No silêncio recolhido
Onde tudo é mudo e calma
Há ausência latente
Diálogo contido na alma
Partilha e presença imanente
Inquietação profunda
Folha em branco permanente
Onde por mais que se escreva
Maior o abismo do mundo
Há íntimo despojado e vazio
Leito fraco de um rio
Enfado consistente e tédio
De um dia sem sentido
Perdido do seu mistério
Os silêncios recolhidos
Onde a verdade fere
Ocultam amores desmedidos
Onde a saudade se inscreve
Numa dança lenta e surda
De vontades apagadas
Cumpre-se o silêncio no mundo
Sussurram quimeras aladas
Seguidores
sexta-feira, 26 de julho de 2019
quarta-feira, 24 de julho de 2019
Voz
A voz que ecoa em mim
Deambula pelos segredos da alma
Ser sem princípio nem fim
Tumulto perturbador da calma
Ergue-se alto inconfundível
Flamejante clamor resoluto
Em busca do inacessível
Desejo premente de absoluto
Sobe sem pressa o degrau
Detém-se no altar impoluto
Onde se sacrifica Deus
De coração seco e enxuto
Avista ao longe a sua nau
Embarca numa quimera
Ao despertar é mera cinza
O sonho ficou... Quem lho dera!
Deambula pelos segredos da alma
Ser sem princípio nem fim
Tumulto perturbador da calma
Ergue-se alto inconfundível
Flamejante clamor resoluto
Em busca do inacessível
Desejo premente de absoluto
Sobe sem pressa o degrau
Detém-se no altar impoluto
Onde se sacrifica Deus
De coração seco e enxuto
Avista ao longe a sua nau
Embarca numa quimera
Ao despertar é mera cinza
O sonho ficou... Quem lho dera!
sábado, 20 de julho de 2019
Crónica de Maus Costumes 141
Remissão e poesia
Começo a crónica com um pedido de
desculpa. Na semana passada, terei usado o termo silogismo de modo incorreto,
dado que o exemplo fornecido não respeita as suas regras de construção. Em
consciência, não posso chamar de silogismo ao que não é. De modo que substituí
a expressão por brincadeira linguística. A correção já está feita. Grata pelo
reparo a quem de direito.
Um
dia destes, se me sobrar tempo, talvez aprenda a construir silogismos. Não
estou certa de o conseguir. Exige lógica formal, que muitas vezes é o oposto da
poesia, que gosta de se indisciplinar e criar livremente, mesmo que reúna
contrários ou os deixe desamparados e de costas voltadas, tanto faz. A poesia
nem precisa de ser verdadeira. “O poeta é um fingidor”, dizia Pessoa. Ele
sabe-o melhor do que ninguém. Pode não exigir a verdade de quem a escreve, mas
obriga à sua inteireza. O ser humano é feito de imperfeições e algumas
incoerências e a poesia consegue reuni-las harmoniosamente.
Acabo
de ler a biografia da enorme Sophia. Para quem conhece a sua obra, o olhar
torna-se mais atento. Se já era apaixonada pelo conto “Saga”, o meu preferido,
olho-o ainda com mais interesse. Estão lá os antepassados da poeta, as suas
origens. Sei que é poetisa, mas ela mesma escolhe o termo poeta por julgar mais
universal, por considerar que o uso do feminino traz em si um certo desmerecimento.
Quem sou eu para a contrariar? Ocorre-me a resposta do Romeiro: “Ninguém!”
Falar
de poesia, em Portugal, também é falar de Sophia. Portugal rendeu-se aos seus
encantos. De porte aristocrático, oriunda da burguesia portuense, Sophia
pairava sobre os comuns mortais, tal como os deuses do Olimpo. Não será à toa
que a sua obra está impregnada de cultura helénica. Descobri uma deusa, não uma
mulher, que se movia num mundo seu, acima da realidade. Mesmo quando se
envolveu na luta pela liberdade e na defesa de valores humanistas e da cultura,
fê-lo sempre num plano de superioridade intocável. A menina que aos oito anos
recitava Lusíadas, sempre viveu no mundo das ideias. Há quem a acuse de
egocentrismo. Talvez haja um certo fundamento. Porém, se não fosse essa sua peculiaridade,
talvez não tivéssemos o seu magnífico legado. Magnânima e altiva. Digna de conviver
com os deuses, não com simples mortais. No dizer de Torga, “era tão bonita que nem
precisava de escrever versos”. Certa vez, disse-lhe que gostaria de lhe dedicar
um poema ao que ela terá respondido: “Logo agora que anda a escrever tão mal?”
