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terça-feira, 7 de setembro de 2021

Crónica de Maus Costumes 244

 

Revisitações

Hoje, viajei no tempo. Adentrei nas minhas memórias e adentrei na História do país. Recuei 20 anos e em simultâneo remontei à época dos romanos.

Visitei a belíssima Acqua Flaviae e descobri-lhe outro olhar. Ferida pelo Tâmega, erige-se colina acima, mantendo parte das suas muralhas históricas, a lembrar séculos de vigilância do alto da sua torre. Intocável e invencível. Qual coroa cimeira com a cidadela de vielas estreitas e casario colorido (a lembrar-me a beleza da Ribeira, da Invicta. Só Florença me causa essa impressão).

Hoje, não fui ao "quarto escuro" nem ao Faustino e nem ao "Ar de bar" nem à "Livreiro" (a livraria que era do costume). Não deixei de sorrir ao perceber ainda a existência de "O Príncipe" e de o "A romana". Lugares frequentados em tempos e que se mantêm de pé, apesar do tempo, a lembrar a minha própria duração...

Hoje, Chaves tinha outra luz e outro olhar... O sol brilhava a pique, cruzado com o brilho dos olhos dos meus filhos... Sem a neblina terrível de inverno que a gelam e a tornam agreste. Hoje, o sol queimava a ponte romana de Trajano, intacta, solene e altiva. Bastião do império e um dos baluartes flavienses, a par com o Forte de S. Francisco... Guardiões de uma História rica de valentia e de episódios castiços... Repentinamente, eram as segundas Invasões Francesas ou a implantação da República. Só no resto de Portugal, porque à cidade fronteiriça ela (a República) chegaria apenas dois anos mais tarde e, mesmo assim, Paiva Couceiro não descansou e tentou inverter a História. Os Paços da Cidade a ladear a grande torre, de frente para a praça e para as vielas, vigilantes, a ver quem passa. Aos pés, o espelho de água, as poldras, as Caldas, enfeitados pelo verde dos belíssimos jardins e parques... A casa onde outrora vivi, com o meu nome inscrito, como se aguardasse a visita que tardou... 

A cidade estava mais bela ou o meu olhar mais atento e melancólico. Um tempo que não volta, mas que se inscreveu na memória... E esta, sempre seletiva, escolhe guardar as boas recordações. Recordar é viver, porque significa literalmente voltar ao coração.

Quem não a conhece não sabe o que perde.

Há cidades pequeninas lindíssimas e acolhedoras, no nosso país. Chaves é uma delas e merece que lhe pousem o olhar.

Nina M.


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