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segunda-feira, 30 de julho de 2018
Praia da minha infância
Em teu suave ondular
Fecho os olhos e vejo
Uma criança distante a brincar
Salta e rebola nas dunas
De toalha a servir de capa
De olhos postos no mar
Que à luz do Sol
É de prata
Super-herói atrevido
Que desconhece o perigo
Se vê gaivota a poisar
Com as asas lhe quer ficar
Sonha elevar-se aos céus
Com as asas que esta lhe deu
Pobre Ícaro inocente
Não sabe do sol quente
Senhor majestoso e ardente
Descobre assim infeliz
Não ser pássaro nem semi-deus
Apenas simples aprendiz
De sonhos que não são seus!
sexta-feira, 27 de julho de 2018
Crónica de Maus Costumes 92
Escrevo no rescaldo de ontem, que para mim foi um dia triste.
Compreendo que tenhamos opiniões
diferentes e que temos de saber conviver com elas, em nome da tolerância e do civismo.
No entanto, também tenho o direito de manifestar a minha em toda a sua
plenitude. E hoje, só assim consigo limpar a alma. Sinto que os professores
tiveram a oportunidade de apresentar um desfecho histórico, exemplar e honrado,
se todos ou quase todos tivessem feito greve e ficavam mais do que
salvaguardados, mas optaram por não o fazer. Claudicaram a um passo da meta. E
não me rebatam este argumento, alegando que está visto que o Governo não está
disposto a dar grande coisa, porque para mim, que andei a contrato durante
vinte anos, sem saber o que são progressões (que até já prometeram e até agora
ainda não chegaram) o dinheiro é a última das minhas preocupações! Sempre soube
viver com o pouco que ganho e assim continuará a ser.
Para mim, a luta sempre foi por um
ideal maior e aqueles que me vão conhecendo um pouco melhor, já sabem que gosto
de ideais. Defendi a dignidade de uma classe e uma questão que é da mais
elementar justiça e, quanto mais me tentam acossar através da imposição do
medo, mais sinto vontade de reagir.
Não somos todos iguais. É um facto.
E ouço constantemente: “Pensas que vais mudar o mundo”… Não. O mundo não se
muda, mas posso mudar pessoas e as pessoas, globalmente, mudam o mundo. Ainda não
desisti. Se estiverem atentos, já há movimentações nas redes sociais para se
criar um fundo e processar o ME. Estou dentro, obviamente! Nem poderia ser de
outra forma, por imperativo de consciência, no que ao uso de ética me diz
respeito.
Deixem só que partilhe algumas
reflexões convosco. É desta forma, no respeito absoluto por leis execráveis,
que surgem devagarinho, quase sem se dar conta os regimes totalitários.
Após o Holocausto, os julgados em
Nuremberga, também alegaram que se limitaram a cumprir a lei. Fenómeno que
Hannah Arendt explicou com a banalização do mal. E a lei era uma atrocidade
contra os judeus e outras minorias étnicas, reconhecida por todos atualmente.
Por
mais que o paralelismo vos pareça exagerado, acreditem que é destas pequenas
coisas, que aos olhos podem parecer menos graves, que se vai construindo uma
ditadura. O que nos fizeram foi um atentado ao Estado de Direito, colocando-se
um regime democrático em suspensão pelo tempo que deu jeito ao Governo! Eu
recuso-me a aceitar isto passivamente. Fomos obrigados a aceitar? Desculpem,
mas não fomos. A partir do momento que no email com vista à coação está escrito
claramente que quem estiver de greve se encontra ao abrigo da lei, o caminho,
para mim, continua a ser o mais óbvio… Medo? De quê?! De um processo
disciplinar coletivo, que teria de ser analisado por um Tribunal Administrativo?
Creio que foi o medo que paralisou os professores e lastimo. Se uma classe
instruída, que deveria ser a garantia da intelectualidade, que tem por obrigação
de saber defender-se da melhor forma, através dos meios lícitos ao dispor sente
medo, então o vinte e cinco de abril nunca aconteceu!
E essa
é outra das minhas dores. Os professores não dignificaram a memória dos que construíram
e lutaram por abril. Se algum dia tiverem oportunidade, visitem o atual Museu
Militar no Porto, antiga sede da PIDE, e ouçam a História que aquelas paredes têm
para contar… Houve gente que entrou, mas ninguém viu sair. Gente que deu a vida
por abril, para que nunca mais houvesse medo! O que eu vejo é uma classe que
deveria saber disto e vive cheia de medo! E enquanto assim for, o respeito não
chegará, apenas porque não nos sabemos fazer respeitar. Coloquemos os olhos nos
trabalhadores da Autoeuropa ou na greve dos estivadores, de cada vez que
acontece… Gente menos instruída e mais consciente dos seus direitos e dispostos
a por eles pugnarem. Merecem a minha admiração.
