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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Melchior



O meu pai entrou em casa, alegre e triunfante, erguendo uma pequena bola de pelo no ar. Ficamos estarrecidos, profundamente comovidos com aquela revelação! O senhor que sempre tinha proibido animais em casa, entrava surpreendentemente feliz com aquele cachorro ainda bebé e que despertava um afeto inusitado no meu pai.
 Na minha mãe e avó, as reações não surpreendiam. Viam subitamente desperto o instinto maternal, ainda que de um animal se tratasse. “Ai que fofura! Que delícia! Que amor!”, diziam, com  ar enlevado de mães que acolhem pela primeira vez o neófito no regaço, invadidas por uma emoção pungente e que habitualmente causava algumas náuseas a meu pai, por não suportar que se tratasse os bichos da mesma forma que se trata um ser humano.“ Um bicho é um bicho, não é uma pessoa. Cada macaco no seu galho! Se têm animais, tratem-nos condignamente, mas não façam deles pessoas!” Lembro-me dessas palavras ríspidas e de achar que o meu pai era demasiado severo e intolerante em relação ao fiel amigo do homem ou de qualquer outra espécie animal.
Era um homem alto e espadaúdo, de ar demasiado austero, mas que às vezes amenizava com um sorriso quase impercetível, quando me ouvia dizer alguma parvoíce a que achava graça. Havia regras das quais o meu pai não abdicava: o jantar era servido às vinte; às vinte e uma e trinta, eu deveria estar na cama, pronto para dormir, depois do beijo que sempre me dava, aconchegando-me e fazendo-me sentir mais confortável e seguro na imensa escuridão que me abraçava e embalava até conseguir dormir.
O papá achava que eu devia habituar-me a dormir sozinho e no escuro desde cedo para não me tornar, dizia ele, “num desses miúdos exageradamente mimados e facilmente melindráveis.” Queria que fosse uma criança “audaz, saudável e autónoma”. Não percebia nada do que ele queria dizer com aquelas palavras estranhas cujo significado ignorava. Mas intuía que o meu pai pretendia tornar-me num homem forte como ele. Era assim que eu o via. O meu herói que nada temia e que de tudo me podia proteger. Por entender assim, nunca discutia as ordens do papá. Se as dava, esperava que fossem cumpridas. Por isso e porque tal atrevimento poderia custar-me um par de tabefes. E eu, ainda que me custasse admitir, estava longe de ter a coragem do meu pai, pelo contrário. Se me falava em tom mais exaltado e me crispava o olhar, não conseguia reagir, acobardava-me na minha fragilidade que tentava esconder a todo custo, com medo de o desapontar. E assim fui crescendo, procurando encontrar um equilíbrio entre a minha timidez, reserva e falta de arrojo e a vontade de os superar.
A chegada de meu pai com o cachorrinho espantou a casa que ficou boquiaberta perante o ímpeto afetuoso do papá para com o bichinho que, de olhar astuto e vivo, perscrutava o seu novo lar e novos donos.
- Onde arranjaste o cachorro? – Quis saber a minha mãe.
O papá explicou que quando vinha a caminho de casa, teve de fazer uma travagem brusca para não atropelar o cãozito que se enrolava sobre si próprio, no meio da estrada. Recolheu-o. O bicho tremia de medo e só se acalmou quando percebeu que o papá não lhe iria fazer mal. Estava magoado numa pata. O papá tentou encontrar o seu dono na vizinhança, mas parece que ninguém sabia a quem pertencia o animal. O meu pai não teve coragem de o abandonar à sua sorte. Podia não ter uma predileção especial pela bicharada, mas também não gostava de os ver maltratados. Pelos vistos, o meu pai conquistou rapidamente a confiança do cachorrinho que se sentia já muito cómodo e tranquilo no seu regaço. O pai já o tinha levado ao veterinário e a sua patita já estava ligada e, em breve, estaria boa.
- Papá, vamos mesmo ficar com o cãozinho? – Perguntei ainda incrédulo.
- Sim, Miguel. Podes considerá-lo teu.
- Então, tenho que pensar num nome para lhe dar…
- Melchior. – Atirou o meu pai abruptamente.
- Melchior? Melchior não é nome de cão! - Reclamei.
Fiquei a pensar que o meu pai tinha alguma coisa contra o Rei Mago! Era o único Melchior que conhecia e era um nome bem feio!
- Melchior. - Repetiu o meu pai. Tem a grandeza de um rei e, em simultâneo, a humildade de um pastor que se curva perante o salvador.
E assim ficou batizado o cão. Sem grandes cerimónias e, sobretudo, sem discussões inócuas em torno do seu nome.