Irónica,
mordaz e arrogante! Com essa tirada, até eu me ofendo! Desde quando é que o meu
Torga escreve mal?! Ele, autor já consagrado. Ela, a trilhar o seu caminho. A diatribe
não impediu a amizade entre ambos. Nem podia. Um avisou a esposa, antes de casar,
que a trocaria por um verso. Outra desligava-se dos afazeres domésticos, deitava-se
a horas impróprias e a empregada encarregava-se da logística, ao ponto de dizer
que “se não fosse ela, naquela casa comer-se-ia versos”. Não seria a mãe mais diligente,
mas foi a melhor mãe que os filhos tiveram e que não trocariam por outra.
Dizia
ela que para escrever precisava da sua inteireza. Talvez por isso pairasse sobre
a realidade, o que não a impediu, muito pelo contrário, de estar atenta ao que a
rodeava e de ser voz da liberdade, quando o país precisou.
Obrigada,
Isabel Nery, pelo excelente trabalho.
Nina
M.
Entrego-me de alma despida
Entrego-me de alma despida
Nua, límpida, cristalina
Numa inteireza desassombrada
Assaltada no íntimo
E dou-me a ti, Calíope,
Musa da minha existência,
Em verso puro e honesto...
Transfigura a minha essência
Leva-a ao alto Olimpo
Fá-la alcançar largo horizonte
Da fragilidade fazer fonte
Onde se beba beleza e ternura
Escolhe-me as palavras com candura
Porque quem em ti procura
O absoluto numa vida finita
Vislumbra a eternidade. Ah! Hora bendita!
Nua, límpida, cristalina
Numa inteireza desassombrada
Assaltada no íntimo
E dou-me a ti, Calíope,
Musa da minha existência,
Em verso puro e honesto...
Transfigura a minha essência
Leva-a ao alto Olimpo
Fá-la alcançar largo horizonte
Da fragilidade fazer fonte
Onde se beba beleza e ternura
Escolhe-me as palavras com candura
Porque quem em ti procura
O absoluto numa vida finita
Vislumbra a eternidade. Ah! Hora bendita!
quarta-feira, 17 de julho de 2019
Pranto
Se porventura ouvires o meu pranto mudo
Não deixes de te comover, meu bem,
Vaza-me a carne e a alma transparece
Não se alegra ou resplandece
Foi outrora
Antes bruma, espuma que se desvanece
No correr de um tempo roubado
Surgido a cada nova aurora
Não há sol. Triste fado.
Orfeu anda ofendido
Abandona a sua lira emudecido
Nem Calíope ou Eurídice o demovem
Do silêncio límpido e abrupto
Guarda em si o seu génio incorrupto
Sepultura secreta e caiada
Do amor da sua vida desmaiada
Não deixes de te comover, meu bem,
Vaza-me a carne e a alma transparece
Não se alegra ou resplandece
Foi outrora
Antes bruma, espuma que se desvanece
No correr de um tempo roubado
Surgido a cada nova aurora
Não há sol. Triste fado.
Orfeu anda ofendido
Abandona a sua lira emudecido
Nem Calíope ou Eurídice o demovem
Do silêncio límpido e abrupto
Guarda em si o seu génio incorrupto
Sepultura secreta e caiada
Do amor da sua vida desmaiada
segunda-feira, 15 de julho de 2019
Um dia
Vou aninhar-me mansamente na escuridão
Cobrir-me da sua agonia
Deitar-me quieta nessa mansidão
Fazer dela lençol de poesia
Vem a noite breve e com ela a calma
Serve para embalar devagarinho a alma
Ao sabor da desejada melancolia
Hei de lembrar pois se sobra alento
Não serei vencida pelo triste lamento
Trarei de volta a efémera alegria
Andará comigo todo o dia
Se me encontro na minha perdição
E me vejo ao longe sem a tua mão
Sei que a vida cínica trouxe a nostalgia
Talvez a transforme como por magia
Um dia...
