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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 51



Decidi não emitir qualquer juízo de valor nem tecer qualquer comentário ao que ia lendo nas redes sociais, enquanto os ânimos estivessem tão exaltados.
Numa casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão - dita o aforismo. Por estes dias, o mais adequado seria: num país onde há professores descontentes ou sem colocação, todos ralham e com razão. Muito se ralhou, muita tinta se gastou inutilmente, pois ao invés de se proceder a uma análise séria da situação dos professores para tentar minimizar futuros danos maiores, perdeu-se tempo em guerrilhas que em nada abonam a favor da classe. Enquanto isso, o Ministério assobia para o lado e vai empurrando o problema com a barriga.
É verdade que nada obrigava o MEC a colocar os professores em horários incompletos desde logo, ainda que esse tenha sido o procedimento ao longo de vários anos. Procedimentos reiterados não fazem lei, mas criam expectativas e quando estas são goradas, geram revolta. Alterar as regras a meio do jogo não se faz. Ocultar deliberadamente informação pertinente e que condiciona a vida do professor e dos seus familiares diretos é mais do que uma cobardia, é desumano. Os professores deveriam ter sido claramente avisados da mudança de paradigma do concurso. Muitos teriam concorrido de forma diferente. Todos ficaram em lugares para onde concorreram. Verdade irrefutável, porém, quase todos esperavam não ter que lá ficar, a julgar pelo que vinha sendo prática comum.
O MEC quis evitar o descontentamento antes do concurso e ocultou informação a que os professores tinham direito de acesso. A transparência é sempre a melhor opção. Acredito que se fosse explicado que em nome de uma gestão rigorosa dos recursos económicos e humanos, o estado deve evitar pagar salários por inteiro a quem não tem horário completo, talvez a revolta fosse menor. Os professores também têm razão quando reclamam o direito de aproximação à residência. O facto de pertencer a um quadro de zona não significa que não o podem trocar por outro. Essa possibilidade tem-lhes sido dificultada, mas a solução tem de ser bem pensada, porque quem entrou diretamente para o quadro que lhe interessava, ainda que por uma vinculação extraordinária, não pode ser desprovido do seu lugar. Não se corrige uma injustiça com outra. Na realidade, todos os professores têm sido vítimas de injustiças gritantes ao longo dos anos, desde os de quadro de escola aos contratados, basta pensar nos congelamentos dos salários, na BCE, no que se considera como horário anual, entre outros mimos. O país não tem lugares disponíveis para todos os professores e o Norte ainda menos, pois parece ser a região mais desejada. Não se pode continuar a formar professores indiscriminadamente para depois não terem trabalho! Não se devem criar falsas expectativas!
Haja coragem política para se fazer uma reestruturação da carreira. Numa profissão onde todos exercem praticamente a mesmas funções, não deveria haver diferenças salariais tão díspares! O contratado e o professor de carreira executam o mesmo tipo de funções, logo os salários deveriam ser semelhantes. Discrimine-se positivamente quem desempenha cargos trabalhosos e se não podemos chegar todos ao topo da carreira, que cheguemos todos pelo menos a meio.
Se eventualmente se voltar a alterar as regras, que estas passem a ser claras e justas, que possam servir para unificar uma classe e não para dividi-la, para que deixe de haver professores de primeira e de segunda.
Nina M.







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