Sempre Porto
A
semana foi pródiga em acontecimentos e, pelos piores motivos, vi, tal como os
restantes adeptos e sócios, a situação deplorável que aconteceu na Assembleia
Geral do Futebol Clube do Porto.
Não
sou sócia, sou apenas adepta, mas a violência gratuita a que assisti não me
representa nem representa a grande maioria dos portistas, tal como se percebe
pelos vários grupos que povoam as redes sociais afetos ao clube.
O
Futebol Clube do Porto é uma instituição que se sobrepõe a todo e qualquer
adepto, sócio ou dirigente. O clube maior e que tantas vezes representa
Portugal em competições europeias e que, não só marca presença como é o melhor clube
português a fazê-lo, não pode nem deve abrigar acontecimentos destes. Espero
que a SAD tome, efetivamente, as medidas necessárias e adequadas, no sentido de
punir os prevaricadores.
Sopram
ventos de mudança na administração portista, com André Villas-Boas a assumir-se
candidato. Há uma enorme franja de portistas que questionam a situação
financeira do clube, acreditando que os dirigentes são os principais responsáveis
pelas contas pouco recomendáveis que vão sendo apresentadas, apesar da
contenção no investimento dos plantéis dos últimos anos e das participações
sucessivas do Porto nas competições europeias, onde salvo raras exceções,
consegue fazer bom encaixe financeiro, devido aos seus resultados. Os sócios
querem compreender o que se passa e com toda a legitimidade para isso. Eu, que
assisto apenas ao que vai sendo noticiado, parece-me evidente que o presidente
Jorge Nuno Pinto da Costa já não tem nem a força moral nem a força física para
fazer face a determinadas situações. Não significa que o presidente não esteja
lúcido como sempre foi, mas a idade avança e não perdoa. Creio que o mal na
estrutura do Futebol Clube do Porto será mais dos que rodeiam o presidente e
integram a SAD, talvez, mais dispostos a servirem-se do clube do que a servir a
instituição. Ao que parece, segundo se fala nas redes sociais, uma das
alterações aos estatutos previa a permissão de familiares que trabalham no
clube poderem fazer negócios, o que à luz dos estatutos atuais não é permitido.
Ora, os portistas sabem que, noutros tempos, Pinto da Costa e o filho Alexandre
não se falavam. Andaram de costas voltadas imensos anos e, pelo que consta,
estaria na origem da zanga a recusa de o presidente acolher negócios liderados
pelo seu primogénito, colocando sempre os interesses do FCP à frente de
qualquer outra coisa, inclusive dos interesses do filho. Consta que o problema
será semelhante, mas ao que parece, desta vez, o presidente parece sucumbir
perante tais pretensões. Obviamente, tudo é suposição, porque só quem está no
convento sabe o que lá vai dentro.
O
facto de se propor as alterações não significa que elas fossem aprovadas. Seria
necessário que a votação democrática dos sócios a validassem. É aqui que o caso
se complica, envergonhando a maioria dos portistas. Quando um dos sócios do
clube exprime a sua opinião e que é contrária à da estrutura, o líder dos Super
Dragões, Fernando Madureira, decide agredir o associado, numa clara falta de
respeito, quer pelo sócio que tem o pleno direito de se manifestar quer pela
instituição FCP. Também há quem considere que o Madureira, vendo a aproximar-se
o fim da era de Pinto da Costa tem medo de perder as suas regalias, optando
pelo modus operandi que lhe é conhecido: a intimidação e a coação. Pelos
vistos, tudo tem valido: mensagens de retaliação e ameaças. A casa de André
Villas-Boas já foi visada. Sei que também já chegou a circular uma petição para
destituir o Madureira da qualidade de sócio do clube, mas quem a lançou já a
removeu, tal como alguém responsável por uma página de reflexões e afeto ao
clube, já veio anunciar o fecho da mesma. Logicamente, só vejo uma explicação:
receio de uma possível retaliação. Eu espero que, se efetivamente houver
ameaças através de mensagens escritas, haja a coragem de denunciar os meliantes.
Infelizmente, nesta situação, quando alguém se inscreve sócio, ninguém lhe
pergunta pelo registo criminal, mas talvez devesse ser obrigatório.