Cobrir-me da sua agonia
Deitar-me quieta nessa mansidão
Fazer dela lençol de poesia
Vem a noite breve e com ela a calma
Serve para embalar devagarinho a alma
Ao sabor da desejada melancolia
Hei de lembrar pois se sobra alento
Não serei vencida pelo triste lamento
Trarei de volta a efémera alegria
Andará comigo todo o dia
Se me encontro na minha perdição
E me vejo ao longe sem a tua mão
Sei que a vida cínica trouxe a nostalgia
Talvez a transforme como por magia
Um dia...
Se fosse apenas lastro de uma breve agonia
Se fosse apenas lastro de uma breve agonia
A hora que em ti se consumia
Rasto poeirento
Atirado ao escuro e ao vento
Um ser nada de ninguém
Abrigado nos sonhos, nas estrelas
E em todos os que querem vê-las
Nos braços generosos de alguém
Liberto do peso do mundo
Seria matéria alada, sono profundo
Sentiria o ar ao de leve apenas
Gás que se esfuma errante
Odor passageiro inebriante
Perfume das coisas pequenas
A hora que em ti se consumia
Rasto poeirento
Atirado ao escuro e ao vento
Um ser nada de ninguém
Abrigado nos sonhos, nas estrelas
E em todos os que querem vê-las
Nos braços generosos de alguém
Liberto do peso do mundo
Seria matéria alada, sono profundo
Sentiria o ar ao de leve apenas
Gás que se esfuma errante
Odor passageiro inebriante
Perfume das coisas pequenas
sábado, 13 de julho de 2019
Crónica de Maus Costumes 140
O peso da existência
Uma
essência consciente é pesada. Há dias em que verdadeiramente se carrega o mundo
às costas e até para os mais otimistas (como é o meu caso) se torna difícil.
Sartre tinha razão ao dizer que a existência precede a essência. Primeiro
existe-se, depois, o homem faz-se, enquanto ser livre, que se vê obrigado a
escolher.
Com
as escolhas chega a angústia. Quase se pode fazer uma brincadeira linguística: todo o Homem
nasce livre; todo o Homem é obrigado à escolha; A escolha do Homem é livre!
De
facto, assim é. Somos obrigados a fazer escolhas durante toda a nossa vida, com
a liberdade a que somos condenados ou livre arbítrio, para os cristãos, e com
elas (as escolhas) aparecem as angústias. Como seria bom podermos reunir o
melhor de dois mundos, porém, como todos sabemos é impossível! Tal maravilha
não existe. Essa consciência também dá vontade de pontapear a vida até à
exaustão, só para mostrar que o seu cinismo não vinga. Também se sabe que é
falso. O cinismo da vida, normalmente, vence. Nós, simples mortais, vêmo-la
rir-se com escárnio e indiferença face às nossas preocupações, como míseros
pontos insignificantes na vastidão do Universo. O dia é amargo e quando se tem
um filho de 12 anos a questionar-nos sobre o sentido da vida: “Mamã, já te
perguntei, mas não respondeste! Porque estou aqui? Porque existo? Qual o
sentido?”. Honestamente, eu tenho que lhe responder que isso terá ele que
descobrir, porque a mãe também anda à procura do seu há muitos anos. O sentido,
cada um de nós o deve construir e o dele será, com toda a certeza, diferente do
meu.
Diabo
do garoto, que até parece adivinhar os dias bons para colocar as perguntas
certas! Digo-o com um misto de orgulho e de preocupação. Ter alguém que me
ocupou as entranhas durante nove meses a interrogar-me sobre o sentido da vida
deixa-me satisfeita, mas também preocupada pela consciência que se adivinha
precoce. E sei que uma consciência aprimorada com a obrigação de fazer escolhas
é uma ligação perigosa. Não poderei socorrê-lo sempre nem retirar-lhe as pedras
que irá encontrar pelo caminho e sei a dimensão do trabalho emocional que o espera
se a inquietação não se acomodar, mas também sei que será o seu caminho e que terá
que o percorrer sozinho…
De modo
que a existência/essência, sempre pesada, necessita como o diabo da cruz de uma
certa leveza. Porém, cuidado, porque quando a leveza é em demasia, torna-se insustentável!
