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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 20



            A diferença paga-se caro. A sociedade nunca está preparada para lidar com quem é diferente. A distinção estarrece a maioria. O Homem foi educado para viver integrado e ser aceite pelos pares e a inclusão é feita por semelhança. Assim, todo o que sobressai é penalizado, muitas vezes segregado, não de forma aberta, mas sub-repticiamente, como convém à hipocrisia e ao filtro social.
            Os exemplos são variados. Nunca se falou tanto de precisarmos e de merecermos uma escola e uma sociedade inclusivas. Os apelos constantes à aceitação da deficiência, da multiculturalidade, das diferenças raciais, religiosas e sexuais comprovam que, apesar da sua evolução, o Homem continua desconfiado em relação ao que é distinto.
            Curioso é o facto de o ser humano ser capaz das atitudes mais ignóbeis contra os que não fazem nada de mal, apenas se limitam a ser diferentes! Creio que, atualmente, se aceita com menos preconceito aquele que prejudica deliberadamente alguém, do que um muçulmano ou um homossexual. Nem o muçulmano é forçosamente terrorista nem o homossexual é obrigatoriamente pedófilo! Há uma ligeireza de julgamento que me causa impressão, porque qualquer um de nós pode, repentinamente, tornar-se vítima dessa intolerância.
            Para ser diferente é preciso muita coragem! Chocam-me as mentalidades que pensam que a homossexualidade é uma escolha! Como se alguém, em seu perfeito juízo, optasse por ser cruelmente julgado, discriminado e fortemente gozado pela sociedade em virtude da sua orientação sexual! Imagino que seja absolutamente assustador e, muitas vezes, frustrante ter que engolir uma sociedade que finge que vai aceitando, mas que goza e discrimina à socapa, perscrutando uma intimidade que não lhe diz respeito, em vez de avaliar as qualidades do ser.
            Julgo não correr o risco de ver os meus filhos passar por essa provação. O rapaz, do alto dos seus tenros nove anos, teima em exibir a sua masculinidade, usando a mãe como primeira cobaia, na descoberta do sexo oposto. Talvez a culpa seja do complexo de Édipo. Meia volta, as suas mãos exploram os meus glúteos, enquanto afirma, rindo muito: “ó mamã, gosto do teu rabo! É mais fofinho do que o meu. Tem mais carne!” O Pai sorri ufano, numa cumplicidade masculina, como quem entende perfeitamente o filho. Já a minha filha vai deixando escapar variadas vezes, no nosso quotidiano, certos comentários em relação a meninos ou homens que considera “jeitosos”, como gosta de dizer. Não lhe falem do Cristiano Ronaldo, que lhe sai logo: “Hum! É lindo!”
            Parece-me que a preferência deles pelo sexo oposto é notória. Sorrio tranquila e penso com os meus botões que assim é melhor. Como toda a mãe, a felicidade dos meus descendentes é uma prioridade e ainda que a heterossexualidade não a garanta, torna, certamente, as coisas mais fáceis, num mundo intolerante. Se me incomodaria se assim não fosse? Certamente. Afligir-me-ia, pelas incompreensões e injustiças de que seriam vítimas, independentemente de todas as suas qualidades. Se os amaria menos? Nem por um segundo!
 Nina M.
           
           


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