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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 8


Espera-nos, num futuro próximo, uma geração de filhos únicos! Preocupante, por motivos vários: económicos, sociais e emocionais. A primeira justificação que surge é frequentemente utilizada pelo discurso político e, neste caso, verdadeiro, relativo às contas da Segurança Social. Ao que parece, o número de ativos que descontam para os reformados é, manifestamente, insuficiente. Prevê-se que dentro de alguns anos, caso a taxa de natalidade continue em baixa, a população portuguesa seja apenas de sete milhões. Estranho é que o discurso político e a manifesta preocupação não venham acompanhados de ações concretas para inverter a tendência.
Tão grave quanto o problema económico são os problemas sociais e também emocionais que essa geração futura poderá comportar.
Que cidadãos estaremos a criar? Estamos a vedar-lhes o acesso a irmãos e a todo o tipo de vivências que estes proporcionam. Essas crianças não saberão a alegria que se sente ao ser-se tio, pela primeira vez! E não! Ter primos é muito importante, mas não é o mesmo que ter irmãos! E ter sobrinhos por afinidade, também não é exatamente a mesma coisa!
No relacionamento entre irmãos, estão espartilhadas as regras fundamentais da vida e da sobrevivência em sociedade. Com eles, aprendemos a partilhar, não apenas o brinquedo, mas afetos. Ganhamos paciência e aprendemos que não somos o centro do universo, porque há alguém ao lado que disputa a mesma atenção e pasme-se: tem os mesmos direitos e deveres! Estabelece-se, desde cedo, a máxima de que a nossa liberdade não pode interferir com a do outro. Assimila-se a noção de hierarquia (normalmente o mais velho vence) e compreende-se que, apesar de a Constituição nos garantir os mesmos direitos e deveres, há funções e outro tipo de critérios que nos distinguem. Enfim, aprende-se o respeito! Com o tempo, apaga-se, ou pelo menos suaviza-se o traço comum a todos e que nos faz olhar demasiado para o nosso umbigo, esquecendo-nos do outro: o egoísmo! Ter irmãos é também uma escola para a generosidade, o perdão, a cumplicidade, o falhar, levantar e prosseguir. É saber lidar com os fracassos e não ficar traumatizado por causa deles e entristecer-se com os insucessos do irmão, mas alegrar-se pelas suas conquistas! É ter vontade de esmurrar o seu congénere e fazê-lo de vez em quando, mas defendê-lo com unhas e dentes, se alguém de fora o ataca! É ter alguém com quem dividir a dor de ver os progenitores envelhecerem e assistirem à sua partida! É aprender a amar!
Por que motivo privam muitos os seus filhos de tudo isto? Meramente por uma questão económica?! Francamente, na maioria dos casos, não me parece! Acredito que terá sido pelo mesmo facto que me impediu de ter um terceiro: o comodismo!
Claro que outras condições ajudariam, mas essencialmente o comodismo e a pouca vontade de nos sacrificarmos, condicionam a vida dos que mais amamos, passando-lhes o bichinho do egoísmo, com promessas falsas de um hedonismo solitário.
Talvez valha a pena pensar nisto…
Nina M.

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