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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 46



            Lembro-me da minha avó materna dizer que “este mundo é dos homens” e esta frase, eu ouvi-a repetida, várias vezes, pela minha tia. Não me espanta que assim pensassem dada a época das suas vivências. A minha avó Matilde nasceu nos princípios do século XX, assistindo à incipiente República instalada e a minha tia atravessou a profunda crise em que Portugal mergulhou (algo que não nos é desconhecido, mas que apesar de tudo, é vivido com menos dificuldade) e que levou à escolha do Dr. Oliveira Salazar, primeiro como ministro das finanças e depois como responsável máximo deste país, onde imperava a máxima “Deus, Pátria, família” e ai de quem o contestasse. Foram, portanto, criadas numa sociedade em que a liberdade da mulher era bastante confinada. A minha mãe teve de pedir permissão ao estado português para casar, por ser professora primária! Esta simples escolha individual, que não diz respeito a mais ninguém a não ser aos próprios interessados, carecia de autorização!
Entendeu-se, ao longo do tempo, que a mulher era talhada para os afazeres domésticos e que o marido deveria ser o sustento da casa, mesmo que fosse parco e manifestamente insuficiente para alimentar o bando de filhos que normalmente surgia, porque o conceito de planeamento familiar era muito longínquo e os casais deveriam ter os filhos com que Deus Nosso Senhor os decidisse presentear. Assim, neste contexto, este pensamento tão redutor e depreciativo do papel da mulher não era de espantar. As mulheres eram educadas para serem fadinhas do lar, por isso, precisavam de aulas de lavores e culinária! Eu não tenho absolutamente nada contra o facto de uma mulher ser prendada. Eu própria sou a Gata Borralheira que cozinha, limpa, lava e engoma e, de vez em quando, se transforma em Cinderela. Desde que não seja imposto por um regime e pela sociedade!
Entristece-me o facto de perceber que na realidade, apesar de o mundo ser de todos os seres vivos, continua a pertencer um pouco mais aos homens. Assim é de cada vez que uma mulher não recebe um salário equitativo ao semelhante masculino no desempenho das mesmas funções; assim é quando vigoram sociedades tão fechadas onde as mulheres não têm acesso ao direito primário da educação, onde são constantemente abusadas e agredidas pelos próprios maridos, onde a mulher é ainda entendida como um objeto e não um ser com vontades, motivações e sonhos próprios.
Sou mãe de um rapaz e de uma menina e quero que ambos entendam que o mundo pertence a todos os seres e que quando o Homem (independentemente do género) não respeita o seu semelhante ou a natureza não se respeita a si próprio. O homem não é superior à mulher. É seu igual e a metáfora do barro com que Deus fez o Adão e de uma das suas costelas fez a Eva explica-o muito bem. São dois seres feitos do mesmo material que se complementam e que de ambos depende a propagação da espécie.
Não sou nem machista nem feminista, mas antes uma humanista que ambiciona a verdadeira igualdade de géneros e o respei
to mútuo em que ambos os sexos se reconhecem como semelhantes. Não quero um mundo onde me digam: não podes, porque és mulher! Eu não posso uma série de coisas, porque me faltam competências para tal! Não posso ser cantora, porque canto mal; nem engenheira informática, pois percebo pouco de tecnologias e é um tema que não me motiva, nem mecânica ou eletricista ou pintora e uma quantidade gigantesca de outras coisas, mas apenas porque não reúno competências e não porque sou mulher!
Cabe-nos a nós, mulheres, lutar diariamente para que as diferenças se dissipem, porque o caminho faz-se caminhando. Educar para a igualdade deveria ser uma preocupação de todos, mas as mulheres têm a obrigação de estarem muito atentas a este pequeno detalhe que a longo prazo pode transformar o mundo. Assim, os rapazes também cozinham e arrumam a casa e as meninas também podem gostar de bolas e de engenharia!
O mundo não é dos homens, mas de todos os que nele habitam!
Nina M.





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