A
adolescência é tramada. A idade dos três is, como diria alguém. Adolescente que
se preze acha-se invencível, imortal e infértil, o que vulgarmente se designa
por “ter sangue na guelra” e que poderá conduzir a situações mais adversas. No
entanto, também há os pacatos que não gostam de confusões nem de grandes
algaraviadas.
De qualquer forma, seja bom rebelde seja
betinho, enquanto se tenta conhecer a si mesmo e consolidar a sua
personalidade, o adolescente tem que ser capaz de equilibrar os seus valores e
princípios com a sua aceitação pelo seus pares, o que nem sempre é conseguido.
Assim, vive constantemente no fio da navalha, com os pés poisados sobre duas
barcas diferentes confiando, com algum ceticismo à mistura, que nenhuma delas
se afastará o suficiente e que, portanto, não tombará na água. A
invencibilidade subjetiva que o invade permite-lhe acreditar nessa
possibilidade. Nem sempre é assim.
Basicamente, nestas idades, há os
populares e os invisíveis. Eu pertencia ao segundo grupo e o secundário não me
deixa grandes saudades. O facto de manter pouquíssimos relacionamentos com
colegas dessa altura diz muito sobre essa fase estranha da vida. Guardo
melhores memórias da universidade. Lembranças boas para ser honesta e muitos
amigos, que apesar da distância e do tempo, continuam aninhados em mim e que,
por vezes, me assaltam o espírito. Continuam, nas minhas viagens, os mesmos
gaiatos de sempre, porque foi assim que os conheci e deixei. Recordações más
também existem, mas estas serviram para o meu desenvolvimento emocional. É na
dor que cada um se vai construindo e não nas fases de alegria. É após a dor que
nos olhamos e aprendemos a gostar de nós mesmos. A partir de certo dia, decidi
que iria apreciar-me, independentemente das pequenas imperfeições, que todos
temos. A autoconfiança também se constrói e os outros olham-nos através do
reflexo que emanamos. Todo o jovem guarda ciosamente a crisálida que anseia por
se libertar. A dificuldade reside em conseguir encontrar a fórmula, que varia
de ser para ser e depende do percurso de cada um. Porém, uma vez encontrado o
caminho, não há ponto de retorno e outra etapa se inicia…
Há patinhos feios que se tornam
verdadeiros cisnes e esquecem a menina dos soquetes brancos que lhes tinha
ocupado o lugar no coração do seu apaixonado…
Nina M.
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