Vivi um fim de semana
cheio, recheadíssimo de emoções! Iniciou-se na sexta-feira à noite, também
santa, mas por outros motivos: reunião de amigos. É um privilégio imenso
trabalhar numa escola em que a sala de professores exala leveza e simpatia. É
assim há anos e assim permanece. Louvor para os que nela estão, nalguns casos,
há muito tempo, e sabem receber, depois acolher e, finalmente, fazer com que todos
se sintam em casa. Quando é chegada a hora da partida, o coração faz-se
pequenino e as futuras saudades invadem-nos. Já trabalhei em catorze escolas
distintas ao longo dos meus vinte anos de serviço e são poucas as que marcaram
desta forma. Guardo três num cantinho especial da minha memória, sendo uma
delas a atual. A boa disposição é contagiante e, quando assim é, o trabalho
faz-se com mais entusiasmo e alegria, porque o local de trabalho é um espaço
onde se gosta de estar e não um horror de onde se quer desaparecer rapidamente!
A todos os que fazem parte deste pequeno universo e tornam os meus dias mais
agradáveis, o meu sentido agradecimento!
No sábado, o meu pai
celebrou oitenta anos, que foram condignamente festejados pela família mais
próxima (filhos e netos). A minha Matilde disse-me que quer que o avô fique por
cá sempre e eu, enternecida, respondi-lhe: “Eu também!”
Apetecia-me dizer-lhe
que as pessoas ficam por aqui na exata medida da nossa memória e que enquanto
nos lembrarmos delas elas serão imortais. Eu comporto muitos comigo, entre
vivos e mortos, porquanto me invadem os pensamentos amiúde. Não é, porém, a
mesma coisa.
A minha idade traz-me
alguns aspetos positivos como a maturidade, o saber quem sou, o que pretendo e
o que posso descartar, a consciência de mim e o saber que não preciso de provar
rigorosamente nada a quem quer que seja, a não ser a mim mesma, diariamente,
sobretudo no meu papel de mãe. Porém, esta idade pode ser penosa, quando nos
obriga a lidar com a perda e com a consciência da sua existência. Por esse
motivo, aborrece-me que o meu pai se tenha tornado num octogenário, porque aos
olhos dos filhos, os pais são perenes e, subitamente, somos confrontados com a
aproximação do inverno das suas vidas, quando gostaríamos que fosse sempre
primavera!
Quando tinha vinte
anos, os oitenta pareciam-me um lugar longínquo que julgava demorar muito para
se alcançar e, no entanto, ao olhar para trás, os meus vinte anos foi ainda
ontem e hoje, o meu pai já tem oitenta…
Queria poder congelar
o tempo e evitar o desgaste que ele provoca só para conservar comigo aqueles a
quem quero bem. A minha memória, para já, ainda funciona bem e enquanto assim
for, não os deixarei morrer…
Nina M.
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