Acredito
que este comportamento inaceitável do Madureira só ajudará a oposição à atual
SAD, porque pelo que vou vendo e lendo, a maioria dos portistas pede a sua
punição e a demissão dos administradores. O Macaco, como é conhecido, até pode
conseguir intimidar, mas há algo que nunca conseguirá fazer: impedir que os
portistas votem livremente no candidato da sua preferência, seja ele Pinto da
Costa ou outro. Portanto, um energúmeno a ser energúmeno.
Eu gostaria que o presidente mais titulado de
sempre reconhecesse que talvez esteja na hora de ceder o lugar a outro, numa
transição calma e sólida, a bem do seu amado clube e que sempre soube pôr acima
de tudo o resto. Para os adeptos e sócios, o Pinto da Costa será sempre o
presidente honorário do Futebol Clube do Porto, aquele que sempre teve e
continua a ter o maior respeito e a gratidão de todos. O Presidente que pôs o
FCP nos palcos internacionais, que fez do clube um dos melhores da Europa, que
lhe retirou o epíteto de clube regional. Queremos (a nação portista) que o
Presidente saiba sair em apoteose e aclamado por todos, fazendo-se ecoar o seu
nome no estádio, como tantas outras vezes.
Olho
para o futebol e encontro semelhanças com a política. Quer num lado quer no
outro são necessárias pessoas com certa estrutura ética. Não se pede seres
perfeitos e irreais e que não falham, mas gente que não se deixe corromper,
gente que acredite na função de servir o país ou a instituição e que zele por
eles como se zela pela própria casa. Acredito que ainda haja gente desta, de
verdade e que causa admiração, mas escondem-se e não se querem envolver nos
meandros dos pequenos poderes. Nada há de mais detestável do que ver o abuso de
pequenos poderes nos vários organismos. ver aquele que se acha superior e que
pode agir como um déspota, apenas porque lhe é confiado determinado cargo.
Aquele que manipula e mina o ambiente à sua volta para obter benefícios
próprios, na mais pequena coisa, porque até acha que merece, afinal trabalha e
exerce uma cargo de chefia e, como tal, merece mais do que os outros. O vaidoso
que é tão pobre e tão vazio que só se pode valorizar pelo pequeníssimo poder
que exerce e, então, oprime e humilha, para se sentir superior. Não passa de
alguém detentor de uma fraquíssima autoestima que tenta, a todo o custo,
ocultar. Esta suposta meritocracia subvertida enoja-me e voto aqueles que a praticam
ao meu mais profundo desprezo. Infelizmente, estes seres povoam as instituições
políticas, públicas e sociais. Se queremos perceber o caráter de alguém, basta atentar
na atitude que manifesta com quem lhe é inferior e com quem não lhe pode ser
uma mais-valia. Esclarece muita coisa.
A pessoa digna,
competente e que tanta falta faz para o desempenho destas funções, muitas vezes,
afasta-se destes meandros. Não tem qualquer sede de poder nem ambiciona nada,
além da sua paz de espírito e espera que nunca se lembrem dela para tal ofício.
Vive noutra esfera, num mundo que lhe é próprio e do qual lhe custa cada vez
mais sair. Quem assim é precisa de se proteger para não correr o risco de ser
conspurcado, por isso, afasta-se e recolhe-se. É a explicação que encontro para
este fenómeno e não posso recriminar quem assim age.
Ocorre-me que,
talvez, as melhores pessoas para exercerem certas funções serão, precisamente,
aquelas que não as ambicionam. Quando o Papa Francisco soube que seria um dos
elegíveis e que havia uma forte possibilidade de o seu nome ser escolhido, ele
recusava, afirmando que nunca foi a sua ambição. Por isso mesmo, ter-lhe-ão
dito, por nunca teres pensado em tal e por não o desejares, és a pessoa ideal
para o lugar.
Quanto ao Futebol
Clube do Porto, só posso esperar que se saiba renovar com a tranquilidade
necessária para continuar a somar vitórias e dar alegrias aos seus adeptos.
Saudações
portistas.
Nina M.