Mulher, Criatura Divina
Recentemente, celebrou-se o dia da mulher. Não gosto
particularmente desses dias definidos para celebrar o que quer que seja, por
ficar com a sensação de que se é necessário celebrar é porque ainda é esquecido
algo que não deveria ser.
Ninguém é mulher, namorada ou mãe
apenas num dia particular ! É-o todos os dias e, como tal, merece ser
lembrada por esse facto diariamente, para não correr o risco de ser reconhecida
apenas uma vez no ano !
As estatísticas corroboram esta
ideia. Infelizmente, as agressões diárias a mulheres continuam a existir. Por
serem mais frágeis, sofrem os abusos em silêncio, por pavor e como se os
merecessem ! Talvez devesse iniciar o texto, começando por dizer que nada,
mas absolutamente nada, justifica tal cobardia. A violência é sempre, sob todas
as suas formas, condenável. Ponto. Torna-se pior, quando uma das partes se
impõe pela força física, que a sua condição masculina atribui. É execrável,
hediondo e homenzinho sem escrúpulos todo aquele que o faz. Parece-me bem que
se sente tão diminuído e inferior em tantos outros outros domínios, que lhe
sobra apenas a bruteza como forma de mostrar uma suposta superioridade que não
existe !
Irrita-me sobremaneira que em
pleno século XXI ainda haja mortes sucessivas por violência doméstica e que a
justiça seja tão branda com o agressor, penalizando duplamente a mulher. Mesmo
quando esta tem a coragem de quebrar com o ciclo de violência, normalmente, é
ela quem sai de casa, quem leva os filhos à socapa e se esconde, ficando longe
da própria família para não ser descoberta. Como se a mulher fosse um objeto
que vem com título de propriedade ! Nem mesmo o matrimónio confere registo
de possessão ou usucapião ! A mulher é livre de permanecer se assim o
entender e desejar, uma vez que é um ser humano com vontade própria. Para quem
gostar de citações bíblicas, a mulher terá sido feita da costela do homem para
caminhar ao seu lado e não da mão ou do pé, para que este nem a subjugasse nem
a pisasse !
Irrito-me mais ainda com algumas
mulheres que pela postura e crença assumidas acabam por subscrever a sua suposta
inferioridade ! Sei que as mudanças culturais são lentas, mas é necessário
quebrar este ciclo com urgência !
Mulher pode e deve trabalhar fora de casa, se
quiser ; pode ter filhos apenas se quiser e não porque é o seu
papel ; pode ser mecânica ou engenheira ou pedreira ou cozinheira ou
costureira, e até doméstica, se essa for a sua vontade, mas apenas porque é a
sua vontade e não uma imposição familiar ou social!
Choca-me que mulheres instruídas
sejam capazes de dar tiros nos próprios pés e ponham em causa valores
pelos quais outras lutam desde sempre !
Li um artigo de opinião da Dra.
Joana Bento Rodrigues, médica de profissão, mebro do TEM (Tendência Esperança
em Movimento), em que se definia como « anti-feminista » por estas
rejeitarem o potencial feminino, matrimonial e maternal, tecendo um conjunto de
argumentos de que a mulher é por natureza « talhada » para a
decoração e o gosto pela organização e arrumação, incluindo de si mesma
(potencial feminino) ; para o matrimónio, gostando de ficar muitas vezes
na sombra, abdicando de uma carreira, cuidando de tudo, para que o marido possa
dedicar-se em exclusivo à profissão e ter sucesso profissional. Chegou mesmo a
dizer que as mulheres não se importam de receber menos pelo mesmo trabalho
efetuado por um homem ! Por fim, naturalmente, a mulher não abdica do seu
papel de mãe. Ora, as feministas, segundo a Dra. Joana Rodrigues contrariam
todos estes pressupostos e, portanto, rejeitam a sua condição de
mulheres !
A perplexidade e a indignação
tomaram conta das minhas entranhas, que por acaso já acolheram dois seres e os
expeliram para o mundo, mas apenas porque tive vontade de ser mãe !
Efetivamente, quis esse papel. Escolha que fiz, Doutora Joana, e não imposição
social ! E onde vai buscar o gosto pela organização e arrumação e blá,
blá, blá ?!... Pois sou mulher, não sou feminista, mas feminina, e detesto
arrumações ! A minha condição feminina não me trouxe com qualquer apelo
especial pelas tarefas domésticas, especialmente, as que obrigam precisamente a
arrumar ! Irra, que nervos ! Até suo sem as executar ! Saiba que
as faço. Faço de tudo em casa, porque não gosto de viver num pardieiro !
Não por gostar especialmente desse trabalho ! E faço-o, porque é
necessário e tenho um companheiro de vida que é habitante da mesma casa e não
um hóspede e, como tal, também tem duas mãos, pelo que não ajuda, porque a sua
função não é ajudar é também fazer ! É da sua responsabilidade manter a
casa onde habita limpa e organizada ! Tanto quanto minha, porque ambos
trabalhamos ! Já agora, também nunca abdicaria do meu trabalho para apenas
tomar conta dos filhos ou da casa, porque seria castrador ! Quem decide o
que me preenche, satisfaz e me motiva sou eu e não papéis sociais
estereotipados ! E olhe que mesmo assim consigo arranjar tempo para os
meus filhos, ir buscá-los à escola (maioritariamente o pai) e evitar que
permaneçam mais do que o necessário nos depósitos de crianças em que as escolas
e ATL’s se transformaram. Sabe outra coisa, Dra. Joana ? Os meus filhos
são crianças felizes, apesar de a mãe trabalhar bastante !
Já agora, gostaria de saber por que
motivo não abdica da sua carreira ?! Ou será que abdicou dos filhos ?
E como médica, trabalhando o mesmo que um colega homem de profissão, não se importaria
de ganhar menos ?!
Não consigo entender como uma mulher
de hoje pode ter este discurso e acreditar nele !
O útero com que viemos ao mundo é
uma bênção ! Todos os homens vieram ao mundo pelas entranhas de uma mulher.
É fabuloso que o suposto sexo fraco seja aquele que é capaz de parir ! Como
disse, o útero é uma bênção e amor infinito, não deve ser castração de ninguém nem
das suas vontades ! Respeito !
Nina M.
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