A bruteza do espírito humano
impressiona-me! Gostaria de acreditar no sofisma de Rousseau, mas não consigo.
Ao olhar para o mundo, não me parece que o Homem seja “naturalmente bom”. Bem
pelo contrário. A sociedade é feita de Homens e se esta é corrompida, então
será o homem a corrompê-la.
Tendo mais a acreditar na teoria do gene
egoísta, de Richard Dawkins, mediante a qual somos “máquinas de sobrevivência”
ao serviço dos genes, que se querem reproduzir e multiplicar. Assim se explica
a simpatia ou altruísmo para com os nossos parentes, preferencialmente diretos,
também portadores da nossa carga genética que se quer propagar. Assim, a nossa
generosidade direcionada para o parente não é desprovida de interesse próprio,
mas apenas uma forma de perpetuação de genes, sem que nós, raça inteligente,
nos apercebamos de tal. Mediante esta teoria, o ser humano não será
genuinamente generoso. Da aplicação da bondade, espera-se colher benefícios: na
sociedade animal, a sobrevivência de um grupo que partilha o mesmo mapa
genético, na humana, supostamente racional e culturalmente evoluída, para além
deste mesmo fim, a solidariedade está condicionada por fatores externos como o
reconhecimento social, por exemplo. A sociedade complexa que constituímos atualmente
obriga a uma cooperação extramuros, o que facilitou o surgimento da nossa
conduta moral e o aparecimento de sentimentos como culpa, remorso ou vergonha,
não em prol do outro, mas em defesa de nós próprios. Como diz o biólogo
americano Michael Ghiselin: “Arranhe um altruísta, e você verá um egoísta
sangrar”.
Talvez só assim se compreenda as
atrocidades cometidas ao longo de toda a História da humanidade. Prova o tempo
que o ser humano nunca foi capaz de viver sem conflito, sangue e tentativa de
alcançar a supremacia em relação ao seu semelhante. Estará o Homem condenado à
sua condição animal? Não conseguirá sobrepor a sua racionalidade à sua carga
genética?
Recentemente foi identificada a hormona
da bondade, produzida no hipotálamo, a oxitocina. Ao que parece, os que de nós
apresentam um genótipo com uma concentração mais favorável desta hormona são
mais empáticos, sociáveis e generosos. Esta hormona, libertada durante o parto
e também durante a amamentação, explica, por exemplo, a forte relação entre a
mãe e o seu bebé. No entanto, os cientistas acham improvável que a bondade seja
regulada unicamente por um único gene e que haverá muitos outros em jogo.
Quanto a mim, acho uma pena, pois já
imaginava parte dos problemas do mundo solucionados com uns simples “shots” de
oxitocina, aplicados generosamente e de forma regular a muitos dos líderes
mundiais! Eu própria gostaria de carregar comigo alguns!
Nina M.
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