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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 19



A bruteza do espírito humano impressiona-me! Gostaria de acreditar no sofisma de Rousseau, mas não consigo. Ao olhar para o mundo, não me parece que o Homem seja “naturalmente bom”. Bem pelo contrário. A sociedade é feita de Homens e se esta é corrompida, então será o homem a corrompê-la.
Tendo mais a acreditar na teoria do gene egoísta, de Richard Dawkins, mediante a qual somos “máquinas de sobrevivência” ao serviço dos genes, que se querem reproduzir e multiplicar. Assim se explica a simpatia ou altruísmo para com os nossos parentes, preferencialmente diretos, também portadores da nossa carga genética que se quer propagar. Assim, a nossa generosidade direcionada para o parente não é desprovida de interesse próprio, mas apenas uma forma de perpetuação de genes, sem que nós, raça inteligente, nos apercebamos de tal. Mediante esta teoria, o ser humano não será genuinamente generoso. Da aplicação da bondade, espera-se colher benefícios: na sociedade animal, a sobrevivência de um grupo que partilha o mesmo mapa genético, na humana, supostamente racional e culturalmente evoluída, para além deste mesmo fim, a solidariedade está condicionada por fatores externos como o reconhecimento social, por exemplo. A sociedade complexa que constituímos atualmente obriga a uma cooperação extramuros, o que facilitou o surgimento da nossa conduta moral e o aparecimento de sentimentos como culpa, remorso ou vergonha, não em prol do outro, mas em defesa de nós próprios. Como diz o biólogo americano Michael Ghiselin: “Arranhe um altruísta, e você verá um egoísta sangrar”.
Talvez só assim se compreenda as atrocidades cometidas ao longo de toda a História da humanidade. Prova o tempo que o ser humano nunca foi capaz de viver sem conflito, sangue e tentativa de alcançar a supremacia em relação ao seu semelhante. Estará o Homem condenado à sua condição animal? Não conseguirá sobrepor a sua racionalidade à sua carga genética?
Recentemente foi identificada a hormona da bondade, produzida no hipotálamo, a oxitocina. Ao que parece, os que de nós apresentam um genótipo com uma concentração mais favorável desta hormona são mais empáticos, sociáveis e generosos. Esta hormona, libertada durante o parto e também durante a amamentação, explica, por exemplo, a forte relação entre a mãe e o seu bebé. No entanto, os cientistas acham improvável que a bondade seja regulada unicamente por um único gene e que haverá muitos outros em jogo.
Quanto a mim, acho uma pena, pois já imaginava parte dos problemas do mundo solucionados com uns simples “shots” de oxitocina, aplicados generosamente e de forma regular a muitos dos líderes mundiais! Eu própria gostaria de carregar comigo alguns!
Nina M.




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