Que o digam Sabina ou Thomas da “Insustentável
Leveza do Ser”, do fabuloso Kundera.
O equilíbrio
entre a leveza e o peso deve ser o segredo para uma boa vida, no entanto, como todo
o mistério, difícil de desvendar!
Que
cada um tente a sua sorte. Por hoje, lavarei a alma com um resto de branco fresco,
à espera que me traga a leveza, porque há dias difíceis de digerir! Um golinho pode
sempre ajudar. Santé!
Nina
M.
terça-feira, 9 de julho de 2019
Qual a medida do amor?
Qual a medida do amor?
A vastidão da incerteza...
A segurança de uma subtileza?
Talvez a alma e a sua grandeza!
Tão maior o amor
Quão maior o abismo e o terror
De sua dor...
E se da alma não se encontra o fundo
É porque nela cabe o mundo!
Escavam-se e descobrem-se sentidos
Findam hesitações de tempos idos
Tão maior a profundeza
Tão maior a inteireza
De um ser de amor!
A vastidão da incerteza...
A segurança de uma subtileza?
Talvez a alma e a sua grandeza!
Tão maior o amor
Quão maior o abismo e o terror
De sua dor...
E se da alma não se encontra o fundo
É porque nela cabe o mundo!
Escavam-se e descobrem-se sentidos
Findam hesitações de tempos idos
Tão maior a profundeza
Tão maior a inteireza
De um ser de amor!
Crónica de Maus Costumes 139
Ingratidão
A ingratidão é um comportamento feio que diz muito sobre quem o pratica.
Julgo que se confunde tanta coisa que é vulgar apresentar a gratidão como se de
subserviência se tratasse.
Ser grato não é ser servil, mas antes o reconhecimento de um gesto agradável e
generoso que alguém teve connosco em dado momento e que nos ajudou, ou
conforme o dicionário, “reconhecimento por um benefício que se recebeu”. O
subserviente serve por obrigação, opressão, medo, ignorância e até bajulação. Não o
faz por delicadeza, generosidade ou amor, no entanto, aquele que fica grato e que
sente estar em dívida, mesmo sabendo que o autor da graça não espera recompensa,
na primeira oportunidade, retribuirá a atenção. Desta forma, ser grato é ficar obrigado
e como o Dr. Sampaio da Nóvoa já explicou uma altura, o nosso “obrigado(a)”,
expressão de agradecimento, implica o sentido de ficar obrigado a retribuir a gentileza,
ou seja, ficar grato. Na minha terra, dos ingratos, diz-se serem cães que não conhecem
o dono (sem ofensa para os cães). Aquele que não reconhece o bem que lhe é feito
não é digno do benefício concedido, porém, não se arrependa o benemérito, porque
as ações ficam sempre com quem as toma. Se alguém fez uma boa ação e o outro não
a soube valorizar, facilmente se percebe quem falhou. Evidentemente, esse
reconhecimento desejável deverá ser sentido e prestado dentro da razoabilidade. Não
se pretende que o objeto da graça seja servil, mesmo contrariando os seus princípios,
mas também não deve cuspir no prato onde comeu. Infelizmente, não raramente, se
observam comportamentos ingratos e indignos, o que me leva a concluir que aquele
que falha miseravelmente com o seu benemérito, como será com alguém a quem não
deve nada? A ingratidão não revela apenas uma falha esporádica à qual todo e
qualquer ser humano está sujeito, dada a sua natureza e fragilidade. Que atire a
primeira pedra quem nunca errou, porém, o ingrato ultrapassa em larga medida a
desresponsabilização que se possa atribuir à sua condição de humano, logo ser
imperfeito, porquanto tem a consciência de que foi ajudado e, portanto, exige a ética
que se ponha também ao dispor.
