Todo o indivíduo precisa de momentos em que usufrua
tranquilamente da sua individualidade, como forma de manter a sua sanidade
mental. A mãe não é exceção. A mãe, normalmente, assemelha-se a um polvo que
com os seus oito tentáculos resolve várias situações em simultâneo, enquanto
vai pensando e gerindo muitas outras. Assim sendo, uma cabeça que está em
ebulição, precisa de oxigénio para se manter operacional.
Há quem diga que esses instantes a sós são os únicos
ápices em que se sentem como indivíduo, isto é, em que encontram a sua essência,
que é o que lhes garante a sua individualidade, momentos em que são apenas o
seu nome próprio e não a mãe, a esposa, a filha, etc. Eu não entendo exatamente
assim, porque não consigo dissociar o que sou do meu papel de mãe, de esposa,
de filha, de professora, de doméstica, entre outras coisas. Na realidade, na minha
essência, cabe cada um deles e quando tenho uma dessas ocasiões prazenteiras,
não deixo de ser nenhuma dessas vertentes, já que o Homem é a soma de todas as
suas experiências. Deste modo, não procuro esses pequenos deleites para me
encontrar com o meu estro, mas apenas para usufruir da felicidade tranquila que
esses ensejos egoístas proporcionam, mantendo-me equilibrada. Uma mulher
equilibrada e de bem consigo própria é, seguramente, melhor mãe, melhor esposa
e melhor profissional.
Para muitas, essas breves oportunidades passam pelo
ginásio ou pela corrida ou pela televisão ou pelas compras, enfim… algo que
lhes ofereça bem-estar. Pois bem, para mim, esse refúgio, esse lugar seguro
passa pela escrita. Quando entro nesse modo, tudo o resto se dissipa e se torna
difuso. Se há barulho não ouço, o silêncio não o sinto. Há apenas a conexão
entre o pensamento, a palavra e a folha em branco que se quer preenchida.
Antes de casar, Torga alertou a
futura esposa: “Sabe que na primeira oportunidade te troco por um verso”. Assim
é a alma de todo o poeta, incapaz de resistir ao apelo de Calíope!
Nina M.
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