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domingo, 1 de abril de 2018

Crónica de Maus Costumes 3



Surpreendida pela teoria de alguns de que aqueles que não têm filhos são mais felizes do que os que os têm, dei por mim a interrogar-me sobre dois aspetos: primeiro, o sentimento de felicidade pode ser mensurável? Em português, a palavra felicidade é um nome comum não contável por não se poder enumerar ou medir; por outro lado, o conceito de felicidade é idêntico para todos?! O que faz o meu vizinho feliz pode não me fazer a mim!
Chegada aqui, obrigo-me a fazer uma declaração de interesses: sou mãe de duas crianças e, como tal, leio com os olhos da minha vida, penso com o saber que as minhas experiências permitem acumular! A maternidade não me tornou uma pessoa menos feliz! Pelo contrário! De onde surgiu tal ideia?!
Imagino que quem assim pensa avaliou as abnegações a que a maternidade obriga e são muitas! Acabam-se as saídas noturnas, os jantares tranquilos a dois, as idas ao cinema, a possibilidade de viajar tanto quanto se gostaria… E acumulam-se cansaços, preocupações e trabalho doméstico. Verdade! Sem tirar nem pôr! No entanto, por incrível que pareça, estas contrariedades não nos fazem infelizes! Os nossos filhos, que nos desgastam diariamente, são também a nossa força motriz e o nosso combustível e, por isso, muitas vezes, quando no pico de cansaço nos sai que precisamos de um dia sem filhos, momentos depois, nos arrependemos, porque quando esse dia chega, a nossa mente e coração continuam a ser ocupados por eles. Ser mãe e ser pai é isto. É sentir-se exaurido, mas rapidamente recuperado. É saber adiar os planos pessoais em prol das crias. E isto não é sacrifício nem infelicidade. É amor incondicional!
Claro que também tenho vontades que espero poder realizar um dia! Não desisti delas, apenas aguardo pelo momento certo. E se conseguir, perfeito! Se não, paciência! Tudo em nome de um bem maior. E esta dádiva completa e total de uma mãe a um filho, este amor incondicional é ser feliz! Nenhuma viagem, por maravilhosa que seja, pode substituir o abraço e o beijo apertado de um filho que antes de dormir nos sussurra: “Adoro-te! És a melhor mãe do mundo!” Estas palavras e gestos e outras que tais recompensam largamente todas as outras perdas! Só quem é mãe ou pai percebe genuinamente isto!
Recentemente, Valter Hugo Mãe afirmou trocar os seus últimos sete romances por um filho. Como eu o compreendo! Não há projeto maior do que um filho! E quem não souber isto, não sabe o que é o amor verdadeiro e sem este, a felicidade parece-me um conceito muito distante!
As nossas melhores realizações são as que nos parecem vulgares!
Nina M.

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