“Gretinices…”
Já não me deveria surpreender com
determinadas atuações de gente da política e, na verdade, não é surpresa,
apenas constatação do óbvio e do que já há muito sei, mas que digiro com
dificuldade e sempre me causa mal-estar e desejo extremo de me manter afastada
desse tipo de meio. Faço-o, obviamente, mas já dizia Sophia, “vemos, ouvimos e
lemos/Não podemos ignorar”…
Ora esta semana o destilar de muito
fel nas redes sociais (outro comportamento que me causa náuseas e uma certa
angústia) foi endereçado a uma jovem de apenas dezasseis anos que por
idiossincrasias do seu caráter obstinado decidiu lutar e endereçar todas as
suas energias na difícil e tenebrosa missão de salvar o planeta e, para isso, tem
forçosamente de conseguir despertar consciências amorfas, apáticas e
adormecidas. Vi e li de tudo. Um texto onde se comparava a atitude felina e até
de ódio de Greta à bonomia e simpatia de Malala! Uma cresceu sem que nada lhe
faltasse, num sistema capitalista e explorador e mesmo assim é uma
mal-agradecida que não sabe dar o devido valor ao que tem enquanto a segunda e,
com toda a justiça, apenas uma vítima de uma sociedade fechada e medieval, onde
se considera que às mulheres estão vedados uma série de direitos, incluindo o
da educação. A jovem quase morreu, mas ei-la simpática, piedosa para com o
inimigo e querendo mudar mentalidades com a sua perseverança e amor. Assim,
Malala é o símbolo da tolerância e da esperança na humanidade, com a respetiva
foto a condizer: expressão suave e olhar cândido. Já a outra é a arrogantezinha,
a menina da mamã que não tem mais o que fazer e que está a ser manipulada por
certos grupos de pressão ligados à indústria das energias renováveis. Aliás,
foi um meio encontrado pelos pais para passarem a viver bem melhor e com mais
mordomias capitalistas, porque a mãe já escreveu um livro que vendeu
tremendamente. Segundo consta, o lucro das vendas nem seria para a família, mas
para algumas instituições, mas isso também não interessa para nada, porque
destruiria a imagem da petulante defensora do meio-ambiente. Ainda vi outra
fotografia em que aparecia a Greta a tomar um belo pequeno-almoço europeu,
confortavelmente sentada, enquanto viajava, produto do capitalismo e ao lado
outra imagem em que uma série de jovens pobres, oriundos de regimes
totalitários de esquerda esgravatam o lixo para encontrarem o que comer.
Sendo que não sou nem de direita nem
de esquerda, por já não saber o que isso significa na verdade, fico pasma com a
mensagem que nem é subliminar! Em primeiro lugar, compara-se a Greta a Malala
porquê? Acaso a menina só pode ter opinião se tiver sido uma desgraçada,
abusada e espezinhada pela sociedade para se poder fazer ouvir? Quer dizer que
não pode mostrar a sua frustração quando se apercebe de que os líderes mundiais
se preocupam mais com o lucro do que com o estado de conservação da nossa casa
e, portanto, deveria aparecer com ar tranquilo e não de cenho franzido e lábios
crispados? E o que pensar da foto em que se opõe o fausto repasto à fome? Olha,
Greta, toma lá o pequeno-almoço que o capitalismo te oferece e não sejas nem
lamechas e muito menos inconveniente. Com a sorte que tiveste em nascer do lado
certo do mundo, deverias era estar caladinha, porque perdeste toda a
legitimidade para falar. Se te queres opor verdadeiramente vai fazer um estágio
à Venezuela, primeiro! Falas de barriga cheia contra o sistema que te alimentou
durante anos. Se estivesses na posição dos que catam o lixo não terias tanta
força na língua!
Parece-me este (ainda
que exagerado) o brilhante raciocínio dos que se lembraram de postar tal imagem
e de a comentar! Só lamento que não se lembrem também que o mesmo capitalismo
que nos alimenta (felizmente também nasci do lado certo do mundo!) quando feroz
e selvagem deixa outros à míngua sem compadecimentos. Se num lado se passa
fome, noutro deita-se comida fora! Só lamento que não vejam que se há grupos de
pressão das renováveis a colarem-se à Greta, também haverá os do petróleo a não
querem perder um monopólio e a defender que o buraco do ozono e as alterações
climáticas são uma invenção!
Caramba! Não haverá o bom senso de
não achincalhar uma miúda que acreditará seriamente no ideal que defende? Será
que aos dezasseis anos já tem a maturidade esperada para saber se está ou não a
ser manipulada ou acreditará apenas nas boas intenções de quem a quer ajudar
nos seus intentos? Como também já referi, estou-me nas tintas para o facto de
haver ou não manipulação e se houver os grupos de pressão das renováveis, que
seja pelo bem da casa comum! Tomara que os veículos elétricos com uma maior
autonomia cheguem ao mercado em maior número e bem mais baratos! Havendo ou não
manipulação, será que não se consegue despir a camisola da clubite partidária e
ideológica (já sem qualquer ideologia no momento) e compreender que há de facto
urgência em mudarmos determinados comportamentos? A indústria tem de ser menos
poluente, mesmo que isso signifique menos lucro e todos nós devemos alterar uma
série de hábitos e deixarmos de desperdiçar recursos?
Estou francamente cansada de uma
clivagem oca entre esquerdas e direitas que cheiram a bafio! Não. Não defendo
regimes totalitários nem de esquerda nem de direita. Tanto abomino um Estaline
ou Maduro quanto um Franco ou Salazar. São opressores e sanguinários.
Interessar-me-ia bem mais que defendessem um partido HUMANISTA onde houvesse
uma gestão eficaz de recursos, onde não houvesse excedente na Europa e fome na
África, nalguns lugares da Ásia e também da América Central e do Sul! Gostaria
de um partido humanista em que a implementação do preço justo fosse viável,
onde a globalização dissesse não à exploração do trabalhador pelo patrão e pelo
Estado, através de uma carga fiscal incomportável, a fazer lembrar o sistema feudal,
apesar da democracia… Onde não houvesse corrupção que desgraça todas as nações,
onde nem tudo fosse público, porque a iniciativa privada é essencial, mas onde
houvesse séria regulamentação de mercado, onde a educação e saúde chegassem a
todos com qualidade e essas sim, absolutamente públicas! Onde o poder judicial funcionasse
de forma célere e isento, absolutamente distinto e longe do poder executivo! Onde
apesar da preocupação em fazer crescer a economia também se preservasse o ambiente,
onde todo o cidadão fosse efetivamente portador dos mesmos direitos e deveres! Onde
tudo fosse pensado em prol do bem comum e não do bolso de meia dúzia!
Em época de campanha, em vez de ver esquerdas,
direitas e centros preocupados com algumas questões de fundo, vejo-os impressionados
pelo ódio que destila o olhar de Greta e pela sua fausta refeição, enquanto é feita
refém de comunistas só de nome (quais Robles europeus!) que querem enriquecer com
as renováveis.
Enfim… “Gretinices”…
Nina M.
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