Ultimamente, a morte tem-me passado
demasiado perto. O ano que se findou foi de boa colheita e o que ainda agora
começou continua na sua senda. Não falo apenas de personalidades conhecidas do
grande público, mas dos incógnitos que me tocam mais de perto. Soube
recentemente de um colega que aguarda a serenidade eterna da alma.
Trata-se de alguém ainda jovem com muito para
dar e para realizar. A ceifeira é muito injusta. Faz-me sentir saudades do
tempo da inocência em que ninguém morria e o fim era um conceito ainda muito
longínquo, mas tão distante que nos permitia esquecer que um dia chega para
todos.
A maturidade tem destas coisas.
Inevitavelmente todos nos questionamos: “E se fosse contigo?” Trava-se a saliva
na garganta por não conseguir desensarilhar-se do nó. Um medo aterrador que
ameaça todos os pais: em primeiro lugar, a possibilidade de ver um filho perder
a vida e em segundo, saber que se vai morrer e que se deixa descendentes em
tenra idade. Estes são os meus maiores receios, porque subvertem a ordem
natural das coisas. É função dos pais zelar pelo futuro dos filhos e muni-los o
melhor possível da capacidade de se defenderem e de viverem autonomamente, de
forma digna. Apagarmo-nos antes de o realizar não deveria acontecer. É
demasiado cruel! Imagino que, nesses casos, a vida saiba a pouco e nos fique o
amargo do que ainda poderia ser feito, mas que não passou de um advento
incipiente e irreal.
Dou comigo a pensar que pode acontecer a
qualquer um, independentemente da nossa vontade e dos nossos projetos e a
terrível consciência da nossa efemeridade, desmancha um pouco a alegria com que
se vai construindo a nossa caminhada. Não podemos, como é óbvio, paralisar com
o temor e quedar-nos na encruzilhada, porque a vida não espera, mas que estes
infelizes exemplos sirvam para aprendermos a aproveitar o que de facto é
importante, na esperança de que nada nos aconteça fora de tempo.
Se houver um tempo certo para a morte,
será, certamente, quando o sofrimento ultrapassar a vontade de viver. Enquanto
isto não chegar, aproveitemos os minutos e os dias de que podemos vir a sentir
falta.
O meu coração chora por aqueles que
partem e mais ainda pelos que ficam e devem aprender a viver com a saudade da
ausência.
Nina M.
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