A vida é demasiado curta para deixarmos
coisas que valham a pena por dizer ou por fazer. Todos o fazemos, mas não
deveríamos. Sou a primeira a fazer o mea
culpa.
Já me aconteceu esconder emoções,
sentimentos, apenas por pudor, por medo do ridículo. O pânico do ridículo é
avassalador. Engole-nos e deixa-nos inertes, feridos pelo que calamos em nós,
quando gostaríamos apenas de soltar o que nos enche a alma.
Muitas vezes, quando olhamos para o passado, vemos um
ponto de interrogação e a vida que ali, naquele momento, ficou um pouco
suspensa por conta dos se eu tivesse… Mas como não se teve, não se sabe como
teria sido a nossa história, se a nossa escolha tivesse sido diferente. Se
pensar muito nessa questão, fico irritada, porque de alguma maneira me parece
que não vivi tudo o que me competia. É inócuo este sentir, porque a vida é
fruto da simbiose entre as circunstâncias e as nossas escolhas e quando se opta,
deixa-se de lado uma infinidade de possibilidades. Eu, que gosto de correr e
deslizar pela vida dentro, fico sempre com uma sensação amarga por não poder
abarcar tudo. Não se pode ter tudo. Eu sei. Já aprendi, mas que gostaria de o poder
fazer, não o nego…
Imagino que possa ser essa uma das razões pela qual se
escolhe a carreira de ator. A interpretação oferece a possibilidade de viver
uma multiplicidade de seres e de vidas, sendo uno. Somos nós, revestidos de uma
nova pele, feitos de mudança e de novas experiências. Treina-se a empatia, a
capacidade de se colocar no lugar do outro (sinal de inteligência) e quebra-se
a monotonia.
Em última análise, a escrita permite o mesmo e talvez por
isso goste dela. Recrio personagens a quem empresto um pouco de mim, mas que de
mim diferem. Sou também eu numa nova roupagem. São possibilidades que a vida
afastou, mas que a mim retornam e que, por momentos, aprisiono num conto ou
poesia.
É uma realidade paralela e recriada, uma forma de viver
muito muitas vezes até que o cansaço vença e peça para sossegar um bocadinho. É
uma vontade de reunir histórias minhas e dos outros, de reinventar o sentir e a
experiência, de emendar o que se fez de errado e de errar onde se acertou, de
sorver tudo o que ainda não se viveu e ainda mais além…
Nina M.
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