Lembro-me
da minha avó materna dizer que “este mundo é dos homens” e esta frase, eu
ouvi-a repetida, várias vezes, pela minha tia. Não me espanta que assim
pensassem dada a época das suas vivências. A minha avó Matilde nasceu nos
princípios do século XX, assistindo à incipiente República instalada e a minha
tia atravessou a profunda crise em que Portugal mergulhou (algo que não nos é
desconhecido, mas que apesar de tudo, é vivido com menos dificuldade) e que
levou à escolha do Dr. Oliveira Salazar, primeiro como ministro das finanças e
depois como responsável máximo deste país, onde imperava a máxima “Deus,
Pátria, família” e ai de quem o contestasse. Foram, portanto, criadas numa
sociedade em que a liberdade da mulher era bastante confinada. A minha mãe teve
de pedir permissão ao estado português para casar, por ser professora primária!
Esta simples escolha individual, que não diz respeito a mais ninguém a não ser
aos próprios interessados, carecia de autorização!
Entendeu-se, ao longo do tempo, que a
mulher era talhada para os afazeres domésticos e que o marido deveria ser o
sustento da casa, mesmo que fosse parco e manifestamente insuficiente para
alimentar o bando de filhos que normalmente surgia, porque o conceito de
planeamento familiar era muito longínquo e os casais deveriam ter os filhos com
que Deus Nosso Senhor os decidisse presentear. Assim, neste contexto, este
pensamento tão redutor e depreciativo do papel da mulher não era de espantar.
As mulheres eram educadas para serem fadinhas do lar, por isso, precisavam de
aulas de lavores e culinária! Eu não tenho absolutamente nada contra o facto de
uma mulher ser prendada. Eu própria sou a Gata Borralheira que cozinha, limpa,
lava e engoma e, de vez em quando, se transforma em Cinderela. Desde que não
seja imposto por um regime e pela sociedade!
Entristece-me o facto de perceber que na
realidade, apesar de o mundo ser de todos os seres vivos, continua a pertencer
um pouco mais aos homens. Assim é de cada vez que uma mulher não recebe um
salário equitativo ao semelhante masculino no desempenho das mesmas funções;
assim é quando vigoram sociedades tão fechadas onde as mulheres não têm acesso
ao direito primário da educação, onde são constantemente abusadas e agredidas
pelos próprios maridos, onde a mulher é ainda entendida como um objeto e não um
ser com vontades, motivações e sonhos próprios.
Sou mãe de um rapaz e de uma menina e
quero que ambos entendam que o mundo pertence a todos os seres e que quando o
Homem (independentemente do género) não respeita o seu semelhante ou a natureza
não se respeita a si próprio. O homem não é superior à mulher. É seu igual e a
metáfora do barro com que Deus fez o Adão e de uma das suas costelas fez a Eva
explica-o muito bem. São dois seres feitos do mesmo material que se
complementam e que de ambos depende a propagação da espécie.
Não sou nem machista nem feminista, mas
antes uma humanista que ambiciona a verdadeira igualdade de géneros e o respei
to mútuo em que ambos os sexos se
reconhecem como semelhantes. Não quero um mundo onde me digam: não podes,
porque és mulher! Eu não posso uma série de coisas, porque me faltam
competências para tal! Não posso ser cantora, porque canto mal; nem engenheira
informática, pois percebo pouco de tecnologias e é um tema que não me motiva,
nem mecânica ou eletricista ou pintora e uma quantidade gigantesca de outras
coisas, mas apenas porque não reúno competências e não porque sou mulher!
Cabe-nos a nós, mulheres, lutar
diariamente para que as diferenças se dissipem, porque o caminho faz-se
caminhando. Educar para a igualdade deveria ser uma preocupação de todos, mas
as mulheres têm a obrigação de estarem muito atentas a este pequeno detalhe que
a longo prazo pode transformar o mundo. Assim, os rapazes também cozinham e
arrumam a casa e as meninas também podem gostar de bolas e de engenharia!
O mundo não é dos homens, mas de todos
os que nele habitam!
Nina M.
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