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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 21



Todo o indivíduo precisa de momentos em que usufrua tranquilamente da sua individualidade, como forma de manter a sua sanidade mental. A mãe não é exceção. A mãe, normalmente, assemelha-se a um polvo que com os seus oito tentáculos resolve várias situações em simultâneo, enquanto vai pensando e gerindo muitas outras. Assim sendo, uma cabeça que está em ebulição, precisa de oxigénio para se manter operacional.
Há quem diga que esses instantes a sós são os únicos ápices em que se sentem como indivíduo, isto é, em que encontram a sua essência, que é o que lhes garante a sua individualidade, momentos em que são apenas o seu nome próprio e não a mãe, a esposa, a filha, etc. Eu não entendo exatamente assim, porque não consigo dissociar o que sou do meu papel de mãe, de esposa, de filha, de professora, de doméstica, entre outras coisas. Na realidade, na minha essência, cabe cada um deles e quando tenho uma dessas ocasiões prazenteiras, não deixo de ser nenhuma dessas vertentes, já que o Homem é a soma de todas as suas experiências. Deste modo, não procuro esses pequenos deleites para me encontrar com o meu estro, mas apenas para usufruir da felicidade tranquila que esses ensejos egoístas proporcionam, mantendo-me equilibrada. Uma mulher equilibrada e de bem consigo própria é, seguramente, melhor mãe, melhor esposa e melhor profissional.
Para muitas, essas breves oportunidades passam pelo ginásio ou pela corrida ou pela televisão ou pelas compras, enfim… algo que lhes ofereça bem-estar. Pois bem, para mim, esse refúgio, esse lugar seguro passa pela escrita. Quando entro nesse modo, tudo o resto se dissipa e se torna difuso. Se há barulho não ouço, o silêncio não o sinto. Há apenas a conexão entre o pensamento, a palavra e a folha em branco que se quer preenchida.
            Antes de casar, Torga alertou a futura esposa: “Sabe que na primeira oportunidade te troco por um verso”. Assim é a alma de todo o poeta, incapaz de resistir ao apelo de Calíope!
Nina M.

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