Morreu João Lobo Antunes. O irmão que António Lobo
Antunes defendeu com unhas e dentes, quando o pai de ambos o chamara de fraco.
Se havia defeitos a apontar ao grande neurocirurgião e, por certo, haveria, dada a sua condição humana, o adjetivo fraco não seria um deles. Multiplicaram-se, ao longo da semana de luto, os textos emocionados e emocionantes dos que com ele privaram ou por ele foram tratados. Singelas e merecidas homenagens a quem tanto dedicou ao país. A semana encheu-se de imagens de arquivo que mostravam as condecorações que lhe tinham sido atribuídas. Um reconhecimento justo, felizmente, ainda em vida, porque, normalmente, depois de mortos, somos todos bons.
No que me toca, marcaram-me duas mensagens: a da filha Paula, conhecida atriz dos ecrãs televisivos e a do próprio João, numa das suas entrevistas, relembrada pelas redes sociais. A filha dizia com dor: “morreu o amor da minha vida”. Sabendo que Paula é mãe e que o amor maior das mães são sempre os seus filhos, as palavras por si pronunciadas dão que pensar. Logicamente, Paula não amará menos a filha, simplesmente, amava profundamente o pai. Quase lhe adivinho uma admiração inocente e cega, que normalmente vamos perdendo à medida que vamos crescendo. João terá sido grande, porque aos olhos da filha, a sua reputação não esmoreceu, pelo contrário. Imagino-o um pai e um avô terno, apesar da seriedade que se imputa a um grande médico. Talvez esta impressão remanesça da sua opinião relativamente à medicina do futuro. Dizia que o preocupava a perda de humanidade. A evolução tecnológica e científica tem permitido encontrar novas soluções, mas João Lobo Antunes temia que se perdesse o lado humano, a capacidade para mitigar sofrimentos alheios, especialmente quando os doentes veem a sua vida ameaçada. Normalmente, juntamente com a doença vem a coragem, que permite uma luta estoica, muitas vezes injusta e inglória. Esta gente, mais do que qualquer outro ser humano, precisa de humanização, que pode chegar através de gestos tão simples quanto uma simples explicação! Não pode haver silêncio, nem a expectativa frustrada, que conduz ao fim da linha, o momento que todos receamos, em que nos passamos a sentir somente um número, um pedaço de carne apodrecida que engrossa a fileira das estatísticas.
Gostaria que todos lhe bebessem essas palavras, especialmente os profissionais de saúde, para que a realidade não seja nem tão intensa nem tão pesada, de modo a não lhes toldar o olhar, para que vejam pessoas e não meros doentes!
Nina M.
Se havia defeitos a apontar ao grande neurocirurgião e, por certo, haveria, dada a sua condição humana, o adjetivo fraco não seria um deles. Multiplicaram-se, ao longo da semana de luto, os textos emocionados e emocionantes dos que com ele privaram ou por ele foram tratados. Singelas e merecidas homenagens a quem tanto dedicou ao país. A semana encheu-se de imagens de arquivo que mostravam as condecorações que lhe tinham sido atribuídas. Um reconhecimento justo, felizmente, ainda em vida, porque, normalmente, depois de mortos, somos todos bons.
No que me toca, marcaram-me duas mensagens: a da filha Paula, conhecida atriz dos ecrãs televisivos e a do próprio João, numa das suas entrevistas, relembrada pelas redes sociais. A filha dizia com dor: “morreu o amor da minha vida”. Sabendo que Paula é mãe e que o amor maior das mães são sempre os seus filhos, as palavras por si pronunciadas dão que pensar. Logicamente, Paula não amará menos a filha, simplesmente, amava profundamente o pai. Quase lhe adivinho uma admiração inocente e cega, que normalmente vamos perdendo à medida que vamos crescendo. João terá sido grande, porque aos olhos da filha, a sua reputação não esmoreceu, pelo contrário. Imagino-o um pai e um avô terno, apesar da seriedade que se imputa a um grande médico. Talvez esta impressão remanesça da sua opinião relativamente à medicina do futuro. Dizia que o preocupava a perda de humanidade. A evolução tecnológica e científica tem permitido encontrar novas soluções, mas João Lobo Antunes temia que se perdesse o lado humano, a capacidade para mitigar sofrimentos alheios, especialmente quando os doentes veem a sua vida ameaçada. Normalmente, juntamente com a doença vem a coragem, que permite uma luta estoica, muitas vezes injusta e inglória. Esta gente, mais do que qualquer outro ser humano, precisa de humanização, que pode chegar através de gestos tão simples quanto uma simples explicação! Não pode haver silêncio, nem a expectativa frustrada, que conduz ao fim da linha, o momento que todos receamos, em que nos passamos a sentir somente um número, um pedaço de carne apodrecida que engrossa a fileira das estatísticas.
Gostaria que todos lhe bebessem essas palavras, especialmente os profissionais de saúde, para que a realidade não seja nem tão intensa nem tão pesada, de modo a não lhes toldar o olhar, para que vejam pessoas e não meros doentes!
Nina M.
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