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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 60



Em conversa com um colega sobre a vida, ele dizia-me, com razão, que “o Homem é o único animal que é ensinado a fazer algo, aprende, mas depois faz o que quer”. Talvez isto se chame de livre-arbítrio, tal como reza a música, “I have de right to be wrong”, porém, às vezes, apetecia-me pôr um parênteses na liberdade de alguns, quando esta entra em confronto com o que é mais correto. Gostaria que a escolha de cada um fosse usada para melhorar a vida do outro e não de forma sobejamente egoísta.
A nossa passagem por cá é tão breve, que deveria ser aproveitada para, de alguma forma, fazermos a diferença. Poder deitar sem sobressaltos e sem peso de consciência, por termos feito o que devíamos. Aproveitar os bons momentos que a vida nos vai ofertando sem ter fantasmas que nos atormentem.
Tudo se resume à questão: Como quero ser lembrado, quando já cá não estiver? Que contributo deixei aos meus filhos e aos que me rodeiam? Não quero passar ao lado da vida, mas circular por dentro, enquanto puder. Quero levar comigo boas experiências e amizades, sentir que em algum momento fiz uma pequenina diferença na vida de alguém, apesar das minhas muitas imperfeições e limitações.
Se vós, meus filhos, meus amores maiores, algum dia lerdes estas palavras e se eu já não estiver cá, quero que me sintais sempre convosco, porque a partilha do meu saber e do meu amor ter-vos-á ficado na memória. Lembrai uma mãe feliz, de bem com a vida, que vos ensinou que o bem que espalhamos é bem que recebemos multiplicado. Lembrai que o que vale nesta passagem são as boas vivências, não a materialidade e que quanto mais despojados conseguirmos ser, melhor viveremos, porque a felicidade vem de dentro. Não é de todo comprada. Sede inteiros no que fizerdes e mantende sempre a capacidade de vos emocionardes, de vos incomodardes com a desgraça alheia e a injustiça. Ajudai sempre que puderdes, pois é na fraqueza emocional que reside a nossa maior força e é esta que nos permite continuar de cabeça erguida.
Ides errar. Todos erramos. Reconhecei-o, desculpai-vos, se for o caso, e continuai o vosso caminho com passos seguros. Por último, a escolha, ainda que circunscrita às sinuosidades do trajeto, será sempre vossa. A isso chama-se assumir as nossas responsabilidades. Não adianta que vos zangueis com o mundo, porque a ira não transforma o que não desejais. Respirai fundo e aprendei a aceitar a dificuldade. É por cima dela que nos construímos e nos desenvolvemos. Isso é resiliência.
Não sereis sempre absolutamente felizes, porque a vida também é feita de dor, de nascimento, de renovação e de morte, mas tereis, com certeza momentos de alegria intensa. Sabei aproveitá-la. O sofrimento existe para que saibamos aproveitar as coisas boas.
Se partilho convosco estes pensamentos é porque vos quero mais do que a mim própria, é porque já vivi o suficiente para o ter percebido e o ter aprendido, nem sempre da melhor forma.
Não é uma despedida, tenho muita vida para gastar (julgo e sinto-o), mas se vos dissesse tudo isto na vossa tenra idade, não iríeis compreender…
Último conselho: aprendei, guardai o ensinamento e aplicai-o. Não façais o mais fácil, porque as verdadeiras vitórias são conseguidas sobre os incómodos ultrapassados.
Com amor,
Nina M.
           

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