Não sei
se temo mais a solidão se a morte. Sem eufemismos, sem a hipocrisia do ditote:
“não tenho medo de morrer, tenho medo de sofrer”. Reconheço a minha frágil
condição de ser humano. Admito não gostar da efemeridade da vida e assumo o
receio da morte, do sofrimento e da solidão.
Quereria
poder afastar de mim o último sopro e ser criança novamente para que o
falecimento fosse apenas uma ideia longínqua, no além. O envelhecimento não
traz apenas maturidade, antes nos lembra, a cada passo, a nossa finitude,
mostrando-nos que a nossa vida é breve orvalho matinal…
A semana
ficou mais triste com a despedida do ator João Ricardo e do Zé Pedro. O
primeiro deixou um Rodrigo, só um pouco mais velho que o meu Rodrigo. É cedo de
mais para o Rodrigo abrigar a morte do pai no coração. Um pai que se recusava
morrer, mas que se apagou. João Ricardo sai da vida como entrou: com estrondo,
não deixando ninguém indiferente e escancarando gratidão. Não acreditava que ia
morrer ainda. Era cedo. É sempre cedo…
Penso,
sem querer, nos meus que já viveram bem mais e sei como os quero por cá e
também sei que não vai ser possível tê-los pelos mesmos anos que já viveram e
essa constatação deixa o coração apertadinho, sufocado pela vida, que é sempre
tão avassaladora quanto esplendorosa.
Somos
mera matéria num universo imenso. Somos nadas megalómanos que se esquecem da
sua vulnerável realidade para conseguirem viver em paz. Só esquecendo que se
morre se pode viver. Fazemo-lo tanto! Fazemo-lo sempre! Talvez por isso não
goste da solidão e a tema. Não saberia viver só. Estou demasiado habituada a
companhia e ao ruído. A solidão só é boa quando não a temos e a queremos
agarrar por meia dúzia de horas…Só para descansar um pouco…
Chegará o dia em que descansaremos tudo
e partiremos como viemos: sós. A solidão preside ao primeiro e ao último sopro
de vida, porque o nascimento e a morte são atos solitários. Do primeiro
processo não nos lembramos e sobre o último não sabemos como será… Seja como
for, é uma tarefa individual que cada um tem de cumprir.
Nina M.
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