Sinto
ter feito tudo o que podia e o que a consciência me ditava e, por isso, não
vivo o sabor acre da desistência. Carrego sim, desilusão, que também faz parte
da aprendizagem da vida.
Aos
que permaneceram firmes e souberam resistir até ao fim, o meu especial apreço.
A mudança só pode vir por aí.
Agora,
ide de férias e recuperai as energias consumidas…
Nina
M.
Se no pudor de um olhar que se afasta
Há um beijo que fica por cumprir
Abre-se num sorriso que se basta
Uma vontade de te descobrir
E de mãos dadas quase sem querer
Preso o coração ao raro momento
Feliz que se sente só por te ver
Não sabe que saudade é desalento
Embalados assim neste sentir
Vivem ambos uma doce emoção
Acolhem a saudade que há de vir
Respiram o sopro do coração
E guardam o amor sempre a sorrir
Sedentos preservam esta ilusão
domingo, 22 de julho de 2018
Ficas como um verso
Que me acorda na aurora
Sol quente de verão
que me beija a pele
soas a ocaso ainda distante
Que já traz saudade
A cada instante
Sabes a sal e a mar
Tua voz, suave marulhar
De ondas e espuma, deleita
Desmaia lentamente na areia
Num abraço que se quer perfeito
És Maresia matinal
Despertadora de sentidos
E nessa pureza virginal
Trago-te comigo
sábado, 21 de julho de 2018
Crónica de Maus Costumes 91
Hoje sinto-me destilar fel e veneno. Muito raramente me sinto assim, mas sinto tudo na devida proporção das coisas, o bom e o mau. Hoje, há pouco de bom a reter. Revolvem-se-me as entranhas quando penso na meia dúzia de senhorinhos que julgam poder subverter um estado de direito conforme as suas vontades, muito por força da intimidação!
São
os mesmos que cantam emocionadíssimos, a cada novo abril, o Grândola Vila Morena! Como se
percebessem o real significado das palavras que entoam e dos enormíssimos
sacrifícios de alguns para que chegássemos até aqui!
O
problema deve ser da falta de conhecimento histórico. Afinal, atualmente,
coitaditos dos miúdos, o passado não interessa, a História como disciplina também
não. De maneira que quem não cultiva por si o gosto pelo saber, fica pela
superfície das coisas, sem poder avaliar o símbolo e a riqueza por detrás de
determinadas ações e palavras. O atuais representantes do Ministério da Educação
não devem perceber muito de História! A nossa Assembleia também não! Caso contrário
saberiam que os comunicados, notas informativas e afins não passam de atentados
à democracia, que tanto custou a instituir! Neste momento, Salgueiro Maia já
rodopiou três vezes no seu ataúde. Tenham vergonha! Apetece dizer. Usar de
ilegalidades para não cumprir com o compromisso por essa gente firmado é
absolutamente asqueroso!
O
silêncio por parte da Presidência da República também não se entende! Ontem,
mais uma vez, foram ultrapassados os limites e parece que ninguém reflete sobre
a gravidade destes atropelos!
Temos
uma Comunicação Social ineficaz, parcial e inculta, incapaz de fazer uma
apresentação séria do problema! Junta-se ao enxovalho que vem dirigido do
Governo para maltratar sem conhecimento de causa. A desonestidade intelectual
ou a falta de intelecto sempre me impressionaram em demasia, pela negativa! Sejamos
sérios!
As
barbaridades ouvidas, por falta de conhecimento e do devido tratamento de dados
e da sua análise, são de tal forma grotescas que nem sei bem se me ria ou se
chore, desbragadamente, em ambos casos, até limpar a alma!
É
esta cambada que depois pretende exigir aos seus concidadãos consciência cívica
e honestidade!
Já
tentei compreender o motivo de tanta aleivosia perante uma classe genericamente
pacata (até de mais, chegando à apatia), que é mal paga e que, ao contrário do
que parece, trabalha muito em relação ao pouco que aufere!
Alguma
razão teria Camões para terminar os seus “Lusíadas”
com a palavra “enveja”, em bom português do século XVI!
E
nesta desdita, com papas e bolos se
enganam os tolos, o Ministério da Educação vai empurrando o problema com a
barriga, mantendo a opinião pública satisfeita, também pouco amiga dos
professores e das suas reivindicações!
Bolas,
ainda bem que isto é um Governo de esquerda, fiel ao princípio da existência de
uma boa educação e de uma escola pública de qualidade! Imaginem lá se fosse a
direita no poder!... Neste momento, parece-me que pior não haveria de ser… Ou
talvez fosse mais do mesmo, porém, com uma ligeira diferença, se calhar não
teria havido tanta mentira, perdão, quero dizer, retórica, pelo meio (cala-te
Aristóteles)!
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