O meu pai tinha razão. Melchior revelar-se-ia grande e honrado, como um rei, pai de todos os súbditos, apesar de ser apenas um modesto rafeiro. O papá dizia que o Melchior não tinha raça, porque todos os grandes homens são humildes, mesmo os de origem nobre. Aqueles que são verdadeiramente grandiosos são humildes e simples no coração e na alma. E o cão, que tinha todo o ar de quem iria fazer grandes coisas, dispensava o “pedigree”, a importância da raça. Subiria a pulso, pela sua força e lisura de caráter.
A partir desse dia, Melchior tornou-se no meu inseparável e mais fiel companheiro.
Nos primeiros meses de vida, Melchior exasperava os mais pacientes. A mínima distração era fatal. Se alguém deixasse inoportunamente um chinelo ou sapato fora do seu lugar, era certo que ele arranjaria forma de o apanhar e roer. Esse hábito irritava profundamente meu pai que dizia que apesar de não ser um pobre miserável, também não podia gastar dinheiro à toa e desde que acolhera aquele rafeirito endiabrado, as compras de calçado tinham aumentado substancialmente, lá em casa.
À medida que ia crescendo, Melchior tornava-se mais forte e fazia vincar a sua personalidade. Era teimoso e obstinado como ninguém, capaz de enfrentar até o papá, a quem era suposto obedecer. Certa altura, o cão queria ir passear, gastar a energia que se lhe acumulava no corpo até lhe ser insuportável aguentar, por lhe parecer que iria explodir se não a libertasse naquele exato momento. Meu pai não sabia que um animal podia sentir as coisas daquela forma e achava que os bichos não tinham vontade própria e, portanto, iria para o seu treino diário, quando fosse mais oportuno para o seu dono. Melchior assim não o entendeu e, contrariando as ordens do dono, conseguiu soltar-se e vaguear pelos montes das redondezas durante o tempo que lhe aprouve. Tal atitude custou-lhe uns belos açoites para ele aprender, como dizia o papá, “quem mandava lá em casa.” Malogradamente, o cachorro parecia não aprender com os erros, pois numa outra oportunidade, fez exatamente a mesma coisa, sem temer a chibata vigorosa do seu dono. Eu assistia aos castigos contrito, com vontade de fazer parar o braço do meu pai, mas incapaz de mexer um músculo que fosse. Permanecia impávido, invadido pelo temor e piedade e fechava os olhos, estremecendo, de cada vez que sentia o chicote fustigar o lombo luzidio de Melchior.
Assim que meu pai se afastava, eu corria a abraçar o cão como que a lamber-lhe as feridas, tentando incutir-lhe algum juízo. Explicava-lhe que não deveria desobedecer ao papá. Ele olhava-me ternurento e pregava-me uma lambidela, seguida de um belo latido, como quem diz um obrigado. Parecia não se importar com os castigos e também não guardava rancor ao papá, porque pouco depois andava à sua roda, batendo-lhe com a cauda nas pernas, até conseguir uma festa no dorso e a célebre frase, de todos já conhecida: “pronto, Melchior, já te desculpei, mas que não se repita!”
O cão conquistou-nos muito facilmente com o seu comportamento pouco ortodoxo para canídeo, mas muito humano! 
Recordo que uma vez caí mal, numa brincadeira inofensiva de criança e fiz uma entorse de alguma gravidade no tornozelo que me custou ter o pé engessado durante alguns dias. O médico insistira com os meus pais para não me deixarem apoiar no pé lesionado, assim, a forma que eles encontraram de me fazer seguir essas recomendações à risca, foi obrigarem-me a passar esses dias deitado ou sentado numa cadeira de braços, reclinável. Esse triste episódio trouxe-me algo de positivo: a autorização justificadíssima para faltar à escola e as visitas surpresa e à socapa do Melchior. Sentindo a minha ausência, não parava de ladrar. Tiveram mesmo que lhe permitir a entrada na sala para me fazer uma visita de cortesia. Assim que me viu, ganiu, abanou a cauda e veio dar-me umas marradinhas de consolação na coxa. A partir desse dia, nunca mais pediu permissão. Arranjou forma de conseguir entrar sem ser convidado, para me fazer companhia até que alguém desse pela sua presença, sendo, então, obrigado a sair. Mas partia contrafeito, de rabo entre as pernas e a ladrar como quem protesta. Pobre Melchior! Pena que não soubesse para que servem os sindicatos!