Mais tarde ou mais cedo, de ingratidão em ingratidão, afasta-se quem nos quis
bem e quando dermos conta estamos sós. Se não houver retribuições a fazer, também
não haverá ninguém a quem recorrer e ninguém é autossuficiente o bastante para
conseguir viver sem o outro. Queiramos ou não vivemos em sociedade. Se esta pode
ser castradora? Pode, mas há que escolher o mal menor. Regras para uma boa
convivência que convém aprender.
Nina M.
sexta-feira, 5 de julho de 2019
Abraçado a mim
Abraçado a mim
Por breves instantes
Abandonas-te à tua humanidade
Despes a armadura que envergas
Não se ouve o grito de guerra
Mas um murmúrio atirado ao vento
Um pedido brando e terno
Quase um lamento
Fragilidade amorosa que dói
Tão só tão puro tão autêntico
Solidão armadilhada
De quem não perde o momento
Anti-herói sem capa nem espada
Apenas amor e olhar em brasa
Emoção não contida que se soltou
Corajosa terna e desbragada
E em mim pousou
Como quem chegou a casa.
Por breves instantes
Abandonas-te à tua humanidade
Despes a armadura que envergas
Não se ouve o grito de guerra
Mas um murmúrio atirado ao vento
Um pedido brando e terno
Quase um lamento
Fragilidade amorosa que dói
Tão só tão puro tão autêntico
Solidão armadilhada
De quem não perde o momento
Anti-herói sem capa nem espada
Apenas amor e olhar em brasa
Emoção não contida que se soltou
Corajosa terna e desbragada
E em mim pousou
Como quem chegou a casa.
segunda-feira, 1 de julho de 2019
Infância
Quanto vale uma infância perdida
Abandonada no fundo de um baú?
Maltratada, espezinhada e ofendida
Crianças, futuros homens de espírito cru.
Às meninas ensinados os desejos masculinos
Precocemente transformadas em amantes
São meninas mães de outros meninos
Não terão a sua infância como antes.
Rapazes sadios e ternos
São instigados a odiar
Colocam-lhes armas nas mãos
Brinquedos não lhos podiam dar?!
Crianças bem pequenas exploradas
Só para terem o que comer
Ao jugo do adulto abandonadas
Pouco lhe importa se as faz sofrer.
Num mundo tão desgovernado
Impiedoso e que só quer milhões
São os infantes condenados
Vítimas de vendilhões.
Sempre que leio e vejo tal
A revolta é dura e crescente
Não admito a escravidão do meu igual
Recuso a tirania dessa gente
A indignação é grande
Tão feroz e tão urgente
Que a vontade não abrande
Seja o Homem diligente!
Acabe-se com os desmandos
de quem maltrata criança
Vileza de costumes brandos
Abre portas à matança
Não morre só quem perde a vida
Mas todo o que não a tem digna
E o que ofende fica em dívida
Não passa de erva maligna
Abandonada no fundo de um baú?
Maltratada, espezinhada e ofendida
Crianças, futuros homens de espírito cru.
Às meninas ensinados os desejos masculinos
Precocemente transformadas em amantes
São meninas mães de outros meninos
Não terão a sua infância como antes.
Rapazes sadios e ternos
São instigados a odiar
Colocam-lhes armas nas mãos
Brinquedos não lhos podiam dar?!
Crianças bem pequenas exploradas
Só para terem o que comer
Ao jugo do adulto abandonadas
Pouco lhe importa se as faz sofrer.
Num mundo tão desgovernado
Impiedoso e que só quer milhões
São os infantes condenados
Vítimas de vendilhões.
Sempre que leio e vejo tal
A revolta é dura e crescente
Não admito a escravidão do meu igual
Recuso a tirania dessa gente
A indignação é grande
Tão feroz e tão urgente
Que a vontade não abrande
Seja o Homem diligente!
Acabe-se com os desmandos
de quem maltrata criança
Vileza de costumes brandos
Abre portas à matança
Não morre só quem perde a vida
Mas todo o que não a tem digna
E o que ofende fica em dívida
Não passa de erva maligna
Subscrever:
Mensagens (Atom)