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sábado, 29 de setembro de 2018

Esse amor feito saudade

Esse amor feito saudade
Que se entranha eternamente
Anda assim acomodado
Sedu-lo intensamente
Não pediu  nem desejou
Oferenda dos seus deuses
Vendo o coração calado
Quis Orpheu, abnegado
Fazer dele sua lira
Eis que o sossego lhe tira
Com o auxílio de Calíope
Para que renasça o verso
Com a força de um grito!
Haverá maior angústia
Que o desejo de absoluto
Querer encontro verdadeiro
Viver um amor impoluto
E nessa busca incessante
Na demanda do Santo Graal
Perde-se o ser na errância
Procura o seu igual
E se o caminho for longo
E o bem nunca encontrado
Suspira triste o Cavaleiro
Passa a viver resignado
Eis que o vento da revolta
Não quer mais soprar em vão
Parte de novo o valente
Em busca da sua paixão
Ergue-a em triunfo se alcança
Feliz com o seu acaso
Traz guardado no seu peito
O nome da sua esperança
O seu amor almejado!

terça-feira, 25 de setembro de 2018

Olhos tristes

Sei de uns olhos tristes, tristes
Com sabor a desilusão
Maltratados pela vida
Ambos clamam por paixão!
Não o sabem ainda...
Por tanto o querer negar
Queria eu que se alegrassem
Quando me veem chegar!
Olhos cansados das penas
Perdidos no seu pensamento
Que me olham assim...
Plenos de desalento...
Pousa o olhar sobre mim!
Podes nos meus olhos serenar
Sou o teu princípio sem fim
Assim me deixes ficar.
É com esta secreta esperança
Que te dou o meu olhar
Trago alegria com ele
Segurança para te ofertar
Sei de uns olhos tristes, tristes
Que precisam de descansar
Eu sei bem que tu existes
Não me vou afastar
Quero ver uma centelha
Acender-se em teu olhar
Ver-te em paz e a tua luz
Que me faz alegrar
Deixa que os afague
Com jeitinho e devagar
Sentirás o meu carinho
Não o podes abandonar
E depois deste descanso
Esses olhos tristes teus
Serão ribeiro manso
Que se cruzam com os meus

sábado, 22 de setembro de 2018

Crónica de Maus Costumes 99




Há momentos em que mesmo as pessoas de convicções tremem e fraquejam. Fazem-no de forma diferente da maioria, porque o sabem ocultar. Mantêm-se seguros e altivos, no melhor sentido da palavra, a altivez que regula a autoconfiança e a autoestima e não o narcisismo destrutivo e cego de se achar o melhor.
O olhar alheio que pousa sobre estas auras de indestrutibilidade pasma incrédulo perante os sinais corporais que apontam para uma serenidade invejável.
São personalidades fortes, nalguns casos revestidas a açúcar, muitas vezes, profundamente dilaceradas pela vida. Se olharmos atentamente, podemos reconhecê-las em diversos contextos. Todos os anos chegam até mim heróis destes, muitas vezes, de palmo e meio que suportam agruras de fazer corar o mais seguro de si.
Mais do que comiseração ganham o meu total respeito e revolta interior também, por um infinito estado de coisas que me ultrapassam, me agoniam e não consigo resolver.
Perante estas vidas sofridas e tocadas pela desgraça, sofre-se um choque em silêncio absoluto que desvela uma profunda vergonha de um qualquer pesar que nos assole o espírito.
Tudo é uma questão de perspetiva, ângulo e empatia. O confronto com a desgraça alheia é bom para que tenhamos a humildade de nos questionarmos e de nos reposicionarmos no nosso trajeto. Aprender a olhar para os que sofrem com maiores dores alarga horizontes e quebra barreiras, faz-nos perceber a sorte que tivemos. Pura sorte! A meritocracia não cabe aqui e como um trapo sujo de chão, enrodilhamos a alma vexada, por saber que até para nascer é preciso ter-se sorte…
Quem não sabe nunca apreciar o que tem, achará sempre pouco o que encontrar!
Valorizemos o que já temos e talvez o nosso trajeto seja mais simples.

