A herança cultural e civilizacional que se carrega pode
ser um verdadeiro fardo. Li, certa altura, uma reportagem sobre os filhos e
netos de nazis. Esforçavam-se por divulgar o Holocausto, alertar consciências,
no intuito de evitarem erros históricos monstruosos como esse.
Os descendentes, marcados por uma história que não
puderam escolher (muitos eram apenas crianças, na altura da Segunda Grande
Guerra), viam as suas mãos manchadas pelo sangue que os seus progenitores
derramaram. Senti-lhes uma vergonha profunda, pela culpa que não tiveram.
Narravam que a descoberta da perversidade dos familiares foi feita aos poucos,
com incredulidade e, por fim, repugnância. A incapacidade de aceitarem a malignidade
praticada pelos seus levou-os ao afastamento total das suas raízes. Uma busca
pela paz de espírito e da tranquilidade da consciência, que se nega a
compactuar com a monstruosidade. O nome que carregam conspurca toda a sua
essência e identidade. Querem lavar o sangue que carregam por herança, num
desejo ávido de se distanciarem daquele horror. Verificam que isso é pouco, que
não lhes chega e numa tentativa desesperada de remediarem o irremediável, dão a
conhecer ao mundo a sua história, pedindo desculpa pelo passado vexatório que
não lhes pertence diretamente, mas que sustentam como a sua própria cruz.
Espero, honestamente, que um dia possam encontrar-se em paz.
Em conversa sobre o tema com uns colegas, partilhava que
o mais admirável era o facto de tanta gente ver naquele horror normalidade,
porque hoje, aos nossos olhos, o crime hediondo é inegável. Como se pode chegar
tão longe? Como pode o Homem ser cúmplice e fechar os olhos ao terror?
Infelizmente, a História está cheia de exemplos dessa
inação. O Holocausto judaico é o mais emblemático, mas não único. Interrogo-me,
de igual modo, sobre a facilidade com que o agredido se torna agressor. Os
colunatos israelitas são disso exemplo. Monitorizados pelas forças de
segurança, os israelitas ocupam territórios para além do que lhes pertence e
agem muito para lá do que a lei permite. Subjugam e humilham o palestiniano.
Sendo um povo injustiçado ao longo da História, não hesita também em maltratar.
Outros exemplos poderiam ser dados: os genocídios curdo, de Timor Leste, de
Ruanda, enfim… As perguntas são invariavelmente as mesmas: Como se pode agir
assim? Como se permite tamanhos desmandos?
Talvez seja uma questão de interesses, dirão uns. Talvez
uma questão de consciência que se apaga e que se esquece que se tem. Não sei se
isso é possível, mas ao olharmos a banalização do mal, como poderemos
explicá-lo? Há os que se lembram de o executar e logo aparecem os seus
correligionários a apoiarem o terror.
Temo que o mundo nunca tenha sido um lugar seguro para se
viver!
Nina M.
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