Um outro momento de partilha me ficaria para sempre gravado na memória… foi esse o ponto de viragem na minha essência. Melchior tinha por hábito ir visitar-me à escola. Andava eu na primária. A escola era um edifício já velho, de madeira, com muitas histórias guardadas em cada uma das suas vetustas e sábias tábuas. Numa dessas incursões de Melchior, durante o recreio, dois dos meus colegas foram agredidos com alguma violência e de forma gratuita pelo matulão do quarto ano que batia em todos, aleatoriamente, como forma de aliviar a sua frustração de repetente, pelo segundo ano consecutivo. Sentindo-se diminuído e humilhado pela fraca prestação nas matérias, exibia livremente a sua força hercúlea, desferindo, numa altivez repugnante e sancionável, golpes sucessivos sobre os mais fracos. Eu e Melchior tínhamos visto tudo. O gigante aproximara-se dos que a seus olhos eram raquíticos e que sem terem qualquer atitude provocatória, se viram espancados, do nada. Chegados à sala de aula, a professora quis saber o que se tinha passado e como explicavam os olhos negros. A professora estava a pensar que se tinham pegado um com o outro e começava a ficar irada, até que um deles conseguiu balbuciar o nome do culpado: foi o Toni do quarto ano que nos bateu, mas nós não lhe fizemos nada!
A professora foi imediatamente à sala do lado chamar o burgesso do Toni para fazer a careação dos factos. Quando chegou, o Toni tentou minimizar a sua responsabilidade, alegando que os outros lhe tinham chamado nomes e que ele se enervara e, por isso, tinha perdido a cabeça. Os meus colegas garantiam que não o tinham insultado, mas era a palavra de uns contra a do outro. A professora ficou indecisa. Sabia que teria de castigar o Toni pela brutalidade, mas não sabia o que fazer com os outros dois…
Eu tinha visto e podia ajudar a esclarecer tudo, mas o medo impedia-me. Cabisbaixo e envergonhado pela minha falta de ousadia, comecei a sentir o Melchior a empurrar-me, como que a querer obrigar-me a falar. A professora, que simpatizava com o rafeiro, deixava-o assistir à aula, a meu lado, aninhado a meus pés.
O cão tanto insistiu que, embora o medo das retaliações fosse enorme, consegui levantar o dedo e contar o que sabia. Pela primeira vez, consegui superar a minha cobardia e dar voz ao meu sentido apurado de justiça. Esta seria a primeira de muitas outras situações em que conseguiria ser corajoso, tal como Melchior, tal como o meu pai.
O matulão jurou-me vingança, mas eu tinha o meu melhor amigo para me defender…
Nesse dia, cheguei a casa com ar triunfante. A primeira pessoa que me viu foi a minha avó. Olhou-me fixamente e lançou repentinamente a pergunta:
- Viste passarinho novo, Miguel? Não te cabe um feijão galego no rabo!
 A minha avó queria saber o que tinha acontecido para estar com um ar tão feliz. Quando lhe contei a minha conquista, a minha primeira vitória, a avó disse apenas, com toda a sabedoria que a idade lhe conferia:
- Parabéns. O corajoso não é aquele que nunca sente medo, mas aquele que sentindo-o, é capaz de o enfrentar. Foi o que fizeste hoje.
Estas palavras ficaram gravadas a fogo na minha memória e ao longo da minha vida, em diferentes circunstâncias, me haveria de lembrar delas e a elas recorrer, como forma de me obrigar a superar a mim próprio.
E a minha infância e primeiros anos de puberdade foram passando, com altos e baixos, feitos de aprendizagem, enganos, correções e, algumas vezes, atitudes acertadas. Sempre com o fiel companheiro, Melchior.
Os anos iam passando e, quando de repente me surpreendi no espelho e para lá dirigi um olhar mais atento, vi os meus traços e fiquei surpreendido. O tempo passou por mim sem que me desse conta. Era já um jovenzinho, com alguns planos e vontade de os concretizar. O que ainda desconhecia é que a vida de qualquer ser nem sempre é o que ele deseja. Atrevo-me a alvitrar que na maioria das vezes é fruto das circunstâncias com que alguém se depara e que a felicidade de cada um depende da sua capacidade de adaptação aos novos contextos. É preciso saber correr dentro da vida e não ocupar a posição de mero espetador, com saudade do que passou ou esperanças infundadas do que possa vir a ser.
Num desses anos, as marcas deixadas pelo tempo no Melchior tornaram-se mais evidentes. Quase não via, cegueira provocada pela diabetes que à viva força e irremediavelmente tentávamos contrariar. Melchior era muito teimoso! Tínhamos que estar muito atentos porque, apesar da doença crónica, não largava a fruta que caía das árvores como uma dádiva de Deus e à qual não resistia.
E como a folha que amarelece no Outono e cujo caule, devagarinho, impercetivelmente, se vai desprendendo do ramo até cair inadvertidamente no chão para que possa ser levada pelo vento que passa e pousar noutro lado qualquer e se transformar em húmus, dando o seu contributo final à vida e ao mundo, também Melchior ia perdendo forças e se tornava cada vez mais trôpego, numa lassidão transformada em preguiça indolente. O bicho já não tinha disponibilidade para certas correrias e pressas. Tal como o papá, o tempo foi-lhe amaciando o caráter, quebrando-lhe o ímpeto e a teimosia. O tempo… esse grande ladrão da juventude, que só é desculpável, porque compensa a perda da agilidade com a sabedoria e a experiência.
