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sábado, 11 de agosto de 2018

Crónica de Maus Costumes 94



Já por diversas vezes abordei o facto de a vida poder ser bastante cínica e que  cabe, a cada um de nós, o papel de resistir ao cinismo, sob pena de nos tornarmos pessoas amarguradas e infelizes.
Pois bem, a vida também é capaz de nos agraciar, em certos momentos, com verdadeiros presentes, porém, é preciso estar alerta, pois, por vezes, estes estão ao serviço de um cinismo torpe e dissimulado, porquanto a vida tanto nos presenteia quanto nos sonega pouco tempo depois a prenda dada. Não se faz.
Acontece amiúde com pessoas que vão entrando, fruto das circunstâncias, alma dentro e que, pouco depois, fruto também das circunstâncias, acontece uma separação.
É certo que temos todos os meios à disposição para evitar que aqueles de quem gostamos verdadeiramente não saiam jamais de nossas vidas, no entanto, não é menos verdade que o ritmo tão alucinado e corrido das nossas existências dificultam a tarefa. É o telefonema, o e-mail, a mensagem, o café ou o jantar que se vai adiando e, na verdade, estamos a adiar uma série de vivências, de partilhas e de afetos que, se não forem cuidados e regados com amor, se irão desvanecer.
É certo que há laços mais resistentes às intempéries, mas se não dermos de nós, mesmo esses correm o risco de ficarem estagnados num tempo que já não volta, que já foi, mas já não é e que, se não for alimentado, perecerá por falta de porvir.
Sou uma colecionadora de almas e há algumas que comporto comigo sempre e continuam a viver em mim, porque gosto de as cuidar e de as mimar. Admito não fazê-lo tanto quanto seria desejável, mas vou fazendo os possíveis para que essas vão permanecendo comigo.
Há algumas tão especiais que nos fazem crescer, progredir e atingir uma versão melhorada de nós mesmos e, por isso, seria um erro fatal perdê-las pelo caminho. Recuso-me terminantemente a desperdiçá-las.
Quero-as comigo sempre. Sou ambiciosa e talvez até um pouco egoísta.
Assim, se no caminho, receberem uma mensagem, um comentário, um telefonema, é apenas uma colecionadora que não vos quer deixar partir.

Nina M.

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