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sábado, 19 de setembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 198

 

Mulher

            Morreu Ruth Bader Ginsburg (RBG). Antes do seu falecimento, a juíza ainda teve tempo para manifestar a sua opinião relativamente à sua substituição no Supremo Tribunal norte-americano: só deverá ocorrer após as eleições, lembrando que o anterior Presidente Obama, noves meses antes das eleições, não substituiu um dos juízes. A menos de dois meses das presidenciais, veremos se Trump terá a mesma hombridade. Dignidade e caráter devem revelar-se sempre e não só quando dá jeito. Veremos se o ainda presidente resiste à tentação de nomear um juiz republicano para um cargo que é vitalício, por interesse partidário.

RBG foi escolhida pelo ex-presidente Clinton, mostrou-se uma indefectível defensora de causas nobres como a igualdade de género, os direitos das pessoas com deficiência, os direitos dos imigrantes, entre outras, sempre com inteireza e coragem. Os Estados Unidos da América ficaram empobrecidos, hoje. Todas as mulheres do mundo perderam um bocadinho de si também. A sua chegada a um cargo de enorme relevância num dos países mais influentes do mundo é um sinal positivo e um exemplo. A mulher pode e deve ter um papel igual aos dos homens, se essa for a sua vontade e se a sua competência e as suas qualidades assim o justificarem. Em pleno século XXI estamos longe de alcançar a igualdade de género. Continua a ser imprescindível lutar pela causa e desmistificar preconceitos, tantas vezes perpetuados pelas próprias mulheres, vítimas de fatores culturais e educacionais.

Desde sempre é assim, mas no mundo de progresso de hoje, onde prolifera o conhecimento, a ciência e a tecnologia, é vergonhoso. A luta não está ganha e não é uma luta de mulheres, mas de todos! Não podemos permitir que os homens que parimos, que albergamos nas entranhas e de quem cuidamos, nos olhem com superioridade. Sem a mulher, a sua existência não seria viável e o nosso papel é bem mais preponderante do que o de simples parideiras! Respeito, exige-se!

A condenação da fêmea começou cedo: Pandora, a devassa que libertou os males no mundo; Lilith, a primeira Eva que não se subjugava a adão e que foi expulsa do paraíso, a mãe de mil demónios; depois Eva, a que foi feita da mesma carne do companheiro, que se mostrou dócil, mas que instigou Adão à desobediência, convencendo-o a comer a maçã. Como se Adão não fosse capaz de decidir por si! Em última instância, atribui-se a Eva a responsabilidade do pecado original: a cobiça e a desobediência à vontade divina. Depois, houve Lot ou Ló, se preferirmos, e as suas duas filhas que o embriagaram e se deitaram com o próprio pai em nome da perpetuação da sua geração, de onde nasceria, mais tarde, o Messias. Na narração, minimiza-se o papel de Lot, que embriagado, não sabia o que fazia… Como disse Júlio Machado Vaz, no seu primeiro programa televisivo sobre sexualidade, se Lot não soubesse o que fazia, também não teria sido capaz de uma ereção. Tal ousadia, num país ainda tacanho e cheio de tabus, fez com o seu programa fosse relegado para a uma da manhã. Tal pena! Muito teria servido para a educação sexual dos portugueses. Quem sabe se parte deles e sobretudo delas não teriam tido uma vida íntima mais satisfatória e agradável.

Há muito por fazer ainda por esse mundo fora. A mulher tem de ser entendida como um ser com os mesmos direitos e os mesmos deveres de um homem! Não precisa da autorização de ninguém para viajar ou para conduzir, para estudar, para trabalhar ou seja para o que for e tem o mesmo direito ao prazer que o homem, logo a mutilação genital feminina e outras práticas hediondas são uma violência e uma crueldade que apenas manifestam a ignorância de quem as defende e de quem as pratica. Haja legislação que regulamente estes desmandos e haja educação para que se entenda, para que a própria mulher compreenda que ela também é gente!

 

Nina M.

               

               

 

 

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