Há poucos dias celebrou-se o dia dos
irmãos. Cá em casa há dois e é bonito de se ver! São irmãos e como todas as
uniões de laços fraternos, a dos meus filhotes é benzida por extraordinários
momentos de pleno amor, mas também de pequenos ódios que vão sendo obrigados a
ultrapassar.
Vejo a Matilde banhada em lágrimas e num
choro compulsivo, aflitíssima, porque o irmão, que a carregava às costas, caiu
e esmurrou a cara. Chorava mais a irmã do que o acidentado, enquanto o tentava
consolar e deixava escapar, por entre suspiros, um “coitadinho do Rodrigo!”
Vem-me à memória a irritação do Rodrigo
perante a irmã, que se recusa deitar a pastilha elástica fora e ele sabe que
ela vai adormecer no carro e tem medo que morra sufocada. Perante a teimosia da
irmã, aos gritos, desabafa: “olha, se queres morrer, o problema é teu! Depois,
não te queixes!” A aflição é tal que nem se lembrou de que se há gente pacata,
gentil e calada são os mortos! Aceitam tudo com uma resignação estoica e
admirável! Lembro os gestos de carinho que têm um com o outro e as
brincadeiras, bem como os gestos de proteção, se sentem que um deles está mais
exposto ao perigo.
No entanto, nem sempre é assim. Também
há zangas, discussões, palavras azedas e ciúmes diários. Há uma disputa
acérrima pela atenção dos progenitores, quando sentem que o outro, por qualquer
motivo, está a ser o alvo das atenções. Há um regozijo solene e escamoteado,
quando a mãe também se zanga com o outro.
Ser irmão, enquanto se é criança, é
viver na corda bamba e na montanha russa das emoções que oscila entre o puro e
sincero amor e o mais acérrimo dos ódios. É ter vontade de abraçar e de beijar
e pouco depois de agredir. Ser irmão é uma longa aprendizagem de gestão das
emoções e das expectativas. É aprender a ganhar mesmo quando se perde, é uma
luta constante contra o egoísmo, é ser cúmplice na ventura e na desgraça,
enfim, é abraçar o mundo acompanhado! Eu sei-o, porque também sou irmã de dois.
Sempre
que olho para os meus pequenotes, nos momentos doces, arrependo-me de não ter
tido um terceiro. Valeu-me a extrema sensatez do marido e os episódios de birra
para me fazerem recuar.
Nina M.
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