Não estava previsto ser assim, mas, por
força das circunstâncias, será assim o início desta crónica: Portugaaaallll!
Heróis do mar/Nobre Povo/ Nação valente e imortal/Levantai hoje de novo/O
esplendor de Portugal!... Levantaram.
Portugal sagrou-se campeão europeu de
futsal, eliminando a seleção espanhola, favorita e que já tinha ganhado sete
destas competições, porém, hoje, o caneco é nosso! Habituem-se! Contra a azia
podem usar rennie ou compensan! Já experimentei e é eficaz. O triunfo vai
alterar alguma coisa na sociedade portuguesa? Não. Porém, enche-nos de orgulho.
Não sendo exatamente este o Quinto
Império preconizado pelo Padre António Vieira nem por Fernando Pessoa, não
deixa de nos pôr na boca da Europa e serve para comprovar que, apesar das
idiossincrasias da nossa portugalidade, quando decidimos arregaçar as mangas,
conseguimos grandes feitos, com menos do que muitos. É a lei do desenrascanço,
que os povos extremamente organizados, conscientes e com visão de futuro a
longo prazo desconhecem, pois devem seguir o plano traçado religiosamente, mas
se há um imprevisto, está o caldo entornado! Ora, já o português é perito em
imprevistos que seriam mais ou menos previstos se aqueles que nos vão
governando ao longo do tempo fossem conscientes, mas na falta de melhor, à
medida que as questões vão surgindo, vão sendo resolvidas. É irritante? Talvez.
Mais para os nórdicos metódicos e organizados, mas paciência, não é defeito, é
feitio!
Pessoa desejava para Portugal o império
da cultura e uma nova era europeia emergida da crise, sendo o nosso país o
precursor do movimento, condizente com a sua situação geográfica, uma vez que
nos descreve como a cabeça da Europa. Para ele, os lusos estariam predestinados
a grandes feitos, previstos por Bandarra, cantados pelo grande Camões,
despertado o sonho por el-Rei D. Sebastião, que o quer ver renascido das
cinzas, numa manhã de nevoeiro…
A Europa fora dilacerada por duas
grandes guerras, vivia regimes totalitários nazistas, fascistas e leninistas. A
época era conturbada e as receitas anteriores de sistemas políticos, religiosos
ou filosóficos falharam, pelo que era necessário construir uma nova renascença,
um novo mundo, uma nova arte trazida pelos poetas e artistas plásticos, aqueles
que reinventam a própria imaginação. Esse papel caberia à nossa pátria, pois
reúne a grande condição para o poder fazer: a língua que se expande extramuros
e uma pátria é muito mais do um território balizado por fronteiras, uma pátria
mora onde houver falantes da língua, que não a deixam morrer. Nisso Pessoa
tinha razão. O português está em todo o lado, reminiscência de um império
outrora territorial, mas que deixou marcas culturais indeléveis no tempo e que
continuam perpetuadas pela diáspora.
Talvez o lugar cimeiro da cultura ainda
não tenha chegado, mas somos um povo tão capaz quanto outros, provam-no todos
os trabalhadores portugueses residentes no estrangeiro e cujo mérito é
reconhecido lá fora. Prova-o o desporto, onde temos vindo a conquistar cada vez
mais títulos e prova-o o Fado.
O Quinto Império, o sonho e D. Sebastião
virão ou não?
Nina M.
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