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segunda-feira, 2 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 59



            Não sei se temo mais a solidão se a morte. Sem eufemismos, sem a hipocrisia do ditote: “não tenho medo de morrer, tenho medo de sofrer”. Reconheço a minha frágil condição de ser humano. Admito não gostar da efemeridade da vida e assumo o receio da morte, do sofrimento e da solidão.
            Quereria poder afastar de mim o último sopro e ser criança novamente para que o falecimento fosse apenas uma ideia longínqua, no além. O envelhecimento não traz apenas maturidade, antes nos lembra, a cada passo, a nossa finitude, mostrando-nos que a nossa vida é breve orvalho matinal…
            A semana ficou mais triste com a despedida do ator João Ricardo e do Zé Pedro. O primeiro deixou um Rodrigo, só um pouco mais velho que o meu Rodrigo. É cedo de mais para o Rodrigo abrigar a morte do pai no coração. Um pai que se recusava morrer, mas que se apagou. João Ricardo sai da vida como entrou: com estrondo, não deixando ninguém indiferente e escancarando gratidão. Não acreditava que ia morrer ainda. Era cedo. É sempre cedo…
            Penso, sem querer, nos meus que já viveram bem mais e sei como os quero por cá e também sei que não vai ser possível tê-los pelos mesmos anos que já viveram e essa constatação deixa o coração apertadinho, sufocado pela vida, que é sempre tão avassaladora quanto esplendorosa.
            Somos mera matéria num universo imenso. Somos nadas megalómanos que se esquecem da sua vulnerável realidade para conseguirem viver em paz. Só esquecendo que se morre se pode viver. Fazemo-lo tanto! Fazemo-lo sempre! Talvez por isso não goste da solidão e a tema. Não saberia viver só. Estou demasiado habituada a companhia e ao ruído. A solidão só é boa quando não a temos e a queremos agarrar por meia dúzia de horas…Só para descansar um pouco…
Chegará o dia em que descansaremos tudo e partiremos como viemos: sós. A solidão preside ao primeiro e ao último sopro de vida, porque o nascimento e a morte são atos solitários. Do primeiro processo não nos lembramos e sobre o último não sabemos como será… Seja como for, é uma tarefa individual que cada um tem de cumprir.
Nina M.

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