A
diferença paga-se caro. A sociedade nunca está preparada para lidar com quem é
diferente. A distinção estarrece a maioria. O Homem foi educado para viver
integrado e ser aceite pelos pares e a inclusão é feita por semelhança. Assim,
todo o que sobressai é penalizado, muitas vezes segregado, não de forma aberta,
mas sub-repticiamente, como convém à hipocrisia e ao filtro social.
Os
exemplos são variados. Nunca se falou tanto de precisarmos e de merecermos uma
escola e uma sociedade inclusivas. Os apelos constantes à aceitação da
deficiência, da multiculturalidade, das diferenças raciais, religiosas e
sexuais comprovam que, apesar da sua evolução, o Homem continua desconfiado em
relação ao que é distinto.
Curioso
é o facto de o ser humano ser capaz das atitudes mais ignóbeis contra os que
não fazem nada de mal, apenas se limitam a ser diferentes! Creio que,
atualmente, se aceita com menos preconceito aquele que prejudica
deliberadamente alguém, do que um muçulmano ou um homossexual. Nem o muçulmano
é forçosamente terrorista nem o homossexual é obrigatoriamente pedófilo! Há uma
ligeireza de julgamento que me causa impressão, porque qualquer um de nós pode,
repentinamente, tornar-se vítima dessa intolerância.
Para ser
diferente é preciso muita coragem! Chocam-me as mentalidades que pensam que a
homossexualidade é uma escolha! Como se alguém, em seu perfeito juízo, optasse
por ser cruelmente julgado, discriminado e fortemente gozado pela sociedade em
virtude da sua orientação sexual! Imagino que seja absolutamente assustador e,
muitas vezes, frustrante ter que engolir uma sociedade que finge que vai aceitando,
mas que goza e discrimina à socapa, perscrutando uma intimidade que não lhe diz
respeito, em vez de avaliar as qualidades do ser.
Julgo
não correr o risco de ver os meus filhos passar por essa provação. O rapaz, do
alto dos seus tenros nove anos, teima em exibir a sua masculinidade, usando a
mãe como primeira cobaia, na descoberta do sexo oposto. Talvez a culpa seja do
complexo de Édipo. Meia volta, as suas mãos exploram os meus glúteos, enquanto
afirma, rindo muito: “ó mamã, gosto do teu rabo! É mais fofinho do que o meu.
Tem mais carne!” O Pai sorri ufano, numa cumplicidade masculina, como quem
entende perfeitamente o filho. Já a minha filha vai deixando escapar variadas
vezes, no nosso quotidiano, certos comentários em relação a meninos ou homens
que considera “jeitosos”, como gosta de dizer. Não lhe falem do Cristiano
Ronaldo, que lhe sai logo: “Hum! É lindo!”
Parece-me
que a preferência deles pelo sexo oposto é notória. Sorrio tranquila e penso
com os meus botões que assim é melhor. Como toda a mãe, a felicidade dos meus
descendentes é uma prioridade e ainda que a heterossexualidade não a garanta,
torna, certamente, as coisas mais fáceis, num mundo intolerante. Se me
incomodaria se assim não fosse? Certamente. Afligir-me-ia, pelas incompreensões
e injustiças de que seriam vítimas, independentemente de todas as suas
qualidades. Se os amaria menos? Nem por um segundo!
Nina M.
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