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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 38



Há poucos dias celebrou-se o dia dos irmãos. Cá em casa há dois e é bonito de se ver! São irmãos e como todas as uniões de laços fraternos, a dos meus filhotes é benzida por extraordinários momentos de pleno amor, mas também de pequenos ódios que vão sendo obrigados a ultrapassar.
Vejo a Matilde banhada em lágrimas e num choro compulsivo, aflitíssima, porque o irmão, que a carregava às costas, caiu e esmurrou a cara. Chorava mais a irmã do que o acidentado, enquanto o tentava consolar e deixava escapar, por entre suspiros, um “coitadinho do Rodrigo!”
Vem-me à memória a irritação do Rodrigo perante a irmã, que se recusa deitar a pastilha elástica fora e ele sabe que ela vai adormecer no carro e tem medo que morra sufocada. Perante a teimosia da irmã, aos gritos, desabafa: “olha, se queres morrer, o problema é teu! Depois, não te queixes!” A aflição é tal que nem se lembrou de que se há gente pacata, gentil e calada são os mortos! Aceitam tudo com uma resignação estoica e admirável! Lembro os gestos de carinho que têm um com o outro e as brincadeiras, bem como os gestos de proteção, se sentem que um deles está mais exposto ao perigo.
No entanto, nem sempre é assim. Também há zangas, discussões, palavras azedas e ciúmes diários. Há uma disputa acérrima pela atenção dos progenitores, quando sentem que o outro, por qualquer motivo, está a ser o alvo das atenções. Há um regozijo solene e escamoteado, quando a mãe também se zanga com o outro.
Ser irmão, enquanto se é criança, é viver na corda bamba e na montanha russa das emoções que oscila entre o puro e sincero amor e o mais acérrimo dos ódios. É ter vontade de abraçar e de beijar e pouco depois de agredir. Ser irmão é uma longa aprendizagem de gestão das emoções e das expectativas. É aprender a ganhar mesmo quando se perde, é uma luta constante contra o egoísmo, é ser cúmplice na ventura e na desgraça, enfim, é abraçar o mundo acompanhado! Eu sei-o, porque também sou irmã de dois.
            Sempre que olho para os meus pequenotes, nos momentos doces, arrependo-me de não ter tido um terceiro. Valeu-me a extrema sensatez do marido e os episódios de birra para me fazerem recuar.    
Nina M.

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