Sinto-me cáustica. Talvez seja apenas o
cansaço provocado por uma profissão que nos esgota emocionalmente. O professor
não chega a casa e despe a farda. O professor é professor em todo o lado. A
profissão cola-se à pele e nunca mais nos deixa e, por isso, entre os afazeres
domésticos, na nossa vida pessoal, somos tomados de assalto por pensamentos
relacionados com o trabalho: o teste para fazer ou corrigir, a aula para
preparar, o miúdo que está com problemas…
De facto, ocorrem-me poucas profissões
que sejam levadas para casa e convivam diariamente com os restantes elementos
da família, muitas vezes prejudicados pela absorção a que este trabalho obriga.
Foi uma escolha, dirão muitos. Verdade. Foi uma escolha que nos define para o
resto das nossas vidas. Passa a ser parte integrante da nossa identidade. Penso
que mesmo que abandonasse o ofício e passasse a fazer outra coisa, se me
perguntassem o que fazia, diria: “sou professora”! No entanto, nos tempos que
correm, os professores são uma espécie de gente esquisita, são uns idealistas
masoquistas, que insistem em dar murros em pontas de facas. Sei que não mudo o
mundo (como diria uma amiga: isso era no tempo em que ainda era jovem e ainda
tinha sonhos! Jovem já não sou, mas sonhos ainda tenho alguns), no entanto, se
fizer a diferença numa única alma, já valeu a pena! A minha profissão ensina-nos
o conceito de resiliência. As angústias e frustrações são muitas, porém, o
professor tudo suporta, “mais do que prometia a força humana”, diria Camões!
Somos uns loucos!
O que mais me entristece é a falta de
reconhecimento. O professor é uma espécie de treinador de futebol. Todos opinam
sobre o seu trabalho, mesmo que não percebam nada do assunto e se a coisa não
corre conforme o esperado, a chicotada psicológica recai sobre responsável pelo
grupo.
Estou cansada de ver gente a transformar
o que deveria ser um trabalho de equipa, num ato unilateral. Não nego que há
maus professores, como há maus médicos, engenheiros, enfermeiros, trolhas,
serralheiros, polícias e afins! Não se ensina quem teima em não aprender,
muitas vezes, com o apoio tácito dos pais!
“Oh! Ele nunca gostou de estudar! O meu
filho sempre foi assim! Não adianta!”
Irra! Apetece dizer!
Muitos pais não valorizam nem a escola, nem o
saber e nem a cultura! São vários os chistes dos alunos quando dizem que o pai
ou o tio ganham muito dinheiro e não estudaram! Contra factos não há
argumentos. Não percebem o valor do conhecimento e da cultura, porque isso não
lhes foi transmitido e fecham-se na sua ignorância orgulhosa e triste.
A questão nem é o que se vai fazer mais
tarde, porque todo o trabalho é honrado e merecedor de respeito! Simplesmente
gostaria de ver um país com gente instruída e educada! Talvez assim fosse
poupada ao triste espetáculo de ver, num jogo de futebol, um sujeito, de figura
disforme, com o filho ainda pequeno a vociferar uma série de impropérios,
vermelho de tanto gritar, deixando escapar alguns perdigotos, de dedo do meio
em riste, enquanto as calças ligeiramente descidas deixavam adivinhar as suas partes
menos nobres. Qual adamastor “com um tom de voz horrendo e grosso!”
Sob o olhar inquisitorial dos meus
filhos, apressei-me a explicar que os adultos também se portam mal.
- Mas não são castigados! - Replicou o
Rodrigo.
- Só porque não configura crime insultar
verbalmente a claque da equipa adversária. – Esclareci. Nunca disse que a vida
é justa! – Acrescentei.
Pensava apenas que aquele pai era o
exemplo perfeito do que não se deve fazer, mas era o exemplo que passava para o
filho. Mais tarde, como ensinar àquele jovem que o vernáculo, principalmente,
se usado em contextos inadequados, é absolutamente grosseiro?! Como dizer-lhe
que aquela linguagem não é admissível na sala de aula?! Dizer, diz-se, mas o
efeito é nulo! São os mesmos pais que, se o professor, em desespero de causa,
lhe sai um: “És mesmo palerma!”, aparecem na escola para se queixarem, porque o
professor humilhou o garoto! De facto, quem está habituado à boçalidade do
léxico, deve sentir-se intimidado com tamanha cortesia!
Muitas vezes, o problema não são os
filhos, mas os pais, que deveriam nascer outra vez!
Nina M.
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