As surpresas da vida
Esta semana fui caracterizada com alguma frequência com dois
adjetivos: louca e corajosa. Refletindo serenamente nenhum dos dois se adequa.
O motivo reside no facto de termos decidido acolher uma jovem
estudante italiana. Seremos os seus tutores ou pais adotivos durante este ano
letivo. Exige responsabilidade, como é óbvio, e talvez por isso a loucura e a
coragem sejam as duas palavras que ocorreram prontamente a quem o soube. Nunca
neguei a minha boa dose de loucura! Coragem… Só às vezes… Porém, não se trata
nem de uma coisa nem de outra. A AFS (associação que promove a
interculturalidade entre os jovens) trata do essencial. Tudo é feito com
organização e zelo. Na verdade, a decisão não requer, por isso, grande coragem.
Exige, no entanto, outro pressuposto: vontade de acolher, de ser afetuoso e de
amar. A partir do momento que a decisão foi tomada, restou-nos tratar de tudo
para que a nossa nova menina se sinta em casa. Ainda não a conhecemos, mas
acontecerá muito em breve e estamos todos ansiosos. A alegria dos meus filhos, que
querem ter uma mana adotiva durante um ano e que será, com toda a certeza, para
uma vida, mesmo que a distância física se imponha, é genuína e comovente.
Há afeto de sobra em minha casa e orgulho-me disso. Aos meus
filhos não lhes chegam os primos nem amigos, gostam de ter sempre a casa cheia
e quando lhes foi colocada a possibilidade de acolherem uma jovem durante um
ano, rejubilaram de felicidade, com manifestações inequívocas de satisfação.
Vivemos o estado dos que sabem que vão ser pais. Ainda não conhecem a criança,
mas já a acolheram com todo o amor. Depois, o afeto gera afeto e quanto mais se
repassa mais ele cresce e se torna numa fonte inesgotável. Gosto genuinamente
de acolher e acredito que a felicidade de dar é maior do que a de receber. É uma
oportunidade de promover o intercâmbio cultural aos meus pequenos. Aprenderão a
respeitar, a conviver e a valorizar as diversidades culturais, a querer bem a
quem é diferente, a receber influências de uma cultura e de uma língua que admiro
e estimo, sem saírem de casa. Parece-me, portanto, que teremos muito a ganhar e
bem pouco com que nos preocuparmos. Será uma experiência única e enriquecedora para
todos. Saber fazer das diferenças laços é essencial. Será um ano diferente, com
quebra de rotinas e adaptação a uma nova realidade. No final, farei o balanço que
será muito positivo para ambas as partes, com toda a certeza.
O amor que vem do coração é tão bom quanto o que vem do ventre.
Benvenuta, Gaia!
Nina M.
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