Surpreendida
pela teoria de alguns de que aqueles que não têm filhos são mais felizes do que
os que os têm, dei por mim a interrogar-me sobre dois aspetos: primeiro, o
sentimento de felicidade pode ser mensurável? Em português, a palavra felicidade
é um nome comum não contável por não se poder enumerar ou medir; por outro
lado, o conceito de felicidade é idêntico para todos?! O que faz o meu vizinho feliz
pode não me fazer a mim!
Chegada aqui,
obrigo-me a fazer uma declaração de interesses: sou mãe de duas crianças e,
como tal, leio com os olhos da minha vida, penso com o saber que as minhas
experiências permitem acumular! A maternidade não me tornou uma pessoa menos
feliz! Pelo contrário! De onde surgiu tal ideia?!
Imagino que quem
assim pensa avaliou as abnegações a que a maternidade obriga e são muitas!
Acabam-se as saídas noturnas, os jantares tranquilos a dois, as idas ao cinema,
a possibilidade de viajar tanto quanto se gostaria… E acumulam-se cansaços,
preocupações e trabalho doméstico. Verdade! Sem tirar nem pôr! No entanto, por
incrível que pareça, estas contrariedades não nos fazem infelizes! Os nossos
filhos, que nos desgastam diariamente, são também a nossa força motriz e o
nosso combustível e, por isso, muitas vezes, quando no pico de cansaço nos sai
que precisamos de um dia sem filhos, momentos depois, nos arrependemos, porque
quando esse dia chega, a nossa mente e coração continuam a ser ocupados por
eles. Ser mãe e ser pai é isto. É sentir-se exaurido, mas rapidamente
recuperado. É saber adiar os planos pessoais em prol das crias. E isto não é
sacrifício nem infelicidade. É amor incondicional!
Claro que também
tenho vontades que espero poder realizar um dia! Não desisti delas, apenas
aguardo pelo momento certo. E se conseguir, perfeito! Se não, paciência! Tudo
em nome de um bem maior. E esta dádiva completa e total de uma mãe a um filho,
este amor incondicional é ser feliz! Nenhuma viagem, por maravilhosa que seja,
pode substituir o abraço e o beijo apertado de um filho que antes de dormir nos
sussurra: “Adoro-te! És a melhor mãe do mundo!” Estas palavras e gestos e
outras que tais recompensam largamente todas as outras perdas! Só quem é mãe ou
pai percebe genuinamente isto!
Recentemente,
Valter Hugo Mãe afirmou trocar os seus últimos sete romances por um filho. Como
eu o compreendo! Não há projeto maior do que um filho! E quem não souber isto,
não sabe o que é o amor verdadeiro e sem este, a felicidade parece-me um
conceito muito distante!
As nossas
melhores realizações são as que nos parecem vulgares!
Nina M.
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