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sábado, 5 de setembro de 2020

Crónica de Maus Costumes 196

 

Regresso

Chegou setembro e para mim, tal como para muitos professores, sentimos este mês como o início do ano. É muito mais o início de uma nova etapa cada primeiro de setembro do que o primeiro de janeiro. Por isso, sempre que me remeto ao ano anterior, penso em função de ano letivo.

Desejo a toda a comunidade educativa um bom recomeço, mas com a consciência de que nada será como antes. Muito se fala nos perigos a que todos estaremos expostos e é visível o agastamento entre os profissionais da classe (com razões para isso) perante o comportamento dos que determinam os desígnios da nação. Eu também preferiria que houvesse as condições necessárias para ficarmos apenas com doze ou quinze alunos por sala, procedendo-se à contratação de mais professores e mais auxiliares da ação educativa, mas todos sabemos que isso não irá acontecer e muitas escolas não teriam tão pouco a capacidade física para poder funcionar dessa forma. Seria muito bom que os sucessivos governos privilegiassem a educação no seu programa político, mas, na verdade, não o fazem e quando mexem nesse dossiê, eu já tremo por antecipação, por saber que vai implicar mais trabalho para o professor com os mesmos ou menos recursos e pouco reconhecimento por parte da sociedade civil. É o que temos.

Até há pouco, no funcionalismo público, de entre os profissionais de saúde, os médicos ainda iam sendo tratados com algum respeito, mas parece que até isso se perdeu. As palavras amargas, algo iradas e profundamente injustas lançadas pelo senhor primeiro-ministro deveriam deixá-lo envergonhado, mas isso é emoção que há muito o político deixou de sentir. De modo que se nem os profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, variados técnicos, auxiliares e afins) têm as condições de segurança e de higiene que deveriam, por estarem na linha da frente, o que fará os restantes! Neste momento, nem os profissionais de saúde são testados com facilidade! Imaginem que há um doente internado num qualquer hospital há três semanas e que por motivos de uma cirurgia testou positivo. Os pacientes que com ele partilhavam quarto são testados, mas os profissionais de saúde apenas são avaliados tendo em conta os minutos que passaram com o doente e as circunstâncias em que se encontravam, por exemplo, se usavam ambos máscara. Se o risco for considerado alto, vai para quarentena sem teste, se for de baixo risco continua a trabalhar normalmente. Pessoas que lidam com doentes todos os dias não são testadas, mesmo correndo o risco de estarem contaminados e serem fonte de propagação da doença! Perante estes factos, o que pensar?

O país não tem dinheiro para mandar cantar um cego! A suposta recuperação económica desde a última intervenção do FMI não foi tão notória quanto quiseram fazer crer e ao mínimo estremeção, a economia volta a abanar. Sabemos que os desvios ilícitos e as negociatas ruinosas deitam o país a perder, mas não há quem imponha ordem na casa e a Assembleia tornou-se um local onde pouco se liga à população, mas onde se zela pelos próprios interesses e onde as oligarquias partidárias perpetuam os seus poderes. A arte nobre que era a política, na sua génese, transformou-se num lodaçal e quanto mais observo mais me enojo e acabo a pensar que mesmo os que para lá foram com honestas intenções ou se acabam por perder durante o caminho e fazem como todos os outros ou se afastam em defesa da sua autenticidade e do seu caráter (poucos) ou são afastados pela maioria, que não gosta que lhes coloque entraves nas suas ambições. O mais curioso é que se este texto fosse lido por qualquer político, seria apodado de discurso populista e fico a pensar que talvez seja mesmo, uma vez que a honestidade parece uma qualidade importante e que se exige apenas ao povo, já que na classe política existem os desmandos que sabemos…

Mediante este estado de alienação, não esperemos grande coisa por parte de quem nos governa. Com o país à míngua, é imperioso que a economia, já de si frágil, continue a mexer, pois não há fundo de maneio para tanto apoio! Os pais têm mesmo que continuar a trabalhar, se quiserem pôr o pão na mesa! Os filhos têm de ficar em algum lado e, por esse motivo de força maior, as escolas têm mesmo de funcionar em pleno. A segunda razão, que deveria ser a primeira pela ordem de importância, é que o ensino presencial é essencial. Só em presença há verdadeira aprendizagem, principalmente nos grupos etários mais baixos, e é esta ideia que os pais mais preocupados e que acompanham as atividades escolares dos seus educandos me têm feito chegar. Estão cobertos de razão. Neste cenário, nem tudo é absolutamente Dantesco. Para nos tranquilizarmos um pouco, ao que parece, estudos recentes indicam que a contaminação por contacto com superfícies é muitíssimo baixa. Assim sendo, o que é verdadeiramente importante fazer? Usar as máscaras (ao contrário do que a DGS dizia anteriormente). Todos! A máscara que eu uso protegerá o outro e a do outro protege-me a mim. Desinfetar as mãos antes de a remover e lavá-las com regularidade. É absolutamente necessário que toda a gente proceda deste modo. Não é sensato haver aglomerados em cafés sem máscaras! Muita gente tem ironizado com o faco de as pessoas revelarem medo, mas não se terem coibido de ir para a praia. Convém lembrar que se trata de um espaço aberto e que era perfeitamente possível manter o distanciamento físico de segurança e procurar lugares menos frequentados. Eu assim fiz. Aliás, por idiossincrasia minha, detesto multidões, pelo que não me obriga a qualquer medida extraordinária (abro exceção para os festejos das grandes vitórias do FCP, antes da COVID-19).

O vírus continua por cá, não se irá embora tão cedo e nós não podemos ficar com as nossas vidas em suspenso indefinidamente. Resta adaptarmo-nos a uma nova realidade e viver bem com ela.

Um bom ano letivo para todos repleto de saúde.

 

Nina M.

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