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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 71



                 Vivi um fim de semana cheio, recheadíssimo de emoções! Iniciou-se na sexta-feira à noite, também santa, mas por outros motivos: reunião de amigos. É um privilégio imenso trabalhar numa escola em que a sala de professores exala leveza e simpatia. É assim há anos e assim permanece. Louvor para os que nela estão, nalguns casos, há muito tempo, e sabem receber, depois acolher e, finalmente, fazer com que todos se sintam em casa. Quando é chegada a hora da partida, o coração faz-se pequenino e as futuras saudades invadem-nos. Já trabalhei em catorze escolas distintas ao longo dos meus vinte anos de serviço e são poucas as que marcaram desta forma. Guardo três num cantinho especial da minha memória, sendo uma delas a atual. A boa disposição é contagiante e, quando assim é, o trabalho faz-se com mais entusiasmo e alegria, porque o local de trabalho é um espaço onde se gosta de estar e não um horror de onde se quer desaparecer rapidamente! A todos os que fazem parte deste pequeno universo e tornam os meus dias mais agradáveis, o meu sentido agradecimento!
                 No sábado, o meu pai celebrou oitenta anos, que foram condignamente festejados pela família mais próxima (filhos e netos). A minha Matilde disse-me que quer que o avô fique por cá sempre e eu, enternecida, respondi-lhe: “Eu também!”
                 Apetecia-me dizer-lhe que as pessoas ficam por aqui na exata medida da nossa memória e que enquanto nos lembrarmos delas elas serão imortais. Eu comporto muitos comigo, entre vivos e mortos, porquanto me invadem os pensamentos amiúde. Não é, porém, a mesma coisa.
                 A minha idade traz-me alguns aspetos positivos como a maturidade, o saber quem sou, o que pretendo e o que posso descartar, a consciência de mim e o saber que não preciso de provar rigorosamente nada a quem quer que seja, a não ser a mim mesma, diariamente, sobretudo no meu papel de mãe. Porém, esta idade pode ser penosa, quando nos obriga a lidar com a perda e com a consciência da sua existência. Por esse motivo, aborrece-me que o meu pai se tenha tornado num octogenário, porque aos olhos dos filhos, os pais são perenes e, subitamente, somos confrontados com a aproximação do inverno das suas vidas, quando gostaríamos que fosse sempre primavera!
                 Quando tinha vinte anos, os oitenta pareciam-me um lugar longínquo que julgava demorar muito para se alcançar e, no entanto, ao olhar para trás, os meus vinte anos foi ainda ontem e hoje, o meu pai já tem oitenta…
                 Queria poder congelar o tempo e evitar o desgaste que ele provoca só para conservar comigo aqueles a quem quero bem. A minha memória, para já, ainda funciona bem e enquanto assim for, não os deixarei morrer…
Nina M.

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