O fim de semana passado, para mim, foi
antagónico. Revestiu-me o paladar de sabores agridoces, motivados pela
dualidade das experiências vividas e sentidas.
Foi dia de comemorar o amor em família.
As bodas de ónix ou de seda, assim são cognominados os doze anos de casamento,
mereciam uma pequena festividade, onde pudesse haver divertimento, descanso e
romance. Evidentemente, não é forçoso fazer-se anos de casados para se fazer um
parêntese no quotidiano sempre cheio de responsabilidades e tão corrido, mas é
sem dúvida um bom pretexto para se aproveitar o melhor que a vida nos oferece.
Soube bem partilhar estes momentos com o meu companheiro de vida, pai dos meus
filhos, o meu melhor amigo e o meu amante. Nós merecemos.
Enquanto usufruíamos de uma pequena
pausa tão desejada, a tragédia que deixou Portugal a chorar abatia-se sobre
Pedrógão Grande. É impossível permanecer-se tranquilo perante o sucedido. A
incredulidade e a consternação atingem-nos no mais profundo da nossa alma. O
ambiente íntimo vivido em família faz-nos compreender a tragédia e a senti-la
de forma profunda. Muitas famílias pereceram, sucumbiram perante o fumo e,
espero eu, antes de serem engolidos pelas chamas. Dou comigo a pensar que
aqueles que partiram devem ter deixado algumas coisas por dizer, muitas por
fazer e viver. Sentimos especialmente que todos vimos ao mundo com um prazo de
validade desconhecido, por não estar marcado no invólucro. Percebemos que o
importante é o aqui e o agora e que nada do que verdadeiramente importa e que
se reduz à palavra amor deve ser adiado, sob pena de não ser vivido.
Mais triste é ter a plena consciência
desta fragilidade humana, da nossa efemeridade, sermos lembrados dela por esta
terrível catástrofe e, mesmo assim, saber que também em breve nós seremos
embrulhados pelos compromissos e banalidades da vida. Saber que apesar de não
devermos adiar o inadiável continuaremos a fazê-lo em nome da profissão, do
compromisso, da responsabilidade e vamos deixando que o melhor da vida nos
escape aos poucos e devagarinho por entre os dedos, para ver se não dói muito.
Tentemos viver cada momento como se
fosse o último, porque um dia assim será e imagino que não seja agradável a
sensação de não termos dito tudo, de não termos feito o essencial e de não
termos sentido verdadeiramente os belos momentos que vamos experienciando e
chegarmos à conclusão de que fomos felizes, mas não sabíamos.
O segredo da
felicidade reside na capacidade de apreciar as coisas simples. Façámo-lo!
Nina M.
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