Nina M.

Quero


Quero ver-te assim rendida
Desmaiada nos meus braços
Com a tua alma despida
Refeita dos teus cansaços

Quero olhar bem para ti
E ver amor somente
A tua boca sorri
Clama por um beijo urgente

Quero que a luz dos teus olhos
Pouse em mim suavemente
Contigo esqueço os abrolhos
E vivo autenticamente

Quero, meu amor, tua alma
Plena de desassossego
Quero ser a tua calma
Quero ser teu aconchego

Quero amar-te de verdade
Ter o amor que desconheço
É nesta autenticidade
Que sou e me reconheço

Quero-te no meu destino
O tanto que me faltava
Fórmula de amor divino
Tudo quanto desejava

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Esta saudade eterna


Esta saudade eterna
Em mim se aninha
Espera-te subalterna
Nesta ânsia minha 
Plena de desejo 
Percorre e imagina
O teu rosto sério
Que oculta o mistério
Emoção mal disfarçada
Afaga com dedos ternos
A tua alma lembrada
Em momentos eternos
E o vazio da tua ausência
Tornado sintoma físico
Faz esquecer a prudência
De um amor metafísico
Assim o fogo cresce e consome
Nunca completamente
Esta angústia desenhada
Que aparece de repente
Centelha reacendida
A cada palavra tua
É vida bem vivida
É sol e também lua
A cada gesto teu
E a cada abraço apertado
Sinto que me dou eu
Minha alma a teu lado
E como num poema
Todo o amor se desvela
O meu sentir é pena
De te não ter no meu barco à vela
Como dois navegantes
Que partem sem destino
Pouca importa se chegam
Só querem o caminho
Duas almas errantes
Sem óbulo para o barqueiro
Riem das regras reinantes 
Desafiam o ceifeiro
E na conjunta loucura
Impelidos para a vertigem
Só procuram a candura
Do encontro que erigem
Os deuses que os protejam
De todo e qualquer mal
Há de ser absoluto
Sonho tornado real
 

 

 


terça-feira, 18 de setembro de 2018

Ânsia

Nesta ânsia exigente de tudo querer
Ambição desmedida e louca
Desejo de possuir o mundo no abraço
Confia-se a energia ao ser
Projeto inacabado, loucura lúcida
Que és só pela metade!
Ânsia de pleno e absoluto
Inquietude ardente e farta
Seduzida por Calíope
Atreve-se na evidência de um verso...
Sereia desventurosa e aprisionada
Renega a serenidade 
Sorve a vida até à última gota!
Alegrias e tristezas, prazeres e dores, 
Vitórias e derrotas...
Tudo terá de seu e nada sobejará
No momento eterno do adeus.
Só vazio pleno de quem viveu!

sábado, 15 de setembro de 2018

Crónica de Maus Costumes 98



A crónica de hoje pretende fazer um agradecimento público a um dos maiores humoristas portugueses, Ricardo Araújo Pereira (RAP). Verei se consigo fazer-lhe chegar a missiva.

Julgo falar em nome da maioria dos professores portugueses. De repente, no meio de tantos mimos com que o Governo e a população em geral têm brindado os professores, eis que surge uma voz lúcida, através do tom jocoso e humorístico que lhe é característico! Ainda no programa de ontem, Governo Sombra, Ricardo mostrou-se um indefetível defensor dos professores, quando seria mais fácil, no meio de tanta crítica, atirar mais uma pedra. Mostra uma consciência plena das dificuldades da profissão, sabe que os professores não ganham balúrdios nem trabalham pouco e compreende a campanha vergonhosa e torpe, o atentado ao bom nome e à dignidade da classe. RAP considera justa a recuperação do tempo de serviço (942) que os professores tanto reclamam, porque efetivamente o trabalharam e porque foi o que ficou estipulado pelo Governo e a sua geringonça no Orçamento de Estado. Querer fugir disto, nada mais é do que mentir descaradamente.

