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terça-feira, 28 de agosto de 2018

Viagem


Como uma frase inacabada
Escorre a vida à sua vontade
Escolha que se quis e se afastou
Verso meio escrito que nunca se amou
Raízes que o vendaval arrancou
Poeira arremessada ao mundo
Em grito de dor profundo
E nessa viagem longa e louca
Chegam de longe a voz de címbalos e cítaras
Entoando novo renascer sobre o que jaz morto
Consciência é sofrimento absorto
Lucidez, fio de navalha afiada
Frio intenso de geada
Homem!
Honra-te a loucura
Salva-te a coragem 
De seres quem és
Moral sem moral alheia
Traço indelével de verdade e de procura
Paraíso assente em infernos interiores
Feitos só de angústias e dores
Onde edificas o padrão de tua plenitude!
 

domingo, 26 de agosto de 2018

Crónica de Maus Costumes 95



Há rotinas que se falham nos fazem falta, mesmo estando de férias. Já em casa de férias, a repousar de visitas sucessivas esplendorosas, mas que também nos deixam cansados, só me ocorrem duas ideias: amanhã cedo tenho de ir correr e preciso, com urgência, de escrever, até porque na semana passada não me foi possível cumprir com o texto habitual. Uma semana ainda se aguenta, duas é demasiado!
Logicamente, que escrevo com o olhar encantado por esta pérola do Atlântico que proporciona paisagens de uma beleza celestial e que nos transcendem. Ainda há paraísos perdidos, quase intocados pela mão infeliz do Homem, que normalmente estraga mais do que o que arranja!
Perante cenários paradisíacos, sentimo-nos abandonados à nossa emoção com tanta beleza natural. O espanto toma conta de nós e sentimos a admiração e o êxtase a circularem-nos nas veias. Só somos capazes de balbuciar meia dúzia de palavras simplórias, deixando escapar apenas o comentário pueril e ingénuo “Tão lindo!”
Fecha-se os olhos e respira-se a beleza à espera que esta se entranhe na alma e não mais de lá saia. Talvez se virmos o mundo com estes olhos, ele se torne menos agressivo e violento, mais humano e conforme à racionalidade que todo o ser deveria possuir. A importância da beleza é essa. A transcendência. O desopilar do horror do mundo. Nunca existiu mundo sem horror nem sem beleza. Esta última, quiçá, não seja a única fórmula de tornar o mundo suportável ao olhar de todo o Homem consciente?!
Há verdadeiros horrores e catástrofes, mas também há belezas incomparáveis!
No meio da beleza incomparável da praia paradisíaca de Porto Santo, com as águas de três tonalidades diferentes, um verde-mar, um azul-turquesa, um azul profundo e uma areia dourada, aconteceu-me um feliz acaso da vida. Quis esta celebrar a amizade e permitir que o encontro com amigos que se querem bem, mas que se veem pouco, por força da distância, se desse. Assim, na mais perfeita ignorância sobre as férias uns dos outros, eis que nos descobrimos num paraíso perdido no meio do Atlântico!
Um imprevisto maravilhoso e belo, no seio de tanta beleza! Autêntico hino à amizade! Maravilhoso!
Maria do Carmo, Carlos, foi um verdadeiro prazer este achado inusitado! Continuação de boas férias e o próximo encontro, já apalavrado, ficará para terras continentais. Não tão belas, mas cheias de simpatia para vos acolher…
A magia do encontro no meio de tanta beleza!

Nina M.


quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Romance



Moça que passas na rua,
Diz-me que sorte é a tua!
Vejo-te a alma no sorriso
Sol e estrelas no olhar
Puro brilho a cintilar!
Quando passas pela gente
Tens efeito surpreendente
Beleza alva a desfilar...
Leve como a bailarina
Caminhas a voltear.
Cuidado!
Se te sai cervo ao encontro
Não te deixes enganar!
Procura a fonte mais próxima
Onde possas descansar.
Águas claras, cristalinas
delas podes bem beber
Não te percas no caminho
Que começa a escurecer...
Trazes segredo guardado
Posso lê-lo no teu rosto
Certamente é namorado
Não lhe dês qualquer desgosto.
Inocente singelez
Trauteia canção de amor
Cisma sempre em seu amado
Vá ela para onde for.
Pensas que enganas o mundo?
Que doce e terna ilusão!
Pois se todos cá da rua
Podem ver teu coração!
Não está escondido no peito
Por lá não caber o amor
Anda o mancebo com ele
Não te vá causar é dor...
Se tens o teu bem maior
Que dele saibas cuidar
É que um coração partido
Custa sempre a remendar.
Se ao contrário o tens rendido
A quem bem o saiba amar
Não será amor bandido
É eterno despertar!
Moça que passas na rua,
Leva contigo o segredo
Sempre que olhas a lua
Minh' alma fica com medo!
Guarda-o bem escondido
Aninhado ao coração
Basta ser correspondido
No silêncio da paixão!


quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Se no calor de um beijo

Se no calor de um beijo
E na carícia  de um olhar
O amor se faz desejo
Por dele não se poder afastar

Saiba então o homem vivê-lo
Assim, como amor somente,
Faça desse amor apelo
Salve o mundo no momento

Nesta doce filosofia
De que existe maior bem
Tudo soa a poesia
Por amar o que se tem

E enquanto amor houver
Diz-se não ao niilismo
Será como o Homem quiser
Só ternura e idealismo

domingo, 12 de agosto de 2018

O vento que passa e sussurra


O vento que passa e sussurra

O sol descoberto que brilha mais alto

E ilumina o dia

A flor que desponta ainda por abrir

O chilrear matinal dos pássaros

No silêncio quase absoluto

Da quase aurora numa cidade adormecida

Tudo me conduz até ti, meu amor...

E se te não vejo

Sinto-te como a brisa que passa

E me arrepia a pele

Como o calor que me afaga e aquece

Vejo-te na flor que abrirá amanhã

Ouço-te no chilrear repetido de cada manhã

Em cada silêncio sempre te escuto

e ao cair da noite vislumbro tua sombra

Nunca serás só

Apenas fundido comigo em meu pensamento

Ausência presente e perene

sábado, 11 de agosto de 2018

Crónica de Maus Costumes 94



Já por diversas vezes abordei o facto de a vida poder ser bastante cínica e que  cabe, a cada um de nós, o papel de resistir ao cinismo, sob pena de nos tornarmos pessoas amarguradas e infelizes.
Pois bem, a vida também é capaz de nos agraciar, em certos momentos, com verdadeiros presentes, porém, é preciso estar alerta, pois, por vezes, estes estão ao serviço de um cinismo torpe e dissimulado, porquanto a vida tanto nos presenteia quanto nos sonega pouco tempo depois a prenda dada. Não se faz.
Acontece amiúde com pessoas que vão entrando, fruto das circunstâncias, alma dentro e que, pouco depois, fruto também das circunstâncias, acontece uma separação.
É certo que temos todos os meios à disposição para evitar que aqueles de quem gostamos verdadeiramente não saiam jamais de nossas vidas, no entanto, não é menos verdade que o ritmo tão alucinado e corrido das nossas existências dificultam a tarefa. É o telefonema, o e-mail, a mensagem, o café ou o jantar que se vai adiando e, na verdade, estamos a adiar uma série de vivências, de partilhas e de afetos que, se não forem cuidados e regados com amor, se irão desvanecer.
É certo que há laços mais resistentes às intempéries, mas se não dermos de nós, mesmo esses correm o risco de ficarem estagnados num tempo que já não volta, que já foi, mas já não é e que, se não for alimentado, perecerá por falta de porvir.
Sou uma colecionadora de almas e há algumas que comporto comigo sempre e continuam a viver em mim, porque gosto de as cuidar e de as mimar. Admito não fazê-lo tanto quanto seria desejável, mas vou fazendo os possíveis para que essas vão permanecendo comigo.
Há algumas tão especiais que nos fazem crescer, progredir e atingir uma versão melhorada de nós mesmos e, por isso, seria um erro fatal perdê-las pelo caminho. Recuso-me terminantemente a desperdiçá-las.
Quero-as comigo sempre. Sou ambiciosa e talvez até um pouco egoísta.
Assim, se no caminho, receberem uma mensagem, um comentário, um telefonema, é apenas uma colecionadora que não vos quer deixar partir.

Nina M.