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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de maus Costumes 69


Não estava previsto ser assim, mas, por força das circunstâncias, será assim o início desta crónica: Portugaaaallll! Heróis do mar/Nobre Povo/ Nação valente e imortal/Levantai hoje de novo/O esplendor de Portugal!... Levantaram.
Portugal sagrou-se campeão europeu de futsal, eliminando a seleção espanhola, favorita e que já tinha ganhado sete destas competições, porém, hoje, o caneco é nosso! Habituem-se! Contra a azia podem usar rennie ou compensan! Já experimentei e é eficaz. O triunfo vai alterar alguma coisa na sociedade portuguesa? Não. Porém, enche-nos de orgulho.
Não sendo exatamente este o Quinto Império preconizado pelo Padre António Vieira nem por Fernando Pessoa, não deixa de nos pôr na boca da Europa e serve para comprovar que, apesar das idiossincrasias da nossa portugalidade, quando decidimos arregaçar as mangas, conseguimos grandes feitos, com menos do que muitos. É a lei do desenrascanço, que os povos extremamente organizados, conscientes e com visão de futuro a longo prazo desconhecem, pois devem seguir o plano traçado religiosamente, mas se há um imprevisto, está o caldo entornado! Ora, já o português é perito em imprevistos que seriam mais ou menos previstos se aqueles que nos vão governando ao longo do tempo fossem conscientes, mas na falta de melhor, à medida que as questões vão surgindo, vão sendo resolvidas. É irritante? Talvez. Mais para os nórdicos metódicos e organizados, mas paciência, não é defeito, é feitio!
Pessoa desejava para Portugal o império da cultura e uma nova era europeia emergida da crise, sendo o nosso país o precursor do movimento, condizente com a sua situação geográfica, uma vez que nos descreve como a cabeça da Europa. Para ele, os lusos estariam predestinados a grandes feitos, previstos por Bandarra, cantados pelo grande Camões, despertado o sonho por el-Rei D. Sebastião, que o quer ver renascido das cinzas, numa manhã de nevoeiro…
A Europa fora dilacerada por duas grandes guerras, vivia regimes totalitários nazistas, fascistas e leninistas. A época era conturbada e as receitas anteriores de sistemas políticos, religiosos ou filosóficos falharam, pelo que era necessário construir uma nova renascença, um novo mundo, uma nova arte trazida pelos poetas e artistas plásticos, aqueles que reinventam a própria imaginação. Esse papel caberia à nossa pátria, pois reúne a grande condição para o poder fazer: a língua que se expande extramuros e uma pátria é muito mais do um território balizado por fronteiras, uma pátria mora onde houver falantes da língua, que não a deixam morrer. Nisso Pessoa tinha razão. O português está em todo o lado, reminiscência de um império outrora territorial, mas que deixou marcas culturais indeléveis no tempo e que continuam perpetuadas pela diáspora.
Talvez o lugar cimeiro da cultura ainda não tenha chegado, mas somos um povo tão capaz quanto outros, provam-no todos os trabalhadores portugueses residentes no estrangeiro e cujo mérito é reconhecido lá fora. Prova-o o desporto, onde temos vindo a conquistar cada vez mais títulos e prova-o o Fado.
O Quinto Império, o sonho e D. Sebastião virão ou não?
Nina M.


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