Assim, quando os seus colegas de painel, não discordando em absoluto de RAP, são mais cautelosos, afirmando, no caso de Pedro Mexia, agora António Costa já vai dizendo que não há dinheiro e que tem que tratar por igual todos os funcionários públicos, só me apetece responder: que tivesse pensado antes de usar a retórica política para colher os seus louros!

Quanto a João Miguel Tavares e ao seu não argumento de que há professores que são mal pagos relativamente ao que fazem e os que recebem mais do que o merecido, só posso responder que, não deixando de haver um fundo de verdade, tal situação é transversal a todas as profissões! Insistir na tónica de que não há avaliações, por favor! Estou à espera de aulas assistidas para poder progredir! Todos os anos somos avaliados e com quotas que limitam a atribuição da menção “Muito Bom” ou “Excelente”!

Mais, João Miguel Tavares, os professores são, na sua larga maioria, pessoas dedicadas ao ofício e aos seus alunos! Uma pequena parte não pode pôr em causa uma classe inteira! Os professores também se preocupam com questões preponderantes da Educação, para além do seu salário! Não queremos trinta alunos por turma! Colaboramos na implementação de novas políticas sem séria discussão e auscultação da opinião de quem está no terreno! Vamos introduzir o modelo da flexibilização curricular em turmas gigantescas! Ninguém se preocupa em resolver o problema da indisciplina que grassa nas escolas! Deixe que lhe diga… Por incrível que pareça, essa indisciplina, normalmente, excetuando casos raros, também não é da responsabilidade do professor! Há algo que mais que se chama meio social e que quando o invocamos junto de alguns teóricos do eduquês, preferem enfiar a cabeça na areia e dizer que o meio não pode servir de justificação! Provavelmente, nunca estiveram dentro de uma sala de aula! Nunca tiveram que amparar alunos vítimas de violência, de abusos, filhos de pais alcoólicos, oriundos de famílias completamente desestruturadas e que a última coisa que lhes interessa é a escola! Posso garantir que muitas vezes, com esses meninos, não lhes fica na memória o que é um sujeito subentendido ou a mensagem de Os Lusíadas, mas lembrar-se-ão do professor que percebeu que ele não estava bem e que o tentou ajudar com os meios de que a escola e ele mesmo dispunham! Esta é a vida real em boa parte das escolas públicas portuguesas. Todos os problemas existentes na sociedade chegam até nós, professores, nas escolas! Somos bem mais do que o mestre que orienta e ensina: somos pais, psicólogos, amigos, assistentes sociais e tudo mais o que possa imaginar! Acha mesmo que o mais incompetente dos professores não merece o seu salário, tendo de lidar com estas situações?! Devemos ser a classe mais resiliente e resistente de que já ouviu falar. Não merecemos ser desconsiderados desta forma!

Um nível de um país também se vê pelo respeito que dedica aos seus professores…

Quanto ao RAP, uma vez mais, um sentido obrigada por ser a voz dissonante numa comunicação social desinformada e tóxica!









quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Inverno


Quando chegar o meu inverno
E os cabelos de neve e ralos
Derem sinais do tempo
não levarei comigo remorsos
Nem culpa pelo que não vivi
Suportarei estoicamente
as angústias não resolvidas
E as lágrimas de saudade
De uma vida já ida
Olharei bem no fundo do tempo
E verei vida até ao último suspiro
Cheia de mim e de amor
De imperfeições e erros
de encontros e desencontros
Vida de autenticidade
Vivida de verdade
Assim como quem anseia
Condensar a existência num abraço
Serenamente saberei dizer adeus
Abrir as mãos e deixar escorrer
uma vida plena que se esgotou