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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 40



O fim de semana passado, para mim, foi antagónico. Revestiu-me o paladar de sabores agridoces, motivados pela dualidade das experiências vividas e sentidas.
Foi dia de comemorar o amor em família. As bodas de ónix ou de seda, assim são cognominados os doze anos de casamento, mereciam uma pequena festividade, onde pudesse haver divertimento, descanso e romance. Evidentemente, não é forçoso fazer-se anos de casados para se fazer um parêntese no quotidiano sempre cheio de responsabilidades e tão corrido, mas é sem dúvida um bom pretexto para se aproveitar o melhor que a vida nos oferece. Soube bem partilhar estes momentos com o meu companheiro de vida, pai dos meus filhos, o meu melhor amigo e o meu amante. Nós merecemos.
Enquanto usufruíamos de uma pequena pausa tão desejada, a tragédia que deixou Portugal a chorar abatia-se sobre Pedrógão Grande. É impossível permanecer-se tranquilo perante o sucedido. A incredulidade e a consternação atingem-nos no mais profundo da nossa alma. O ambiente íntimo vivido em família faz-nos compreender a tragédia e a senti-la de forma profunda. Muitas famílias pereceram, sucumbiram perante o fumo e, espero eu, antes de serem engolidos pelas chamas. Dou comigo a pensar que aqueles que partiram devem ter deixado algumas coisas por dizer, muitas por fazer e viver. Sentimos especialmente que todos vimos ao mundo com um prazo de validade desconhecido, por não estar marcado no invólucro. Percebemos que o importante é o aqui e o agora e que nada do que verdadeiramente importa e que se reduz à palavra amor deve ser adiado, sob pena de não ser vivido.
Mais triste é ter a plena consciência desta fragilidade humana, da nossa efemeridade, sermos lembrados dela por esta terrível catástrofe e, mesmo assim, saber que também em breve nós seremos embrulhados pelos compromissos e banalidades da vida. Saber que apesar de não devermos adiar o inadiável continuaremos a fazê-lo em nome da profissão, do compromisso, da responsabilidade e vamos deixando que o melhor da vida nos escape aos poucos e devagarinho por entre os dedos, para ver se não dói muito.
Tentemos viver cada momento como se fosse o último, porque um dia assim será e imagino que não seja agradável a sensação de não termos dito tudo, de não termos feito o essencial e de não termos sentido verdadeiramente os belos momentos que vamos experienciando e chegarmos à conclusão de que fomos felizes, mas não sabíamos.
O segredo da felicidade reside na capacidade de apreciar as coisas simples.  Façámo-lo!
Nina M.


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