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sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Não morrerás sem saber o amor


Não morrerás sem saber o amor
Ou saciar a sede de absoluto!

Ter o infinito num abraço cúmplice
A eternidade num beijo resoluto
Inefável certeza no brilho de um olhar
Recusa certa de qualquer apartar
Só desejo latente que teima em se soltar

Não morrerás sem saber o amor
Peso feito leveza e mansidão
Liberdade sem grilhetas de prisão
Não se assusta com a possível escuridão

Não morrerás sem saber o amor
Sem o sabor intenso do seu frescor
Não haverá trago amargo de despedida
Não haverá resquício de felicidade perdida

Não morrerás sem saber o amor
Esquisso  maior além da dor
Somente quimera plenamente vivida
Somente paixão plenamente sentida

Não morrerás sem saber o amor
Todo o Olimpo se curva e se rende
À primavera renascida em cada beijo teu

Não morrerei sem saber o amor
E Cupido deveras emocionado
Chora absolutamente envergonhado
Por não ter amor igual ao meu!

Não morrerei, não morrerás 
Sem sabermos o amor
Ou saciarmos a sede de absoluto!

sábado, 20 de outubro de 2018

Crónica de Maus Costumes 103




Loucura
                Das duas, uma: ou o mundo está do avesso ou a louca sou eu, mesmo sendo bastante lúcida!
                Vive-se uma era onde se afirma a importância do ser humano, onde se julgou necessário criar uma carta que consagrasse os Direitos Humanos, documento inalienável e garantia do exercício do humanismo e da civilidade. Documento que estabelece o que é ou não aceitável no trato do ser humano, após as atrocidades dadas a conhecer e perpetradas pelos nazis durante a Segunda Grande Guerra. Aplaude-se a ideia, considera-se mesmo necessária a fim de evitar horrores semelhantes no futuro. Parece racional e absolutamente lógico. O que torna tudo o que se segue ainda mais inaceitável e de difícil digestão.
                Vejamos, depois das câmaras de gás, dos trabalhos forçados, fome, insalubridade e torturas impostas aos judeus e outras minorias étnicas impostas pelos nazis, o que já não aconteceu de semelhante, sob os olhares serenos dos grandes líderes mundiais, para quem as razões económicas se sobrepõem ao valor da vida humana?
Se quiser começar pelo drama mais recente, que já conta com uns anos sangrentos, poderemos referir a Síria, mas há outros passados arrepiantes: logo no pós-guerra, Estaline expulsou os alemães dos territórios anteriormente dominados por Hitler. Resultado: famílias alemãs dizimadas. Na Polónia, mais de um milhão de alemães morreu. Caso para dizer: quem com ferros mata, com ferros morre. Forçou a Ucrânia e o Cazaquistão a exportar todos os seus alimentos, matando os nativos de fome. Populações inteiras de outros países foram desalojadas e exiladas na Sibéria; cerca de 20 a 25 milhões de mortos. Podemos lembrar o Camboja e a época do ditador Pol Pot, entre 1975 e 1979; Podemos recordar o massacre de Ruanda, Da Bósnia e outros que se queiram encontrar, à disposição de um clique! Podemos, atualmente, relembrar as crianças com menos de dez anos aglomeradas em campos de refugiados deploráveis que tentam o suicídio! Mas o que é isto?!
Vive-se, portanto, numa sociedade hipócrita, onde importa mais o parecer do que o ser, onde se faz de conta que se agiliza para que estes horrores não voltem a acontecer na história da humanidade, mas onde a palavra escrita não tem qualquer valor e, consequentemente, tudo o que se diz ser inaceitável aos olhos do homem dos séculos XX e XXI repete-se!
Recuso-me a aceitar que uma boa parte da população viva em situação de pobreza extrema, passe fome, sem acesso a cuidados de saúde e de educação básicos, em nome do enriquecimento insustentável de alguns países, que mesmo assim não evitam as graves assimetrias sociais internas e onde o desperdício de alguns tem o cheiro fétido da desumanidade! Recuso-me a aceitar a corrupção que grassa por todo o lado, desde os países desenvolvidos aos de terceiro mundo, onde ainda será pior, o que rompe o tecido social e a alma humana, pelo descrédito perante o cinismo. Recuso-me a aceitar a hipotética ideia de ver um Bolsonaro chegar ao poder e que faz o ridículo Trump parecer um menino de coro! Recuso-me a aceitar os Putin e os Assad e o autoproclamado Estado Islâmico que mais não querem do que poder, poder, poder, à custa do controlo do cidadão, mantendo-o na ignorância e na ausência de espírito crítico! Recuso-me que haja seres humanos tão estúpidos que continuem a pensar que a violência extrema se combate com outra! Irra! Enerva-me, porque ou desconhecem totalmente a História ou são tão desprovidos de interesse e de intelecto que não refletem sobre o que se pode aprender com ela!
O que eu vejo é a incapacidade do Homem em aprender com os próprios erros ao longo dos séculos! Vejo o Homem que se deixa continuamente seduzir pelo poder e pelo dinheiro. Vejo uma sociedade podre, que aceita tudo o que lhe querem impor, que não se mobiliza na defesa do direito do seu semelhante, que afinal também é o seu… Vejo uma sociedade sem capacidade crítica e autocrítica, que se mantém de ilusões e onde cada um se fecha sobre si mesmo e no seu burguesismo, vivendo para as suas pequenas ou grandes vaidades, sem nada questionar! Vejo gente a quem nada dói, porque nada do que vê lhe diz respeito, a não ser a vida do vizinho mais próximo! Vejo uma sociedade de mentecaptos com a qual não me identifico e não quero integrar!
Serei, talvez, eu a louca que afinal circula em contramão! Serei, talvez, eu a louca que precisa de recriar um mundo só seu de onde possa erradicar todo o mal! Caso para dizer, só um momento, vou ali cortar os meus pulsos e já venho!
Nina M.






sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Olhos

Se uns olhos serenos
Não ocultam a paixão
Vê-se toda a alma espelhada
Eles são pura emoção
Brilham com uma luz igual
À de outros olhos seus
Se se cruzam no caminho
Do afago que se perdeu
Cintilantes no propósito
De se voltarem a olhar
Cerram-se por uns instantes
Pr'o momento eternizar
Nesse desejo insano
De ser imortalidade
Procuram-se em toda a parte
Estão presos por vontade
Se a presença o consente
Contemplam a perfeição
Do amor que os uniu
Exigência e ambição
Mais belos se tornam eles
No exílio da ausência
Já que se conseguem ver
no seu tempo de carência
Olhos que são um abraço
Beijo de ternura feito
No dia em que se não mostram
Há um outro par desfeito
São olhos de uma saudade
Que se quer sempre presente
Buscam autenticidade
Que encontram num outro ente 
Nesta pura dialética
Numa valsa do olhar
É amor que resplandece
Não há como o negar
Transcendência almejada
Que chega por um olhar
Deve ser acomodada
Para se eternizar


segunda-feira, 15 de outubro de 2018

Dor


A dor que me curva e mata o meu ser
Quer adensar-se em mim, nesta minha alma
Exangue que se sente falecer
Rouba a minha alegria e a minha calma

Sei bem que não mais te poderei ter
Foste sem acordo estabelecido
Tu, que a mim sempre estiveste rendido,
A quem julguei impossível perder

Esta vida que é tão madrasta e cínica
Invejosa da ventura e do sonho
Despe-me a minha alva e tão bela túnica

