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sábado, 14 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 78




         A vida é demasiado curta para deixarmos coisas que valham a pena por dizer ou por fazer. Todos o fazemos, mas não deveríamos. Sou a primeira a fazer o mea culpa.
            Já me aconteceu esconder emoções, sentimentos, apenas por pudor, por medo do ridículo. O pânico do ridículo é avassalador. Engole-nos e deixa-nos inertes, feridos pelo que calamos em nós, quando gostaríamos apenas de soltar o que nos enche a alma.
Muitas vezes, quando olhamos para o passado, vemos um ponto de interrogação e a vida que ali, naquele momento, ficou um pouco suspensa por conta dos se eu tivesse… Mas como não se teve, não se sabe como teria sido a nossa história, se a nossa escolha tivesse sido diferente. Se pensar muito nessa questão, fico irritada, porque de alguma maneira me parece que não vivi tudo o que me competia. É inócuo este sentir, porque a vida é fruto da simbiose entre as circunstâncias e as nossas escolhas e quando se opta, deixa-se de lado uma infinidade de possibilidades. Eu, que gosto de correr e deslizar pela vida dentro, fico sempre com uma sensação amarga por não poder abarcar tudo. Não se pode ter tudo. Eu sei. Já aprendi, mas que gostaria de o poder fazer, não o nego…
Imagino que possa ser essa uma das razões pela qual se escolhe a carreira de ator. A interpretação oferece a possibilidade de viver uma multiplicidade de seres e de vidas, sendo uno. Somos nós, revestidos de uma nova pele, feitos de mudança e de novas experiências. Treina-se a empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro (sinal de inteligência) e quebra-se a monotonia.
Em última análise, a escrita permite o mesmo e talvez por isso goste dela. Recrio personagens a quem empresto um pouco de mim, mas que de mim diferem. Sou também eu numa nova roupagem. São possibilidades que a vida afastou, mas que a mim retornam e que, por momentos, aprisiono num conto ou poesia.
É uma realidade paralela e recriada, uma forma de viver muito muitas vezes até que o cansaço vença e peça para sossegar um bocadinho. É uma vontade de reunir histórias minhas e dos outros, de reinventar o sentir e a experiência, de emendar o que se fez de errado e de errar onde se acertou, de sorver tudo o que ainda não se viveu e ainda mais além…
Nina M.

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