perderam a sua vida, vítimas dos incêndios, e repulsa pela inação de sucessivos governos que permitiram tal tragédia.
            Indigna-me que os governantes tenham que assumir a responsabilidade, porque seria suposto e desejável que não houvesse qualquer culpa para se assumir! Há quatro meses o país ardeu, chorou, morreu e teve que se reerguer. Não é de todo aceitável que se tenha permitido, uma vez mais, um drama destas dimensões!
 O governo não fez os trabalhos de casa. Foi relapso, incompetente e não está isento de culpa nesta catástrofe! Indigna-me que o Senhor Primeiro-ministro diga que tem que pedir desculpa como cidadão e que assume a responsabilidade enquanto político. Na verdade, o senhor primeiro-ministro foge da palavra culpa como o diabo da cruz, pelo peso que esta assume na consciência do Homem. Não deixa de ser curioso como a responsabilidade indireta alivia a consciência humana e como se procura argumentos para se poder aplacar a culpa. Só terá atenuantes pela humanidade da fraqueza. O ser humano, na generalidade, para viver de bem com a sua consciência, defende-se com a sua capacidade de relativização dos factos.
Não se pegou fogo, logo não se é culpado! As condições climatéricas foram responsáveis pela dimensão da tragédia! O Estado (que somos todos nós) não consegue impor a sua autoridade aos proprietários dos terrenos, obrigando-os a cumprir a lei! Mesmo que todos os meios estivessem completamente ativos seria impossível dominar os cerca de quinhentos incêndios simultâneos! Toda a argumentação é válida, verdadeira e aceitável aos olhos de todos, no entanto, que medidas concretas foram tomadas para que a calamidade não se repetisse?! Quanto vale, afinal, uma vida humana e a desgraça alheia?! Nós, cidadãos, qual será o nosso papel?! Ninguém está isento de culpa. Desde o proprietário que não limpou, passando pelo cidadão comum que foi negligente, pelos opositores do executivo que tentam colher dividendos políticos com a tragédia (é execrável), até ao topo da hierarquia de quem nos governa! Finalmente, competirá a todos os portugueses exigir dos seus representantes que tenham respeito pelos seus concidadãos. Compete a cada um de nós lembrar o sucedido, porque o esquecimento é inimigo prevenção e como diz o ditado “ vale mais prevenir do que remediar!”
Talvez valha a pena acatar a sabedoria dos nossos ancestrais e abandonar a postura arrogante de quem tudo sabe. Talvez a solução passe por convocar os técnicos especializados no assunto. Talvez seja necessário deixar os caciquismos partidários em benefício do bem comum e começar a ouvir quem percebe do tema, por trabalhar efetivamente no terreno. Talvez os portugueses mereçam que determinados cargos deixem de ser políticos e passem a ser técnicos, dada a sua especificidade!
 Talvez assim o país pudesse renascer das cinzas e olhar para o fogo como binómio de destruição/purificação. Muitas vezes, para regenerar é preciso primeiro arruinar. O caminho da purificação e da catarse coletiva é imprescindível, porque não é justo nem honrado que tantas vidas se tenham perdido em vão!
Descansem em paz!
Nina M.

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