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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 37



Carregamos connosco todos os outros que se cruzaram em nossas vidas. Uns de forma mais evidente do que outros. Reconheço que sempre fui e sou afortunada, sem nada ter feito para tal merecimento. Tenho uns pais fantásticos que sempre fizeram tudo pelos filhos. Fazer tudo está longe de satisfazer todos os caprichos dos meninos, como acontece hoje em demasia e que só os estraga.
Felizmente, nunca nos faltou nada: comida, assistência médica de qualidade, praia no verão e alguns brinquedos, mas nunca houve lugar para o desperdício e rapidamente tivemos que compreender que havia coisas que tinham de ser partilhadas pelos três irmãos, que não havia lugar para as sapatilhas ou calças de marca cara e que não podíamos ter tudo o que nos apetecesse e isso incluía não pedir nada no supermercado ou no café. Isso fez com que cada um de nós soubesse dar valor ao dinheiro e soubesse evitar desperdícios.
Cresci numa família onde foram transmitidos valores intemporais como a honestidade, justiça e generosidade, onde sempre se valorizou a consciência tranquila e o cumprimento do dever.
Logicamente, a influência da família é a mais importante, a que perdura e a minha família é extraordinária! Depois, vêm os colegas e amigos que vamos colecionando ao longo da vida e que desempenham também um papel fundamental no nosso crescimento. Talvez alguém coloque as pessoas de que precisamos no nosso caminho, em determinados momentos das nossas vidas. Seja como for, senti-me sempre rodeada de gente boa. Ainda que o tempo torne algumas amizades longínquas, estas permanecem vivas na minha memória e aconchegadinhas no meu coração. Há pessoas que não vejo há anos, mas por quem nutro profundo carinho e a quem desejo as maiores felicidades. A minha profissão é propícia ao conhecimento contínuo de novas pessoas e essa é uma das características que me agrada, porque me sinto uma colecionadora de almas, na sua maioria agradáveis. Claro que também já tive alguns dissabores, mas esses não irrompem por mim dentro, enquanto desempenho outras tarefas. Perdi-me deles e quase não fazem parte das minhas memórias, mas todos aqueles que me marcaram por terem feito parte da minha vida e, de algum modo, a terem tornado extraordinária, caminham comigo e invadem amiúde os meus pensamentos. Talvez alguns se possam reconhecer nestas palavras, talvez se admirassem, se soubessem, que me lembro do que me disseram em determinado momento e que provavelmente esse detalhe fez com que os carregasse comigo para sempre.
Um dia, quando for velhinha, quero ter a alma cheia de outras almas boas e então saberei que fui santuário de muitos, porque os guardei religiosamente, com profundo respeito, em mim.
Sou uma mulher de sorte e sinto-me agradecida.
Nina M.



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