Ousada, a tal tirania me oponho
Ostento a resiliência crónica 
Qual bandeira neste mundo medonho
 

sábado, 13 de outubro de 2018

Crónica de Maus Costumes 102


 Simplesmente mãe

Sou mãe e como a maioria das mães amo profundamente, incomensuravelmente e irremediavelmente os meus filhos. Porém, a minha individualidade não se esgota neles, muito pelo contrário, impõe-se para além deles.
Assim, não sou o tipo de mulher que gostaria de ficar em casa para tratar das crias. Enquanto são muito pequenos, até à idade dos três anos, admito que sim, que poderia dar jeito, pelo menos um horário mais reduzido, mas a partir do momento em que eles entram na escola, começam a ganhar a sua autonomia e a reconhecer-se também no outro, não me deixaria seduzir por levá-los à escola e regressar serenamente a casa, onde prepararia tudo muito bem para os receber de volta.
Preciso mais do que isso. A minha individualidade enquanto mulher é sagrada. Deste modo, necessito do meu trabalho, da minha escrita, da minha corrida, dos meus amigos e do meu espaço sagrado a sós, refugiada comigo mesma, para manutenção do meu estado de sanidade mental. Se não tivesse tudo isto, não poderia ser feliz e uma mãe infeliz não faz ninguém feliz.
É assim que me protejo, quando sou invadida por um daqueles pensamentos invasivos que nos deixam cheias de culpa pelo acompanhamento que não se conseguiu dar, pela vida demasiado agitada e corrida e que não permitiu ter o melhor acompanhamento na seleção da roupa ou do recado que ficou por assinar ou de algo que era suposto enviar e se esqueceu. Aprendi a desvalorizar, a saber que sou quase perfeita, mas que ainda não atingi a perfeição, a deixar que os filhos se tornem um pouco mais autónomos e se responsabilizem pelas suas coisas. Nem sempre corre bem? Evidentemente que não. É um processo de aprendizagem em que estamos todos envolvidos e aprende-se com os erros e não com as proezas.
No entanto, sou a mãe que ao deitar lhes confessa ao ouvido o amor que lhes tem. Sou a mãe que eles exigem que os vá deitar e aconchegar e a quem gritam, se me finjo de esquecida, “o meu beijo de boa-noite?!” Sou a mãe a quem o Rodrigo pergunta se algum dia fosse preso se o iria visitar à cadeia… A mesma mãe que olha para ele com orgulho, por ver que aos onze, ainda que dúvidas ao alcance da sua tenra idade, já revela inquietação existencial. A essa pergunta, a mãe responde que ficaria dilacerada se tivesse que o ir visitar à prisão, mas que provavelmente o faria, porque o amor desta mãe é inesgotável. A mesma mãe que se interroga se amaria um filho psicopata, incapaz, por defeito biológico, de sentir amor ou compaixão, quando tudo o que quer é criar os filhos no e para o amor.
Uma mãe que ama incondicionalmente os filhos, apesar de todos os gritos que os senhores psicólogos insistem que não se devem dar, das mil e uma ameaças e ao cabo de tanto nervo, lá sai uma que é efetivamente cumprida e desliga-se a televisão ou confisca-se o tablet insuportável, sempre com o volume no máximo!
Uma mãe que sendo imperfeita é absolutamente perfeita à medida dos filhos que tem!
Nina M.

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Nunca quis o inverno

Nunca quis o inverno
E o inverno
É ver o meu sol longe
Refugiado nas negras nuvens
Na tristeza envergonhada
Se não me vem buscar

Quero sempre o verão
A brisa morna que abraça
A saudade que invade o coração
Quero o brilho do meu olhar
Brilho do teu refletido no meu
Sereno e doce contemplar

Esplendor de alma inquieta
Que se aloja num canto de mim
Reclama manhã nova com cheiro a jasmim
Quero a aurora boreal do teu abraço
O terno aconchego do teu regaço
O teu manto de amor sem fim

Anseio um verão perene
O calor de tua alma eterna
Que sorri só para mim
E como uma criança pura
Que o seu mal não cura 
Ter-te apenas com ternura

Poder somente amar-te
Sem reservas de outra arte
Aqui e em qualquer parte
Trazer sempre o verão comigo
Fechar os olhos contigo
E assim eternizar-te