Tinha chegado o inverno da vida para Melchior. Lamentavelmente, ninguém foi capaz de me explicar, talvez porque não soubesse exatamente como fazê-lo. Só anos mais tarde soube que naquela fatídica tarde, o Melchior foi abatido. O meu pai teve que escolher entre permitir-lhe um último sopro de vida digno, quase indolor, autorizar que fosse levado enquanto dormia, embalado pelo sonho do repouso tranquilo daqueles que sabem ter cumprido o seu papel ou ceder à tentação de o manter um pouco mais entre a família, sem qualidade de vida e a sofrer. A sua artrose era atroz. O seu gemido, enquanto se arrastava vagarosamente, soava-nos a brados infernais. Melchior soube perceber e agradeceu a opção do papá.
Era uma sexta, num dia gélido de janeiro. A carrinha do veterinário parou à nossa porta. O papá tinha-me explicado que o cão precisava de cuidados que não lhe podíamos oferecer e que, por isso, tínhamos que o deixar ir para onde pudesse ter tudo o que precisasse. Sabia que era penoso, sobretudo para mim, mas que não podíamos ser egoístas. Tudo pelo Melchior, ainda que nos sentíssemos sufocar. Não quis acreditar. Abracei-me ao seu pescoço sem o poder largar. Sentia que me fugia o chão e o olhar se toldava pelas lágrimas que me corriam sem que as pudesse conter. Melchior, como era seu hábito, esfregava a cabeça nas minhas pernas para me consolar. Quando o veterinário chegou, não foi capaz de fazer com que o animal o seguisse. De seguida, tentou o papá, mas o resultado foi o mesmo. Melchior fitava-me, como que a pedir que o levasse. Olhei-o e disse-lhe que não era capaz, por não suportar separar-me dele. Ele continuou a fitar-me e latiu. Acabei por aceder ao seu pedido e mal lhe segurei a trela, pôs-se em marcha. Quando entrou na carrinha, olhou-me, deu-me a última marrada, latiu e abanou o rabo. Fugi a correr sem destino. Precisava de ar, muito ar, para conseguir respirar. Ao fim de algumas horas, já mais calmo e muito sisudo, eu entrei em casa.
Durante o jantar, o ambiente foi pesado. A família encontrava-se embrulhada numa mudez surda. Ninguém conseguia falar ou ouvir o que quer que fosse, para além dos seus próprios pensamentos. E estes eram muito difíceis de suportar.
Para amenizar o meu estado de espírito, o meu pai comunicou que iria procurar outro cão e que poderia começar a pensar num bom nome para ele. Nem o deixei terminar. Levantei-me agressivamente, fixei-o e num tom seco e desafiador, limitei-me a dizer:
- Não. Nunca mais quero outro cão. Já bastou ter traído a confiança de um. Levantei-me e saí da mesa, sem pedir permissão.
O meu pai ficou pasmo e sem reação. Era a primeira vez que o enfrentava e contrariava dessa forma ostensiva que chegou a raiar a insolência, como quem o castiga por uma culpa que não teve.
Deve ter compreendido a imensa dor que a perda do Melchior me causava, caso contrário, o castigo seria severo. Curiosamente, pareceu-me ler-lhe alguma satisfação pela minha audácia.
A partir desse dia, sempre que falhava por cobardia, por incapacidade de ser mais assertivo, era surpreendido pela expressão de Melchior e o seu último latido. Invariavelmente, sentia que tinha traído a sua confiança e sentia-me miseravelmente. Condenava-me pela minha omissão. Deveria ter impedido essa última viagem do meu amigo, mas não o fiz e agora não me conseguia perdoar.
A família começava a preocupar-se com o meu estado e acabaria por ser a minha avó a conseguir arrancar-me dessa letargia aflitiva. Um dia, disse-me que não deveria culpar-me, mas ficar de consciência tranquila por ter cumprido o meu dever, ainda que essa decisão e o resultado dela fossem muito difíceis. Explicou-me que evitei o sofrimento agonizante que acabaria, de qualquer forma, na morte do meu fiel amigo. Acrescentou também que se o Melchior quis que fosse eu a levá-lo, porque se recusou a sair com outros, foi para me agradecer e não recriminar. O olhar fixo que me lançava não era para me chamar Judas, mas antes para me agradecer todos os momentos partilhados e essa última prova de amor que lhe dava.
“Tu não o traíste, Miguel, ao invés, salvaste-o. Ele não fixou Judas, mas antes o seu salvador.” – Confidenciou-me a minha avó, na sua infinita sabedoria.
Morreu digno como um rei, o meu Melchior! Depois de pensar nas palavras da minha avó concluí que ela estava certa e serenei.
 
Nina M.

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